São Paulo, Terça-feira, 01 de Fevereiro de 2000


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INVESTIGAÇÃO
Comissão fará pedido à Receita
CPI quer devassa nas contas de Martins


da Sucursal do Rio

A CPI do Narcotráfico vai pedir à Receita Federal que faça uma devassa nas contas bancárias de um de seus membros: o deputado federal Wanderley Martins (PDT-RJ), investigado pela comissão sob as acusações de envolvimento com o tráfico de armas e drogas.
O objetivo é esclarecer a origem da movimentação financeira do deputado entre 92 e 95. Documentos obtidos pela CPI mostram que a movimentação bancária de Martins nesse período era até 1.138% superior a seu salário de delegado da Polícia Federal.
A primeira investigação contra Martins é de corrupção passiva, por causa de um depósito no valor de US$ 2,6 mil feito em 1992 na conta bancária do então delegado da PF pelo doleiro libanês radicado no Rio Elias Khanaan.
O doleiro responde a um processo por tráfico de armas para o Oriente Médio e é um dos suspeitos do homicídio, em 95, do libanês Nasser Beydoun, suspeito de intermediar negociações de armas entre governos. O próprio irmão de Nasser, Nader, disse que o morto recebeu US$ 1,8 milhão do governo dos EUA por ter colaborado com informações sobre um traficante de armas chileno.
Khanaan -que nega o assassinato e o tráfico de armas- disse que trocou dólares para Martins e depositou o dinheiro em sua conta a pedido de um outro delegado da PF, Aloísio Borba, seu amigo e cliente. Confirmou a ""explicação" que Martins fornecera à CPI.
Khanaan disse também que, em 92, trocou dólares para um grupo de policiais federais que lhe foram apresentados por Borba. Um desses policiais, o escrivão Paulo Melo, depôs e disse que, embora trocar dólares fosse ilegal, fazia aquilo porque a época era de inflação.
Disse também que Khanaan recebia autoridades libanesas no Rio e tinha amizades com integrantes do governo do Rio e do alto escalão da PF. Segundo Melo, Khanaan juntou empresários libaneses para colaborar financeiramente com a instalação do escritório da Interpol no Rio em 93.
Borba, internado em um hospital em Copacabana, também foi ouvido e também contou a história da troca de dólares.
Para os deputados, ainda não há prova que ligue Martins ao tráfico de armas. "Até agora, o que pode haver contra ele é a acusação de ter trocado dólares, e isso seria crime contra o sistema financeiro", disse o deputado Eber Silva (PDT-RJ), o mais convencido da inocência de Martins.
Martins disse ontem que está disposto a abrir toda sua movimentação financeira a seus colegas da CPI. ""Quero esclarecer tudo. Sou inocente e vou resistir até a última gota de sangue", disse.
Martins disse que algumas somas de dinheiro que aparecem em suas contas resultam de empréstimos feitos por ele. Segundo o deputado, um depósito de R$ 20 mil, por exemplo, se deve a um empréstimo que ele contraiu junto ao Banco Mercantil de Crédito.
(FERNANDA DA ESCÓSSIA)


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