São Paulo, domingo, 01 de março de 2009

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Candidatura de Dilma já tem apoio de 81% da cúpula do PT

Dirigentes descartam prévia para definir nome; "ela está consolidada", diz Jilmar Tatto

Aceitação do PT ao nome indicado por Lula contrasta com a divisão no PSDB, que discute se fará uma consulta para escolher seu candidato

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A um ano e sete meses da eleição de 2010, a cúpula do PT aceitou a vontade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dá como consolidada a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência.
Durante os últimos dias, a Folha procurou os 81 integrantes do Diretório Nacional e os 27 presidentes dos Diretórios Estaduais -a nata da direção do partido em todo o país. Do total de 96 ouvidos- 26 presidentes estaduais e 70 membros do Diretório-, 78 (ou 81%) cravam o nome de Dilma, que nunca disputou uma eleição, como o melhor que o PT possui para concorrer à sucessão de Lula.
Dos restantes, 17 (18%) estão longe de sugerir uma dissensão: todos elogiaram abertamente a ministra, embora tenham dito que ainda pretendem discutir mais a sucessão.
Houve uma única crítica a Dilma. Partiu da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, que obteve o primeiro mandato na capital do Ceará, em 2004, à revelia da cúpula petista: "Sinto temor em setores do partido de que pode haver um distanciamento maior do governo com relação ao PT já que ela não teve uma cultura partidária como muitos de nós. O presidente Lula tem a legitimidade para indicar o nome, mas em concordância com o partido".
Como indicativo da preferência por Dilma, só 15 dos 96 ouvidos chegaram, depois de provocados pela reportagem, a citar outros nomes. Os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Tarso Genro (Justiça) e o governador Jaques Wagner (BA) foram os mais mencionados -Patrus, nove vezes; os outros, cinco cada.
Mas, para Genro, não há nem possibilidade de prévias: "Não acredito que apareçam [outros candidatos], pois o PT já aderiu, majoritariamente, à candidatura da ministra Dilma". Segundo ele, a escolha "mostra que a força política do presidente é relevante para unificar o PT".
A quase unanimidade em torno de um nome a tantos meses antes da eleição é uma novidade no PT, partido dividido em várias correntes. Em 2002, Lula teve de derrotar a pré-candidatura do senador Eduardo Suplicy (SP) em uma prévia.
A aceitação à indicação de Lula neste ano acontece justamente quando os mais fortes oponentes de Dilma, os tucanos, cogitam a realização de uma consulta formal às bases para escolher seu candidato entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
"O único nome melhor do que ela é o Lula. E o Lula não é candidato", resume Valter Pomar, secretário nacional de Relações Internacionais do partido. "Ela está consolidada. Não precisa de nenhum processo interno de escolha", diz o deputado federal Jilmar Tatto (SP).

Interferência
Sobre a interferência de Lula, os petistas se dividem: "Estamos debatendo nossa candidatura à Presidência desde 2005. Quem não percebe isto é quem acha que estávamos fazendo campanha pelo terceiro mandato para o Lula", diz Pomar.
O presidente da legenda, Ricardo Berzoini, diz que "há um grande apreço do partido pela opinião do presidente", mas seria "superficial" interpretar isso como submissão. Já João Paulo, ex-prefeito de Recife, assume o "dedazo": "Temos que entender que o presidente é o general do processo. É o mais balizado para conduzir o processo de sua sucessão".
O deputado Luiz Sérgio (RJ), ex-líder do PT na Câmara, concorda: "Está bem sinalizada a preferência do presidente. Ninguém vai contestá-la". O ex-ministro da Saúde Humberto Costa também está convencido de que Dilma é o melhor nome "porque tem o apoio explícito de Lula" e "está cumprindo à risca o papel de candidata".
Para o secretário-geral do PT, José Eduardo Martins Cardozo, as resistências são mínimas: "É uma candidatura que ganhou muito corpo. Vejo adesão irrestrita de todos os grupos". No grupo que defende vagar ao andor figuram expoentes da esquerda, como Markus Sokol ("Acho cedo para discutir nome. A questão da hora é a crise econômica") e Raul Pont ("Não fizemos o debate. É um bom nome, mas o ritual partidário deve ser preservado").
São três os principais argumentos usados pela maioria da cúpula petista para justificar a opção pela ministra: o fato de ser mulher, a capacidade gerencial e a histórica relação da ex-guerrilheira com os movimentos de esquerda. "É bom trabalhar com uma mulher depois de um operário que chegou ao poder", diz Gleisi Hoffmann, presidente do PT no Paraná. (ADRIANO CEOLIN, ANDREZA MATAIS, FERNANDA ODILLA, HUDSON CORRÊA, LETÍCIA SANDER E RANIER BRAGON)


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