São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2007

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Lula aposta em cargos para recompor base

Presidente avalia que reforma ministerial reagrupa mais a coalizão do que a interferência direta na eleição da Câmara

Batalha entre Chinaglia e Aldo reflete demarcação de terreno para 2010 que opõe Ciro Gomes, representando as siglas aliadas, e petistas


KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A PARNAMIRIM

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lavou as mãos na eleição para a presidência da Câmara por avaliar que o preço de uma intervenção seria maior do que usar a reforma ministerial para recompor sua base de apoio congressual, pois os seus principais operadores na Casa se dividiram em dura disputa.
A guerra Aldo-Chinaglia reflete ainda demarcação de terreno entre os aliados pela candidatura presidencial de 2010 -Lula não poderá concorrer. De um lado, Ciro Gomes (PSB), apoiando o atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Do outro, o PT tentando recuperar poder após o escândalo do mensalão com a eleição do líder do governo Arlindo Chinaglia (SP). Forte na Câmara, a sigla quer determinar a escolha do candidato em 2010.
Em conversas reservadas, Lula demonstra contrariedade com o clima da disputa. Desejava que o "governo de coalizão", composto por 11 partidos, tivesse apresentado um único candidato, mas se afastou da disputa quando Chinaglia firmou acordo com o PMDB.
Hoje, o Planalto avalia que, se houver segundo turno, será entre dois aliados e que isso favorece Lula apesar das feridas a curar no "day after".
Lula crê que os ganhadores tendem a ser patrocinadores do acordo PT-PMDB. Se vitoriosos, os dois partidos formarão o novo núcleo em torno do qual gravitarão outras forças aliadas na Câmara -PR (ex-PL), PTB e PP se unirão à aliança para dar a Lula base mais coesa do que no primeiro mandato.
O antigo bloco oposicionista do PMDB criou um pólo de poder na Câmara que equilibrou o jogo interno com as forças do Senado, apoiando um governo com um grau de unidade inédito nos últimos 12 anos. Sempre divididos, peemedebistas participaram do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e dos quatro primeiros anos de Lula (2003-2006).
Lula tem dito que não está chateado com Aldo, que nos bastidores se disse abandonado pelo presidente. Pode arrumar lugar para ele no primeiro escalão, apesar da resistência do PT, por avaliar que ele lhe foi fiel no escândalo do mensalão.
O racha na Câmara não deverá afetar a tramitação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Chinaglia já disse que priorizará as medidas na pauta congressual. Aldo fará o mesmo, buscando, porém, ouvir mais a oposição.

2010 e 2014
Deputado federal eleito, o ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) atuou com agressividade na defesa de Aldo. Ganhou pontos para ser um presidenciável de eventual aliança PSB-PC do B-PDT em 2010. Mas queimou pontes no PT e dificilmente será candidato com apoio da sigla.
A hostilidade de Ciro ao PT busca deixar portas abertas para futuro entendimento com setores do PSDB e PFL.
Nas conversas sobre reeleição, Lula, ministros e aliados já aventaram chapas em 2010 com Ciro na cabeça e a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy na vice. O contrário também. O governador da Bahia, Jaques Wagner, é o outro presidenciável da hora no PT.
A hipótese de dois candidatos do atual campo governista em 2010 não seria ruim para Lula, dizem ministros. Ele teria dois postulantes a defendê-lo. Em caso de derrota, os dois nomes perderiam força para 2014, quando Lula poderia ainda ser o reaglutinador dessas forças políticas se sair bem-avaliado do governo daqui a quatro anos.


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