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"Grampo" em reunião gera crise no PT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A gravação de parte da reunião
da bancada petista no Congresso
com Antonio Palocci Filho gerou
uma crise no PT e aumentou o
grau de desconforto do ministro
da Fazenda em relação às cobranças que recebeu. A cúpula do PT
suspeita que um deputado federal
da Bahia tenha sido o autor da
gravação, que foi entregue à
Agência Estado.
Quando soube fora gravado e
que a fita fora entregue a um jornal, Palocci se sentiu "grampeado", segundo relato de petistas
que falaram com o ministro a respeito do episódio. O presidente
do PT, José Genoino, e o líder do
partido na Câmara, Nelson Pellegrino, também se sentiram traídos, pois a reunião era fechada ao
público. "Houve quebra de confiança. Isso nunca aconteceu antes e deixa mal o PT", disse Genoino a interlocutores.
Desde o meio da tarde, quando
apareceram as primeiras versões
na internet sobre a reunião com o
discurso de Palocci, que respondeu duramente a críticas à sua política econômica, a cúpula do PT
tentou abrandar os relatos sobre o
clima da reunião.
O "grampo", segundo um dos
dirigentes do PT, será desmoralizante para o partido, pois nenhum ministro a partir de agora
terá confiança para falar reservadamente com petistas, ainda mais
num grupo amplo. Participaram
mais de 70 congressistas do PT.
Na reunião, a bancada reclamou de ser tratada a pão e água
no que se refere a informações sobre as decisões econômicas do
novo governo. Palocci foi incisivo,
pedindo que oferecessem alternativas: "Se tiverem receita melhor,
me passem".
Alguns congressistas deixaram
a reunião no meio por discordar
do pouco tempo para debater
com Palocci e do formato da discussão, que permitiu apenas dez
perguntas, por sorteio.
Até agora, uma minoria compõe o coro dos realmente descontentes. Nesse grupo estão a senadora Heloísa Helena (AL) e a deputada federal Maria José Maninha (DF), por exemplo.
Mas a maioria tem também
uma reclamação: a de não estar
sendo ouvida. Mas nesse grupo
imperou o silêncio público para
não melindrar Palocci. E Genoino
teve de fazer as vezes de bombeiro, entrando e saindo da reunião.
"O PT deve revisitar as suas decisões do último encontro nacional, que são diferentes da política
econômica aplicada agora", disparou Heloísa Helena. E emendou: "O PT não será correia de
transmissão das decisões tomadas no Planalto".
Já Maninha, dizendo-se "frustrada", reclamou da metodologia
do encontro. "Falta conversar
mais. Não conheço um deputado
do PT que tenha sido convencido
da necessidade de aumentar a taxa de juros", afirmou.
O deputado Lindberg Farias
(RJ) chegou a chamar de "neoliberais" as decisões econômicas de
Palocci e equipe.
Genoino disse que as reclamações sobre a política econômica
do governo "eram sobre aspectos
secundários". Afirmou que não
pode haver divisão no PT na hora
de votar no Congresso as decisões
do governo, sob pena de crise política na base de sustentação. "Se
houver divisão no PT, contamina
a base aliada."
Genoino, geralmente cordato
com Heloísa Helena, rebateu duramente as críticas da senadora.
"Ela não pode dizer que membros
do governo estão conversando
com gente que tem problema
com o Código Penal. Ela está acusando seus companheiros?"
(KENNEDY ALENCAR E GUSTAVO PATÚ)
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