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Candidatura de Dilma já tem apoio de 81% da cúpula do PT
Dirigentes descartam prévia para definir nome; "ela está consolidada", diz Jilmar Tatto
Aceitação do PT ao nome
indicado por Lula contrasta
com a divisão no PSDB, que
discute se fará uma consulta
para escolher seu candidato
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A um ano e sete meses da
eleição de 2010, a cúpula do PT
aceitou a vontade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dá
como consolidada a candidatura da ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) à Presidência.
Durante os últimos dias, a
Folha procurou os 81 integrantes do Diretório Nacional e os
27 presidentes dos Diretórios
Estaduais -a nata da direção
do partido em todo o país. Do
total de 96 ouvidos- 26 presidentes estaduais e 70 membros
do Diretório-, 78 (ou 81%) cravam o nome de Dilma, que nunca disputou uma eleição, como
o melhor que o PT possui para
concorrer à sucessão de Lula.
Dos restantes, 17 (18%) estão
longe de sugerir uma dissensão: todos elogiaram abertamente a ministra, embora tenham dito que ainda pretendem discutir mais a sucessão.
Houve uma única crítica a
Dilma. Partiu da prefeita de
Fortaleza, Luizianne Lins, que
obteve o primeiro mandato na
capital do Ceará, em 2004, à revelia da cúpula petista: "Sinto
temor em setores do partido de
que pode haver um distanciamento maior do governo com
relação ao PT já que ela não teve uma cultura partidária como
muitos de nós. O presidente
Lula tem a legitimidade para
indicar o nome, mas em concordância com o partido".
Como indicativo da preferência por Dilma, só 15 dos 96
ouvidos chegaram, depois de
provocados pela reportagem, a
citar outros nomes. Os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Tarso Genro
(Justiça) e o governador Jaques
Wagner (BA) foram os mais
mencionados -Patrus, nove
vezes; os outros, cinco cada.
Mas, para Genro, não há nem
possibilidade de prévias: "Não
acredito que apareçam [outros
candidatos], pois o PT já aderiu,
majoritariamente, à candidatura da ministra Dilma". Segundo
ele, a escolha "mostra que a força política do presidente é relevante para unificar o PT".
A quase unanimidade em
torno de um nome a tantos meses antes da eleição é uma novidade no PT, partido dividido
em várias correntes. Em 2002,
Lula teve de derrotar a pré-candidatura do senador Eduardo
Suplicy (SP) em uma prévia.
A aceitação à indicação de
Lula neste ano acontece justamente quando os mais fortes
oponentes de Dilma, os tucanos, cogitam a realização de
uma consulta formal às bases
para escolher seu candidato entre os governadores José Serra
(SP) e Aécio Neves (MG).
"O único nome melhor do
que ela é o Lula. E o Lula não é
candidato", resume Valter Pomar, secretário nacional de Relações Internacionais do partido. "Ela está consolidada. Não
precisa de nenhum processo
interno de escolha", diz o deputado federal Jilmar Tatto (SP).
Interferência
Sobre a interferência de Lula,
os petistas se dividem: "Estamos debatendo nossa candidatura à Presidência desde 2005.
Quem não percebe isto é quem
acha que estávamos fazendo
campanha pelo terceiro mandato para o Lula", diz Pomar.
O presidente da legenda, Ricardo Berzoini, diz que "há um
grande apreço do partido pela
opinião do presidente", mas seria "superficial" interpretar isso como submissão. Já João
Paulo, ex-prefeito de Recife, assume o "dedazo": "Temos que
entender que o presidente é o
general do processo. É o mais
balizado para conduzir o processo de sua sucessão".
O deputado Luiz Sérgio (RJ),
ex-líder do PT na Câmara, concorda: "Está bem sinalizada a
preferência do presidente. Ninguém vai contestá-la". O ex-ministro da Saúde Humberto
Costa também está convencido
de que Dilma é o melhor nome
"porque tem o apoio explícito
de Lula" e "está cumprindo à
risca o papel de candidata".
Para o secretário-geral do
PT, José Eduardo Martins Cardozo, as resistências são mínimas: "É uma candidatura que
ganhou muito corpo. Vejo adesão irrestrita de todos os grupos". No grupo que defende vagar ao andor figuram expoentes
da esquerda, como Markus Sokol ("Acho cedo para discutir
nome. A questão da hora é a crise econômica") e Raul Pont
("Não fizemos o debate. É um
bom nome, mas o ritual partidário deve ser preservado").
São três os principais argumentos usados pela maioria da
cúpula petista para justificar a
opção pela ministra: o fato de
ser mulher, a capacidade gerencial e a histórica relação da
ex-guerrilheira com os movimentos de esquerda. "É bom
trabalhar com uma mulher depois de um operário que chegou ao poder", diz Gleisi Hoffmann, presidente do PT no Paraná.
(ADRIANO CEOLIN, ANDREZA MATAIS, FERNANDA ODILLA, HUDSON CORRÊA, LETÍCIA SANDER E RANIER BRAGON)
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