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Um político com roldanas na cintura
Comunista, Aldo, sustentado pelo PFL, acumula
paradoxos na vida pública
Atual presidente da Câmara
aposta que haverá 2º turno
e que, em confronto direto
com Chinaglia, antipetismo
da Casa lhe dará a vitória
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado Aldo Rebelo
(SP), 50, concorre à reeleição
para presidência da Câmara
enganchado num paradoxo. Filiado ao PC do B, deve a sobrevivência de sua candidatura a
uma aliança com o PFL. O PC
do B de Aldo é um partido que
reverencia o modelo albanês de
Enver Hoxha. O PFL é uma legenda que reza pela cartilha de
Friedrich August von Hayek.
Guru austríaco do neoliberalismo, Hayek é a antítese dos
ideais que Aldo supõe representar. Prêmio Nobel de Economia de 1974, seu livro mais
festejado é "O Caminho da Servidão". Dedicou-o "aos socialistas de todos os partidos".
Aldo foi à disputa estimulado
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No meio do caminho, Lula submeteu-o a um
processo de desidratação. Não
fosse o PFL, teria evaporado.
Aldo parece um político dotado de roldanas na cintura.
Projetou-se nacionalmente em
2001, como presidente da CPI
da Nike. Escarafunchou os negócios da multinacional com a
CBF (Confederação Brasileira
de Futebol) e os clubes.
Eurico Miranda, presidente
do Vasco da Gama e deputado à
época, foi um dos que tiveram a
imagem tisnada pela CPI. A
despeito disso, Aldo não teve
pejo de receber, sob os auspícios de Eurico, o título de sócio
honorário do Vasco.
Aldo teria voltado a ser um
personagem invisível na Câmara não fosse por Lula. Foi líder
do governo na Câmara e, em janeiro de 2004, subiu à cadeira
de ministro das Relações Institucionais. Pagou com lealdade.
Lula deve a Aldo o seu principal álibi no escândalo do mensalão. Quando decidiu atear fogo na cena política, em maio de
2005, o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse
que comunicara a Lula, em 23
de março do ano anterior, que o
petismo comprava consciências no Congresso.
Para esquivar-se do risco de
impeachment, Lula disse que
não ficara inerte. Pedira a dois
auxiliares que averiguassem o
assunto. Um deles era Aldo. O
outro, Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Casa.
Ambos endossaram a versão.
A despeito da fidelidade a Lula, Aldo arrostou no ministério
a antipatia de um inimigo cordial: o PT. Na chefia da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP) divertia-se puxando o tapete de Aldo. A conspiração intensificou-se depois que Lula delegou a Aldo o comando da liberação de
emendas. Foi ao paroxismo
quando Aldo passou a filtrar
também as nomeações.
Apeado da Casa Civil, Dirceu
arrolaria Aldo como sua testemunha de defesa no processo
legislativo que resultou na sua
cassação. E Aldo assentiu.
Devolvido à Câmara em julho de 2005, Aldo foi guindado
à presidência da Casa graças a
um desastre chamado Severino
Cavalcanti. Como conseqüência de uma divisão do petismo,
o rei do baixo clero virou o terceiro homem da República.
Abalroado pela revelação de
que recebia propina do arrendatário de um restaurante da
Câmara, Severino renunciou ao
mandato. E Aldo emergiu como
uma solução em meio à crise.
Beneficiado por um gesto de
Arlindo Chinaglia, que abriu
mão da disputa em seu favor,
Aldo elegeu-se. Agora, de volta
à disputa, passou de "preferido
de Lula" à condição de preterido do Planalto. Esperava que o
presidente instasse Chinaglia a
sair, de novo, do seu caminho.
Deu-se o oposto.
Além de agarrar-se ao PFL,
ao PC do B e ao PSB, Aldo sonha
em obter os votos do mesmo
baixo clero que prestigiou Severino Cavalcanti. Um dos generais de sua campanha é o deputado Ciro Nogueira (PI), do
PP de Paulo Maluf (SP).
Se ainda não leu, Aldo acabará se debruçando sobre as páginas de "O Caminho da Servidão", de Friedrich August von
Hayek. Ou terminará tendo de
reler um trecho profético do
"Manifesto Comunista" de
Marx e Engels: "Tudo o que é
sólido desmancha no ar."
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