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VAREJO
Supermercados esperam retração de compras com a alta
Preços do café sobem até 15% para o consumidor, diz Apas
free-lance para a Folha
A alta dos preços do café em
grão já está sendo refletida nas
prateleiras dos supermercados.
O presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados),
Omar Assaf, confirmou que as indústrias já reajustaram os preços
do produto torrado e moído entre
10% e 15% na última semana.
O aumento, segundo ele, já foi
integralmente repassado ao consumidor, o que deve acontecer cada vez que as indústrias reajustarem seus preços.
Assaf afirma, no entanto, não
ter certeza a respeito da sustentação dessa alta.
"Entendo que os preços do grão
realmente subiram no último
mês. Mas será que o consumidor
vai engolir o aumento?", diz.
Para Assaf, resta esperar pela
reação dos clientes. "A demanda é
que fará o preço."
A pesquisadora da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Maria Sylvia Machione
Saes, também tem dúvidas a respeito da assimilação da alta por
parte do consumidor.
"A crise é grande, e as pessoas
estão sem dinheiro. Acho que essa
alta é insustentável", diz.
Por enquanto, o IPC (Índice de
Preços ao Consumidor) da Fipe
ainda não reflete o reajuste.
Na terceira quadrissemana de
novembro, o preço do café torrado e moído no varejo teve um aumento de 1,42%, segundo Saes.
"Se o aumento de fato ocorreu,
e se ele se sustentar, o índice terá
elevações graduais", diz.
Repasse
As indústrias vêm apontando
há semanas a necessidade de um
reajuste dos preços do café torrado e moído no varejo.
Alegam estar encontrando dificuldades para se abastecer. No
auge da entressafra, e com a expectativa de quebra de produção
para o próximo ano, não há café
em quantidade suficiente disponível no mercado.
Segundo as empresas, os poucos produtores que têm o grão
disponível estão segurando seus
estoques, na expectativa de futuras altas nos preços.
De acordo com o Sindicafé (Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo), no último dia
17, os cafés mais comuns tinham
ofertas de até R$ 200/saca.
O valor representa uma alta de
52,6% em relação aos preços praticados em outubro.
Como a matéria-prima representa cerca de 60% da composição final dos preços, as indústrias
afirmam ser necessário um reajuste de 35% nos preços do café
torrado e moído no varejo.
O presidente da Apas, Omar Assaf, rechaça essa possibilidade.
"Um aumento desse nível seria
inviável", diz.
Nathan Herszcowicz, presidente do Sindicafé, afirma, porém,
que a alta pode acontecer.
"Um reajuste maior só está sendo evitado no momento porque o
governo decidiu aumentar a oferta dos leilões dos estoques públicos", diz o dirigente.
Ontem, o governo promoveu
um leilão extra de 250 mil sacas de
café. Com isso, a oferta no mês
chegou a 420 mil sacas.
Este ano, a média dos leilões dos
estoques públicos vinha sendo de
130 mil sacas/mês.
Apesar do aumento na oferta
prevista para novembro, as indústrias não se dizem satisfeitas.
Querem também um leilão mais
gordo para dezembro.
O secretário-geral da Abic (Associação Brasileira da Indústria
de Café), David Nahum Neto,
afirma que o setor está em negociação com o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes.
Para ele, o próximo leilão deve
ter uma oferta de, pelo menos,
300 mil sacas. O volume, diz, possibilitaria um reajuste "mais contido" dos preços no varejo e daria
fôlego ainda para que as indústrias pudessem se abastecer.
"Teremos dificuldades no abastecimento durante os próximos
quatro meses", diz.
O mercado deve ficar ainda
mais nervoso em dezembro, com
a divulgação das previsões da safra da Embrapa - o número oficial do governo brasileiro - e do
USDA (Departamento da Agricultura dos Estados Unidos). Os
números costumam se chocar.
As estimativas dos EUA para a
produção brasileira apontam, geralmente, para safras mais cheias
(sinal de preços menores para as
torrefatoras locais).
As brasileiras, por sua vez, indicam safras menores, sinalizando
elevação nos preços do grão -
produto de exportação - e, consequentemente, ganhos para a balança comercial do país.
(FEM)
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