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OUTRO LADO
"Situação preocupa, mas não tira o sono"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador-geral da Fazenda
Nacional, Manoel Felipe Rêgo
Brandão, informou à Folha que,
logo que assumiu, em maio de
2003, pediu a realização de uma
auditoria na repartição. A inspeção foi feita pela Controladoria
Geral da União.
Rêgo Brandão disse que nenhuma das impropriedades detectadas ocorreu durante a sua gestão.
Os auditores, de fato, concentraram-se na análise de fatos ocorridos em 2002. Como, aliás, previsto na solicitação de Rêgo Brandão. Sobre a suposta vulnerabilidade do Cadastro de Informações
da Dívida Ativa da União, o procurador-geral declarou: "A situação preocupa, mas não é uma coisa que me tire o sono".
Segundo Rêgo Brandão, "o Serpro garante que o sistema é seguro". Desde a sua posse, de resto,
não teve notícia de "nenhuma informação" relacionada à fragilidade da rede de computadores da
Procuradoria da Fazenda.
O Serpro é a empresa pública
que desenvolveu e monitora o sistema que roda os dados da dívida
ativa. A reportagem da Folha reuniu-se, há uma semana e meia,
com funcionários do primeiro escalão do Serpro. Pediram que
seus nomes fossem preservados.
Se houvesse presenciado o encontro, Rêgo Brandão talvez dormisse menos sossegado. O pessoal do Serpro reconheceu que,
como está hoje, o cadastro da dívida ativa é mesmo vulnerável.
Argumenta-se que um sistema
invulnerável é coisa utópica. Mas
reconhecem que a simples atribuição de senhas aos funcionários
vem se mostrando ineficaz como
ferramenta de proteção. O relatório da Controladoria da União
chega a sugerir a "responsabilização" solidária do Serpro pelos
prejuízos que as "fraudes" possam estar causando à União.
Na conversa com a reportagem,
os funcionários do Serpro disseram que a sugestão é despropositada. Disseram que, em matéria
de informática, a Procuradoria da
Fazenda Nacional recebe serviços
compatíveis com aquilo que desembolsa. Rêgo Brandão informou que pagou ao Serpro, em
2003, R$ 20,5 milhões. Reconhece
que houve cortes. No ano anterior, a conta roçava os R$ 30 milhões. Mas não acha que a Procuradoria da Fazenda esteja pagando uma quantia negligenciável.
De concreto, a Folha apurou
que os problemas na área de informática inquietam os procuradores. A reportagem visitou o escritório da Procuradoria da Fazenda em São Paulo. Constatou
que preferem não ter a senha que
dá acesso ao nível mais nobre do
sistema Cida - "transação"- ,
que permite alterações na base de
dados. Receiam ver seus nomes
vinculados a eventuais fraudes.
Nomeado na gestão de Rêgo
Brandão, o procurador-chefe de
São Paulo, Ricardo Oliveira Pessoa de Souza, tomou certas precauções. Havia na repartição quase 30 funcionários com senha de
acesso ao nível "transação" do Cida. Reduziu-as a sete. Não há, por
ora, notícia de fraude praticada
sob a gestão de Pessoa de Souza,
iniciada em maio de 2003.
A Folha apurou que a insegurança provocou reuniões de subordinados do procurador-geral
Rêgo Brandão com funcionários
do Serpro. Os técnicos propuseram a adoção de uma medida
com "custo zero". É chamada de
"autorização cruzada".
Ainda que possuísse senha de
acesso ao sistema Cida, um servidor só poderia mexer na base de
dados da dívida ativa se fosse previamente autorizado pelos procuradores-chefes nos Estados. O
operação seria feita num computador determinado, em horário
delimitado. Talvez não elimine as
fraudes. Mas tornaria mais difícil
a vida dos fraudadores.
O Serpro dispõe de alternativas
mais sofisticadas. Envolvem uma
combinação de ferramentas -do
certificado digital (cartão magnético com código de barras) a equipamentos de identificação física
do usuário, por meio da digital de
um dedo ou da análise da íris.
Diz-se que são providências caras.
Ninguém exibe um orçamento.
De concreto, apenas a evidência
de que, embora alertada para a
fragilidade de sua rede de computadores, a Procuradoria da Fazenda Nacional ainda não adotou
providências efetivas. Nem mesmo a medida com custo zero.
No segundo semestre de 2003,
Rêgo Brandão criou um Departamento de Informática no órgão.
"Não tínhamos na nossa estrutura pessoas habilitadas para manter um diálogo adequado com o
Serpro", afirmou. Ao diálogo,
afirma o pessoal do Serpro, é preciso acrescentar agora o dinheiro.
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