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Com Chinaglia, PT-SP tenta voltar ao poder
Vitória na Câmara significa retorno do núcleo paulista da sigla para o centro do debate político sobre rumos do 2º governo Lula
No 1º mandato, diretório
de SP se enfraqueceu com acusação de envolvimento no mensalão de José Dirceu, cassado, e João Paulo Cunha
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os três candidatos inscritos
até ontem para disputar a presidência da Câmara carregam
significados políticos distintos
em suas candidaturas. Por ter
sido considerado o favorito até
a última hora, o petista Arlindo
Chinaglia é o mais emblemático dos três: uma eventual vitória sua marcará a volta do PT
tradicional paulista a cargos de
destaque dentro da estrutura
de poder federal.
Aldo Rebelo (PC do B-SP) já é
o presidente da Câmara. Gustavo Fruet (PSDB-PR) entrou
tarde na disputa. Mas mesmo
que venha a ganhar, ninguém
no seu partido o imagina como
candidato a presidente em
2010 nem grandes alterações
na nau tucana.
Já com Arlindo Chinaglia, o
simbolismo é outro. Na prática,
a eleição de hoje é a derradeira
chance de os petistas do Estado
de São Paulo voltarem a ter algum protagonismo durante o
segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Estrelas petistas paulistas
próximas de Lula durante a
campanha vitoriosa de 2002
caíram em desgraça. O então
deputado José Dirceu foi cassado na esteira do mensalão. João
Paulo Cunha, presidente da Câmara em 2003 e 2004, foi acusado de receber dinheiro do
mensalão e acabou absolvido,
mas passou apenas a atuar nos
bastidores.
Outros que amargam um
quase ostracismo são Antonio
Palocci (ex-todo poderoso ministro da Fazenda), Luiz Gushiken (ex-ministro da Secretaria
de Comunicação), o senador
Aloizio Mercadante (ex-líder
do governo) e o deputado eleito
José Genoino (ex-presidente
nacional da sigla).
PT de raiz
A partir do ano passado, ficaram ao lado de Lula petistas
nunca muito aceitos pelo núcleo paulista da agremiação. O
chamado "PT de raiz" transformou-se em coadjuvante. A estrela atual, a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil), nem tem
sua origem no PT -ela foi filiada ao PDT no Rio Grande do
Sul. O ministro Tarso Genro
(Relações Institucionais) foi
sempre tido por José Dirceu
quase como um adversário.
Por essa razão o PT se jogou
com tanto entusiasmo na campanha de Chinaglia para presidir a Câmara, apesar de o candidato nunca ter sido, no passado, uma pessoa ligada à trinca
Dirceu-Palocci-Gushiken.
Mesmo assim, já está acertado que Chinaglia, se eleito, não
apresentará óbices de nenhuma espécie quando José Dirceu
apresentar o projeto de iniciativa popular para receber uma
anistia do Congresso.
Chinaglia também sabe o
tanto que os petistas paulistas o
estão ajudando. Em público
não se toca no assunto, mas está claro que o petista na presidência da Câmara será o vocalizador dos desejos do PT dentro
do Palácio do Planalto.
De uma forma bem clara, de
todos os petistas ilustres que fizeram carreira em São Paulo,
Chinaglia, se eleito, será o único a ter liberdade para telefonar para Lula a qualquer hora.
Sucessão de Lula
Há também nesta eleição de
hoje para presidente da Câmara um componente clássico revestido de maior relevância: o
fato de ser o terceiro cargo na
hierarquia da República.
Na falta do presidente e do
vice, quem assume o Palácio do
Planalto é o presidente da Câmara dos Deputados. Não é segredo que o atual vice-presidente, José Alencar, está com a
saúde debilitada em decorrência de um câncer na região do
abdome.
Alencar continua em tratamento e tem mantido uma rotina quase normal. Mas não é improvável que possa não ter condições momentâneas de assumir o Planalto numa das diversas viagens de Lula ao exterior.
Nesse caso, assume o presidente da Câmara.
Outro aspecto a ser considerado é o poder formal do presidente da Câmara, que administra um orçamento anual que gira em torno de R$ 3 bilhões,
com um quadro de pessoal de
mais de 15 mil funcionários.
Com um regime presidencialista, o comandante da Câmara
pode oferecer gentilezas para
dezenas de deputados, dos
mais variados partidos e regiões do país. As mesuras variam desde reformas em apartamentos funcionais bem como
indicações para viagens internacionais. No ambiente do
Congresso, esse tipo de agrado
acaba valendo mais do que preferências partidárias.
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