|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PF diz que doleiro formava "organização" com executivos
Relatório detalha a atuação dos diretores da Camargo Corrêa com Kurt Pickel
Para o advogado do suíço
naturalizado brasileiro,
acusações são um "absurdo';
Camargo Corrêa não se
pronunciou sobre o caso
FERNANDO BARROS DE MELLO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatórios da Polícia Federal
sobre a Operação Castelo de
Areia revelam que dirigentes da
construtora Camargo Corrêa
mantinham um contato próximo com o doleiro Kurt Paul
Pickel, apontado como o principal articulador do suposto esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro instalado na
alta diretoria da empresa.
"Kurt é o principal articulador do suposto esquema de
evasão de divisas e lavagem de
dinheiro da organização criminosa instalada na alta diretoria
do grupo Camargo Corrêa", diz
trecho da investigação.
Dezenas de conversas telefônicas entre os diretores e o doleiro e até encontros em hotéis
e em estacionamentos, em São
Paulo, foram monitorados pela
polícia, que detalhou, por meio
de um organograma, o papel de
cada um no suposto esquema.
A Camargo Corrêa informou
que apenas seus advogados poderiam comentar o caso. Até as
20h30, eles não haviam se pronunciado. Alberto Toron, que
defende Kurt, afirmou que as
acusações são "um absurdo".
"Meu cliente tem um nome no
mercado financeiro, não é nem
nunca foi doleiro", disse.
Segundo a PF, a cúpula da organização na empresa era formada pelos diretores Pietro
Bianchi, Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato e Raggi
Badra Neto -os quatro foram
presos na última quarta-feira e
soltos no sábado.
Bianchi, "bastante ativo no
esquema criminoso e no seu
contato rotineiro com Kurt", é
apontado como um dos responsáveis por transferências internacionais e por receber, pessoalmente, em hotéis ou estacionamento, recursos provenientes de operações ilegais.
Um suposto indicativo desses encontros surgiu em escutas telefônicas. Por exemplo,
em 26 de junho, Bianchi recebeu uma ligação da secretária,
que disse: "Ele tá no carro esperando o senhor". "Então ele se
escondeu", respondeu o diretor, "vou lá ver". Uma hora antes, a mesma secretária havia
telefonado a Kurt pedindo para
que ele fosse à empresa.
Outro diretor, Fernando
Dias Gomes, também mantém
"contato pessoal e estreito"
com Kurt, segundo a PF. Falam
sobre conversão de valores e taxas de dólares, sempre empregando expressões cifradas e nomes de animais para se referir a
operações financeiras no exterior ou a pessoas.
Num dos diálogos, o diretor
diz estar "preocupado e chateado" porque uma suposta transferência internacional não foi
confirmada. "É a segunda vez
que isso acontece, que a gente
dá uma ordem e não é acatada,
e não nos falam", afirma o executivo da empresa ao doleiro.
Dias Gomes e Bianchi são
apontados pela PF como os
principais articuladores das
doações feitas pela Camargo
Corrêa a partidos políticos.
O terceiro diretor, Darcio
Brunato, segundo a polícia, recebe faxes de doleiros do Uruguai, identificados como Paco e
Raul. Ele também fala com os
investigados por meio de códigos e senhas. Em conversa com
o doleiro, em dezembro, Darcio
diz "o camelo... o canguru deu
pulo de um pouco menos de
dois quilômetros". Segundo registro feito pela PF, naquele
momento, o dólar subia 2%.
O quarto diretor apontado no
esquema é Raggi Badra Neto,
que ocuparia um "papel secundário" na organização e atuaria
na área de licitações da empresa e, para isso, mantinha contatos com outras construtoras e
órgãos governamentais.
Abaixo dos quatro diretores,
a PF indicou duas secretárias,
Marisa Iaquinto e Darci Alvarenga, que agendavam encontros e centralizavam os comprovantes de transferências internacionais ilegais.
Kurt Paul Pickel, suíço naturalizado brasileiro, era quem
fazia o esquema funcionar, segundo a PF. Após trabalhar no
banco suíço UBS, "onde teria
adquirido conhecimento sobre
operações bancárias", passou a
operar com outros doleiros, remetendo valores para Uruguai,
Alemanha, Suíça, Angola, Israel
e China. Kurt aparece "simulando a venda de joias inexistentes na Suíça como forma de
justificar a utilização de dinheiro ilicitamente ganho em suas
atividades".
A um interlocutor, Kurt diz
que ao chegar Brasil declarou
ter na Suíça quadros e joias, em
um "montante teórico" de mais
ou menos cem mil "suíços".
Ainda de acordo com os relatórios, com ajuda de outros doleiros, Jadair de Almeida, José
Diney Matos, e Maristela Brunet, Kurt usava empresas fantasmas no Brasil para mandar
dinheiro para o exterior.
A PF apontou "suposta participação e conivência" de alguns
gerentes (não identificados) de
Bradesco e Unibanco, no esquema de envio de dinheiro. As
duas instituições disseram que
não comentam suposições.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Família de Jânio tenta repatriar "20 milhões" Índice
|