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OPERAÇÃO SOCIAL
Moradores de Guaribas, onde Fome Zero será lançado, consideram falta de água como questão mais grave
Cidade-piloto não vê fome como prioridade
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUARIBAS
Moradores e autoridades de
Guaribas (PI) -cidade-piloto do
programa Fome Zero- vêem a
falta de água potável, saneamento
básico e infra-estrutura na cidade
como problemas mais graves para ser resolvidos do que a fome.
Moradores dizem, inclusive, que
ninguém morre de fome no local.
O Fome Zero, principal programa na área social do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva, será lançado em Guaribas (530 km de Teresina) na segunda-feira, com a
presença de autoridades dos governos federal e estadual.
"O maior presente que a cidade
poderia receber era uma rede de
água potável e de saneamento básico. Esse seria o verdadeiro Fome
Zero em Guaribas", diz o secretário da Saúde do município, João
Abimael Neto, um dos integrantes do Comitê de Segurança Alimentar de Guaribas, grupo que
coordena o Fome Zero na cidade.
Segundo ele, o número de crianças atendidas no posto de saúde
da cidade por causa de diarréia
chega a 20 por dia, valor alto para
uma cidade de 4.814 habitantes.
A desnutrição, de acordo com
Abimael Neto, atinge 40% das
crianças e a mortalidade infantil é
de 60 por mil nascimentos, o dobro da taxa nacional.
Água
A função de pegar água para o
consumo da casa é das mulheres.
Luciene da Silva Nascimento, 20,
vai cinco vezes por dia à fonte de
água que fica no alto de uma serra, um percurso de cerca de 2 km
de barro e pedras.
"Criancinha de três anos já começa a carregar um baldinho para ir aprendendo", diz Luciene,
mãe de uma menina de 11 meses.
É na mesma fonte que mulheres
e crianças aproveitam para lavar
roupa e tomar banho. A primeira
ida à fonte é ainda de madrugada,
para ter água pela manhã. Na volta, elas descem o morro com o
balde cheio de água na cabeça em
passos rápidos, quase correndo,
para não perder o equilíbrio.
Essa é a água consumida por toda a cidade. A cor é amarelada,
mas, ao prová-la, não se percebe
nenhum sabor estranho.
"Não temos pesquisas sobre a
qualidade dessa água, mas com
certeza ela tem alto índice de coliformes fecais e não deveria estar
sendo consumida", afirma Lauro
César de Abreu, enfermeiro do
Programa Saúde da Família de
Guaribas e um dos integrantes do
Comitê de Segurança Alimentar.
Para amenizar os casos de diarréia, a prefeitura distribui vidros
de hipocloreto de sódio. "Mas as
pessoas não usam porque não sabem usar", diz Abreu.
O único médico da cidade
-com salário de R$ 4.500 por
mês pagos pela prefeitura- aparece três vezes por semana, às sextas, sábados e domingos. Ontem,
ele telefonou para avisar que teve
"problemas" e que não poderia ir.
O atendimento básico é feito pelo enfermeiro. Casos mais graves
são levados a Caracol, município
a 54 km de distância, percurso feito em três horas, apenas em camionetes, devido às péssimas
condições da única estrada de terra que dá acesso a Guaribas. Exames mais sofisticados são possíveis apenas em Teresina.
Por causa da dificuldade no
acesso à cidade, os produtos vendidos nas mercearias de Guaribas
são muito caros. Uma lata de leite
em pó (400 g), encontrada em capitais por cerca de R$ 4, é vendida
por R$ 5,50. O mesmo acontece
com os outros produtos, como arroz, óleo, sal, açúcar, macarrão,
não produzidos na cidade.
Ainda assim, Wagnon Correia,
dono de uma mercearia local,
acha que haverá aumento nas
vendas com o Fome Zero.
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