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BRASIL DESIGUAL
Pesquisa diz que na área rural já há menos pobres que nas cidades
Queda da pobreza é maior no campo que nas metrópoles
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
No campo, mais prosperidade,
ainda que a pobreza persista. Nas
cidades grandes, uma redução
mais lenta da miséria. Esse é o retrato da evolução da pobreza e da
indigência no país, traçado por
estudo da economista Sônia Rocha, com base em dados da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios).
Dados inéditos da pesquisa do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que
o percentual de pobres em relação
ao total da população baixou de
44,3%, em 1992, para 38,7%, em
2004, nas metrópoles. Em 2003,
primeiro ano do governo Lula, o
percentual era de 39,8%.
Nas áreas rurais (historicamente mais pobres), a pobreza caiu de
52,7%, em 1992, para 35,4%, em
2004. Em 2003, o percentual de
pobres na área rural em relação ao
total da população era de 39,5%
-embora fosse levemente inferior ao verificado nas metrópoles,
a diferença de apenas 0,3 ponto
percentual não permitia verificar
com exatidão uma mudança de
tendência. Essa diferença, todavia, se aprofundou em 2004.
No campo, ainda viviam, em
2004, proporcionalmente mais
indigentes -13 ,3% da população
rural, contra 7,9% nas metrópoles. Em 1992, 11,9% das pessoas
que moravam em áreas rurais não
conseguiam nem sequer comprar
comida suficiente para satisfazer
as necessidades diárias de cerca
de 2.200 calorias -parâmetro estabelecido como o mínimo necessário, seguindo orientação da
FAO (Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e a Alimentação). Já nas metrópoles o
percentual de indigentes era de
30,5% em 2004.
"Redução drástica"
Ao todo, a proporção de pobres
no Brasil cedeu de 44% em 1992
para 35,6% em 2003 e continuou
em queda em 2004 -para 33,2%.
"Foi uma redução drástica", diz
Rocha. No caso da indigência, o
percentual caiu de 16,6% em 1992
para 10% em 2003. Baixou mais
dois pontos em 2004, alcançando
8%. "Os resultados revelam uma
redução inequívoca da pobreza e
da indigência [no país]", afirma.
Geração forte de postos de trabalho, comportamento favorável
do mercado de trabalho, expansão do número de pessoas atendidas por benefícios assistenciais do
governo (e o aumento do valor
pago às famílias) e a política de
valorização do salário mínimo explicam, de modo geral, e mais
particularmente à queda da miséria em áreas rurais. Mais sensíveis
aos problemas do mercado de trabalho, os grandes centros sofrem
com o empobrecimento.
"Naturalmente a queda mais
sustentada e também mais acentuada da proporção de pobres e
de indigentes nas áreas rurais,
aliada à redução da população rural, fazem com que a pobreza e a
indigência no Brasil sejam crescentemente fenômenos urbanos e
metropolitanos", afirma Rocha.
Para ela, o crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) em 2004
-5,2%- também ajudou a reduzir a pobreza. "O forte crescimento de 2004 teve efeitos positivos sobre os níveis de emprego e
renda das famílias. Além disso, os
indicadores de pobreza e indigência vêm sendo favoravelmente
afetados pelas políticas públicas
relativas a aposentadorias e pensões, assim como pelos mecanismos de renda focados nos mais
pobres [como o Bolsa-Família]."
Nas áreas urbanas (entendidas
como cidades fora da influência
das metrópoles), a pobreza também caiu mais lentamente, como
revelam os dados da Pnad. Em
1992, o percentual de pobres era
de 40,2%. O número caiu para
29,5% no ano retrasado.
Para Rocha, diminuir mais rapidamente a miséria e a pobreza no
campo é algo positivo e natural.
Pois é lá que estão os mais pobres
dos pobres, diz. "Naturalmente os
3,3 milhões de indigentes rurais
são a clientela prioritária para o
atendimento pelas políticas públicas porque não somente apresentam condições críticas de renda,
mas também carências de acesso
a serviços básicos a que são submetidos os mais pobres que moram em áreas rurais", afirma.
O que não seria "natural" é uma
evolução negativa nos grandes
centros. "Considerando separadamente as áreas metropolitanas,
urbanas e rurais, a melhoria em
2004 foi mais tênue nas áreas metropolitanas, o que na verdade
tem sido o padrão de toda a década de 90, com exceção ao período
imediatamente após o Plano
Real", diz a Rocha.
Para ela, o Brasil ainda não vive
nos melhores dos mundos, mas
está avançando. "Embora uma
queda mais rápida e mais acentuada dos indicadores fosse desejável, os resultados mais favoráveis obtidos em relação à indigência indicam que, como desejável,
as situações mais críticas estão
sendo atendidas", diz Rocha.
Apesar dos números indicando
a diminuição da pobreza no país,
estudo do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento)
divulgado pela Folha indica que o
rendimento médio dos trabalhadores que se encontram entre os
10% mais pobres da população
brasileira caiu 39,6% entre 1995 e
2004. Ao mesmo tempo, aumentou a dependência desses cidadãos aos programas sociais do governo, indicando que a diminuição da distância entre ricos e pobres não foi gerada pela dinâmica
da economia.
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