São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2000

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TECNOLOGIA
Estudada há quatro anos na USP, fecundação in vitro chega à fazenda para aumentar produção do rebanho
Vaca deve produzir 1 bezerro por semana

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Peão pantaneiro conduz boiada em estrada de Mato Grosso do Sul, maior produtor de carne do país; fecundação in vitro, que chegou ao Estado, vai permitir melhorar a qualidade do gado comercial


SEBASTIÃO NASCIMENTO
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE

Pela lei da natureza, a vaca dá uma cria ao ano. A técnica da transferência de embrião permite que ela produza um bezerro ao mês. Já a tecnologia denominada fecundação in vitro, que está saindo do laboratório para as fazendas, deverá propiciar à matriz produzir um filho por semana.
Ainda por meio dessa técnica, estudada há quatro anos na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, o fazendeiro vai alongar em pelo menos cinco anos a capacidade de uma vaca de elite fornecer material genético.
No Brasil, é comum uma matriz nelore de qualidade gerar embriões por mais ou menos 15 anos. Com a fecundação in vitro, o pecuarista poderá aumentar o seu ganho com a venda de genética, já que determinada vaca produzirá por mais tempo.
Em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, a fecundação in vitro já foi implantada em escala comercial. A 60 km da capital, em Terenos, a Sete Estrelas Embriões, do empresário urbano e pecuarista Oswaldo Possari, possui 500 matrizes nelore de elite, das quais 250 são doadoras potenciais de embrião. Atualmente, 150 estão em fase de produção.
Dessas 250 fêmeas doadoras, apenas 15 de idade entre 15 anos e 20 anos são usadas para a fecundação in vitro, o que mostra que a experiência ainda engatinha.
Se for considerada a produção total da Sete Estrelas, ela alcança 3.000 prenhezes ao ano, sendo 1.500 delas nelore, o que a coloca entre as maiores centrais brasileiras de transferência de embrião.
Possari já investiu US$ 7 milhões na Sete Estrelas desde o início, em 1989, com a compra da terra, a formação do rebanho, as pastagens e os laboratórios.
""A grande vantagem da fecundação in vitro é econômica. Com a transferência de embrião, uma boa vaca consegue produzir no máximo até os 15 anos de idade. Usando a técnica, ela produzirá pelo menos até os 20", explica.
Nas duas técnicas, os filhos não se desenvolvem na barriga da matriz de alta qualidade, que é muito cara.
Os embriões são transferidos para as chamadas receptoras, ou ""mães de aluguel", que os parem sem transmitir nenhuma característica genética aos bezerrinhos.
José Antonio Vizintin, professor da disciplina de reprodução animal há 20 anos na USP, afirma que a fecundação in vitro permite realmente que as matrizes velhas e de qualidade sejam aproveitadas por mais tempo.
""Em vez de a vaca produzir o embrião, eu o produzo no laboratório", afirma ele.
Vizintin adianta ainda que o método vai permitir que a fêmea produza até uma cria por semana. ""A ovulação de uma vaca dura mais de um mês, em média. In vitro é possível retirar oócitos até duas vezes por semana."
O processo é feito da seguinte maneira na Sete Estrelas: os oócitos, que são células precursoras do óvulo, são aspirados por meio de ultra-som do ovário das vacas.
""Depois, eles são amadurecidos em um laboratório na cidade de Ribeirão Preto até virarem óvulos", explica Leandro Fregonesi, agrônomo e gerente da empresa.
Na sequência, diz Fregonesi, o sêmen do touro de preferência do criador é aspergido sobre o óvulo. Sete dias depois, o embrião segue para a Sete Estrelas e é implantado na "mãe de aluguel".
Pelo método da transferência de embrião, o sêmen do reprodutor é colocado diretamente no ovário das vacas. Após a fecundação, o embrião é retirado e transferido para a fêmea receptora.
A diferença, como explicou o professor Visintin, é que por meio da técnica in vitro, consegue-se retirar os oócitos dos ovários até duas vezes por semana, e o embrião nasce no laboratório.
Visintin diz que a taxa de prenhez após o implante do embrião na receptora é de 60% a 70%.
Enxerga, porém, uma pedra no caminho da tecnologia. ""É a dificuldade de congelar o embrião devido à taxa elevada de gordura", afirma o professor.


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