São Paulo, terça-feira, 29 de fevereiro de 2000


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ILHA DE MARAJÓ
Empresa do Pará vai exportar produção de comunidades ribeirinhas para a Europa e os EUA
Açaí marajoara quer ganhar o mundo

Jorge Araújo/Folha Imagem
Os irmãos Anderson, 16, e Alex Oliveira da Silva, 10, com balaios de açaí recém-colhido, às margens do rio Cajubinha, na região de Muaná, um dos 12 municípios que compõem a Ilha de Marajó


ROBERTO DE OLIVEIRA
enviado especial à Ilha de Marajó

A força da religiosidade não conteve a ironia dos vizinhos de Alex Oliveira da Silva, 10, que o apelidaram de Capeta por suas estripulias de moleque ribeirinho. Aos 2 anos, mal saído das fraldas, Capeta ensaiava as primeiras braçadas nas águas barrentas do rio Cajubinha. Aos 5, já trepava em palmeiras atrás de açaí.
Na região de Muaná, um dos 12 municípios da Ilha de Marajó, ninguém ralha com essas travessuras. Saber nadar é uma habilidade indispensável, uma questão de sobrevivência, assim como subir nas árvores à cata do açaí, alimento básico na dieta marajoara.
Natural dos solos ricos em material orgânico da Amazônia, a fruta faz parte do dia-a-dia de ribeirinhos, ilhéus e paraenses.
A polpa macerada, in natura ou misturada à farinha de mandioca, acompanha todas as refeições, do café da manhã ao jantar.
Para surpresa dos próprios marajoaras, a pequena frutinha da floresta virou moda, há dois anos, em grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente entre os esportistas, por conta de suas propriedades energéticas, e espalhou-se em outras regiões do país.
Agora, a tradição paraense pode ganhar o mundo, por meio de um projeto que pretende transformar o açaí em uma espécie de fruta-símbolo da preservação da floresta amazônica.
Com recursos (US$ 1,1 milhão) do Fundo Terra Capital, organização internacional que destina verbas do Banco Mundial, do Japão e da Suíça a projetos industriais que contribuam para a preservação do meio ambiente, a Muaná Alimentos vai iniciar em 2001 a exportação de polpa concentrada de açaí para os EUA e para a Europa.
A empresa, que mantém há seis anos uma fábrica em Muaná (80 km de Belém), faturou US$ 4 milhões no ano passado com a produção de 540 t de palmito (1,8 milhão de potes de 300 g) e 250 t de açaí em polpa.
Emprega cem funcionários na fábrica em Muaná e compra palmito de açaí e açaí de cerca de 60 produtores da Ilha de Marajó.
A meta da Muaná Alimentos é triplicar o faturamento até 2003, com a produção de 1.800 t de polpa de açaí e 1.200 t de palmito.
Os recursos do Fundo Terra Capital são administrados pelo Banco Axial, de São Paulo, que gerencia investimentos para financiar projetos ambientais.
Parte do dinheiro será destinada a projetos sociais nas comunidades ribeirinhas, como a manutenção de barcos para transportar as crianças para as escolas da ilha. Uma das preocupações do projeto é manter as crianças na escola.
Nas comunidades ribeirinhas, é comum os filhos ajudarem o pai na pesca e na colheita do açaí, hábito herdado das tribos indígenas.
Além disso, a empresa se compromete a comprar toda a produção dos pequenos agricultores de São Miguel do Pracuúba, distrito de Muaná, eliminando os atravessadores e repassando técnicas agrícolas aos produtores rurais.
Pelo contrato, a Muaná deve desenvolver métodos que garantam a biodiversidade da floresta, além de fornecer assistência técnica aos produtores de açaí.
Entre as técnicas repassadas pela empresa aos pequenos produtores, como os de São Miguel do Pracuúba, está a poda de antigas palmeiras de açaí, que apresentam baixa produtividade e oferecem riscos aos trabalhadores no momento da colheita da fruta.
Na região de Muaná, a empresa mantém uma área de 8.000 ha de açaizal, sendo 4.200 ha usados em manejo florestal, nos quais há 400 ha de preservação permanente, área que serve de referência para o trabalho de manutenção da biodiversidade na ilha.


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