São Paulo, Terça-feira, 30 de Novembro de 1999


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VAREJO
Supermercados esperam retração de compras com a alta
Preços do café sobem até 15% para o consumidor, diz Apas

free-lance para a Folha

A alta dos preços do café em grão já está sendo refletida nas prateleiras dos supermercados.
O presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), Omar Assaf, confirmou que as indústrias já reajustaram os preços do produto torrado e moído entre 10% e 15% na última semana.
O aumento, segundo ele, já foi integralmente repassado ao consumidor, o que deve acontecer cada vez que as indústrias reajustarem seus preços.
Assaf afirma, no entanto, não ter certeza a respeito da sustentação dessa alta.
"Entendo que os preços do grão realmente subiram no último mês. Mas será que o consumidor vai engolir o aumento?", diz.
Para Assaf, resta esperar pela reação dos clientes. "A demanda é que fará o preço."
A pesquisadora da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Maria Sylvia Machione Saes, também tem dúvidas a respeito da assimilação da alta por parte do consumidor.
"A crise é grande, e as pessoas estão sem dinheiro. Acho que essa alta é insustentável", diz.
Por enquanto, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe ainda não reflete o reajuste.
Na terceira quadrissemana de novembro, o preço do café torrado e moído no varejo teve um aumento de 1,42%, segundo Saes.
"Se o aumento de fato ocorreu, e se ele se sustentar, o índice terá elevações graduais", diz.

Repasse
As indústrias vêm apontando há semanas a necessidade de um reajuste dos preços do café torrado e moído no varejo.
Alegam estar encontrando dificuldades para se abastecer. No auge da entressafra, e com a expectativa de quebra de produção para o próximo ano, não há café em quantidade suficiente disponível no mercado.
Segundo as empresas, os poucos produtores que têm o grão disponível estão segurando seus estoques, na expectativa de futuras altas nos preços.
De acordo com o Sindicafé (Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo), no último dia 17, os cafés mais comuns tinham ofertas de até R$ 200/saca.
O valor representa uma alta de 52,6% em relação aos preços praticados em outubro.
Como a matéria-prima representa cerca de 60% da composição final dos preços, as indústrias afirmam ser necessário um reajuste de 35% nos preços do café torrado e moído no varejo.
O presidente da Apas, Omar Assaf, rechaça essa possibilidade. "Um aumento desse nível seria inviável", diz.
Nathan Herszcowicz, presidente do Sindicafé, afirma, porém, que a alta pode acontecer.
"Um reajuste maior só está sendo evitado no momento porque o governo decidiu aumentar a oferta dos leilões dos estoques públicos", diz o dirigente.
Ontem, o governo promoveu um leilão extra de 250 mil sacas de café. Com isso, a oferta no mês chegou a 420 mil sacas.
Este ano, a média dos leilões dos estoques públicos vinha sendo de 130 mil sacas/mês.
Apesar do aumento na oferta prevista para novembro, as indústrias não se dizem satisfeitas. Querem também um leilão mais gordo para dezembro.
O secretário-geral da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), David Nahum Neto, afirma que o setor está em negociação com o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes.
Para ele, o próximo leilão deve ter uma oferta de, pelo menos, 300 mil sacas. O volume, diz, possibilitaria um reajuste "mais contido" dos preços no varejo e daria fôlego ainda para que as indústrias pudessem se abastecer.
"Teremos dificuldades no abastecimento durante os próximos quatro meses", diz.
O mercado deve ficar ainda mais nervoso em dezembro, com a divulgação das previsões da safra da Embrapa - o número oficial do governo brasileiro - e do USDA (Departamento da Agricultura dos Estados Unidos). Os números costumam se chocar.
As estimativas dos EUA para a produção brasileira apontam, geralmente, para safras mais cheias (sinal de preços menores para as torrefatoras locais).
As brasileiras, por sua vez, indicam safras menores, sinalizando elevação nos preços do grão - produto de exportação - e, consequentemente, ganhos para a balança comercial do país. (FEM)



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