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SOMBRA NO PLANALTO
Ministro da Justiça diz que negociação de fita em que Waldomiro pede propina
"parece ilegal"
Planalto vê conspiração para destruir Dirceu e depor Lula
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Designado como porta-voz do
governo, o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, definiu
ontem como "conspiração" a reunião entre o subprocurador-geral
da República José Roberto Santoro e o empresário de jogos Carlos
Augusto de Almeida Ramos, o
Carlinhos Cachoeira. O único objetivo de Santoro seria "destruir o
ministro José Dirceu [Casa Civil]
e derrubar o governo Lula".
"Havia, de fato, e a fita [com os
diálogos] denota isso, uma espécie de conspiração. Para quê? Para
apurar o caso Waldomiro? Para
descobrir delitos cometidos por
essa pessoa, que é o que a fita indicava? Não. Muito mais que isso,
conforme verbalizado, até num
calão duvidoso, pelo subprocurador Santoro, o que se verifica dessa reunião na madrugada é que se
pretendia ferrar, entre aspas, o
ministro Zé Dirceu e derrubar o
governo Lula", afirmou.
Anteontem, o "Jornal Nacional", da TV Globo, divulgou trechos de uma conversa em que
Santoro tenta convencer Cachoeira a lhe entregar a gravação em
que Waldomiro Diniz, ex-subchefe na pasta de Dirceu, pede
propina ao empresário de jogos
em 2002. A divulgação da fita em
13 de fevereiro deu início à principal crise do governo Lula. Com os
diálogos trazidos à tona anteontem, o governo pôde respirar.
"Falei com o presidente da República, ele se mostrou indignado
com o conteúdo da fita, como
também fiquei", disse o ministro.
Ontem, o "Jornal Nacional" divulgou novo trecho no qual Santoro diz a Cachoeira que poderia
resguardar o jornalista Mino Pedrosa, assumindo o vazamento
da fita com o episódio envolvendo Waldomiro. "O Mino tá doido.
Eu tô com pena, que ele chegou
pra mim e falou assim: "Olha, Santoro, essa... vai estourar nas minhas costas porque eu tive com a
desgraçada desta fita 24 horas"."
Pedrosa afirmou que sua relação com Cachoeira, se restringe
hoje a um contrato de assessoria
de imprensa. "Cachoeira se comprometeu com um jornalista
-que divulgou reportagem mostrando a proximidade entre Waldomiro e a GTech-, que, se fosse
necessário, mostraria a fita em
que Waldomiro pede propina."
Conduta de procurador
Thomaz Bastos, que advogou
por 45 anos, disse que a conduta
de Santoro "parece ilegal". "Toda
situação descrita naquela fita parece ilegal. Ele [Santoro] não era o
promotor natural, ia ouvir de madrugada, e as ameaças de baixo
calão, "estou empenhado em derrubar o governo, estou empenhado em ferrar o ministro Zé Dirceu". Havia efetivamente ali uma
interação, uma conspiração que
não visava ao conteúdo da fita."
Na avaliação do ministro, Santoro feriu o princípio do promotor natural, segundo o qual não se
pode escolher quem se vai investigar. "Agora, essas tarefas [dos
procuradores] têm que ser realizadas com impessoalidade, atendendo ao princípio da moralidade, ao princípio do promotor natural, que é fundamental, a fim de
que, no Estado de Direito, no Estado republicano, escapemos do
arbítrio, da possibilidade de sermos escolhidos arbitrariamente
para sermos objeto de investigação, objetos de perseguição."
Thomaz Bastos concedeu a entrevista após conversar por telefone com o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, superior hierárquico de Santoro, que
pediu à Corregedoria do Ministério Público Federal para investigar a conduta do subprocurador.
"Não apenas fazer uma investigação simplesmente pericial dessa fita, mas uma apuração dessas
articulações, como nós determinamos que a Polícia Federal fizesse do caso Waldomiro", frisou.
O delegado da PF Giácomo Santoro participou da conversa do
subprocurador com Cachoeira.
Segundo o ministro, será aberta
sindicância sobre a conduta dele.
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