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HISTÓRIA
Em 61, falta de estrutura de Brasília impedia festa maior; em 99, crise dita cerimonial
FHC repete posse simples de Jânio
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
A primeira posse presidencial
em Brasília e a de hoje têm em comum a discrição das suas festividades, independentemente da
vontade de seus personagens
principais.
Em 1961, a falta de condições físicas da recém-inaugurada capital para receber grandes delegações estrangeiras motivou a modéstia.
Em 1999, a crise econômica e o
fato de não ocorrer a transmissão
de cargo de um presidente para
outro justificam a simplicidade.
Nos dois casos, ao contrário da
tradição latino-americana, nenhum chefe de Estado estrangeiro foi convidado a vir a Brasília.
O embaixador Raul de Vincenzi, 80, na época chefe do Cerimonial do Itamaraty, disse à Folha
que teve "muito trabalho" para
convencer o presidente Juscelino
Kubitschek de que seria "impossível" receber convidados estrangeiros.
A cidade tinha apenas três hotéis em funcionamento: o Nacional, o Brasília e os "hotéis da Caixa". Só os dois primeiros tinham
condições de receber convidados
de honra.
Assim, decidiu-se que apenas
embaixadores no Brasil, suas
mulheres e um secretário para
cada seriam convidados.
Mesmo assim, houve problemas. Quando o embaixador português, Manuel Rocheta, chegou
ao seu apartamento, achou-o
ocupado.
Um deputado havia obrigado o
gerente a cedê-lo a dois jornalistas norte-americanos amigos
seus.
De Vincenzi diz que fez o gerente arrumar as malas dos jornalistas e os deslocou do Brasília
para os hotéis da Caixa. Não sem
antes enfrentar a ira do deputado
(que ele não identificou), que
chegou a puxar uma arma para
ameaçá-lo.
Os portugueses não deram
muita sorte. O secretário Castello
Branco, que acompanhava Rocheta, ganhou um apartamento
que ainda estava inacabado: chuveiro e torneiras não estavam
instaladas quando ele chegou.
Mas, à noite, já estavam lá e funcionando.
A transmissão de cargo de Juscelino para Jânio foi a primeira
feita em público no Brasil. Antes,
ela se realizava numa pequena
sala no Palácio do Catete, no Rio.
Os presidentes e o vice (João
Goulart, que havia sido reeleito)
estavam de casaca, como determinava o protocolo (o presidente João Figueiredo aboliu o traje
nas funções de Estado em 1979).
Graças a Figueiredo, FHC hoje
estará apenas de terno. Por opção própria, vai deixar na garagem o Rolls-Royce conversível
que ele mesmo e Jânio usaram.
²
Discursos
FHC não vai discursar no parlatório, o que Jânio e Juscelino fizeram em 1961. Havia muito
mais gente na praça dos Três Poderes há 38 anos do que se prevê
para hoje. Sobre o parlatório,
com autorização do arquiteto
Oscar Niemeyer, foi colocado
um toldo para caso de chuva.
Choveu e fez muito calor em
Brasília em 30 de janeiro de 1961,
o dia da posse de Jânio. Nas solenidades a céu aberto, brilhava o
sol.
Na transmissão de cargo, os
jornalistas ocuparam palanque
provisório, idealizado por Niemeyer, em frente ao parlatório.
Na posse e diplomação, circularam livres.
Jânio tirou seu discurso da cartola. Falou pouco e foi gentil com
seu antecessor. À noite, no jantar
de gala no Palácio da Alvorada,
no entanto, fez muitas críticas a
Juscelino.
Quase tudo que foi servido no
banquete do Alvorada em 1961
veio do Rio. "Foi a primeira vez
que se comeu caviar no Planalto", lembra, divertido, de Vincenzi.
Embora tudo tenha dado certo
no jantar, houve um pequeno incidente: Jânio mandou que a comida fosse servida antes que seu
ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos, chegasse.
Arinos se atrasou 20 minutos
porque tentava resolver a crise
criada pela chegada ao Recife do
navio português Santa Maria,
com o líder anti-salazarista Henrique Galvão a bordo.
Não haverá banquete hoje. Os
cinco presidentes de países latino-americanos que manifestaram desejo de comparecer à posse de FHC serão recepcionados
em almoço na segunda-feira próxima.
A faixa que FHC vai colocar em
si próprio hoje foi feita em agosto
de 1997 porque a anterior, usada
por José Sarney e Itamar Franco,
estava apertada demais nele.
Diz-se, sem confirmação, que
Jânio levou consigo para a Europa, após renunciar em agosto de
1961, a faixa que JK lhe passara, a
mesma usada desde sua instituição, em 1910, por Hermes da
Fonseca.
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