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CAMPO MINADO
Para presidente da empresa, movimento com ramificações internacionais pretende desestabilizar setor de celulose
Aracruz vê ação estrangeira em invasões
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O presidente da Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, 60, vê a ação de
um movimento organizado, até
com ramificações internacionais,
nas invasões das fazendas da empresa pela Via Campesina e, em
especial, pelo MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) -que a integra.
Para o executivo, por trás desse
movimento podem existir ONGs
(organizações não-governamentais) do exterior.
Desde março, a Aracruz foi alvo
de duas invasões. Uma, no dia 8
de março, quando cerca de 2.000
militantes da Via Campesina invadiram o horto florestal da empresa, em Barra do Ribeiro (56
km de Porto Alegre). E a outra, no
Espírito Santo, na madrugada o
último dia 26, quando 200 famílias ligadas ao MST invadiram a
fazenda Agril.
Agência Folha - O sr. acha que as
invasões comprometem o futuro
das indústrias de celulose no país?
Carlos Aguiar - Estamos vendo
isso como um movimento organizado primeiramente contra o
agronegócio e, dentro da agronegócio, contra o setor florestal, de
celulose. Além de ser competitivo,
nosso setor tem visibilidade no
exterior.
É fácil atingir a reputação desse
setor brasileiro junto a americanos e europeus. A Aracruz tem sido mais emblemática porque é a
maior empresa do Brasil. Exporta
99% da produção e é uma empresa muito premiada. Tem ações no
índice Dow Jones [principal índice da Bolsa de Nova York].
Escolhe-se um setor líder e uma
empresa líder dentro desse setor.
Esse setor, por ser muito competitivo, pode até mesmo provocar
interesse externo para atrapalhá-lo, o que resulta nas invasões do
MST, Via Campesina e índios.
Se você me pergunta se os acionistas estão preocupados, digo
que sim. E nosso setor pode investir US$ 15 bilhões até 2015. Só no
Rio Grande do Sul, falamos em investimentos de mais de US$ 5 bilhões até 2012, entre Aracruz, Votorantim e Stora Enso.
Folha - Que tipo de investimento
é esse? Pode haver reversão?
Aguiar - São plantações de florestas, infra-estrutura, implantação de fábricas de celulose e papel.
É claro que, continuando essa situação [de invasões], os investidores podem reverter tudo isso.
Qualquer investidor que não sinta
segurança, é natural que não
queira correr riscos. O investidor
quer sempre um retorno.
Folha - O sr. vê saída para isso?
Aguiar - Acreditamos que é só
uma fase crítica. Mas, havendo
diálogo com a sociedade, será superada. O Brasil é competitivo e
tem tudo para transformar o negócio de celulose e papel em estratégico para o país.
É importante também mencionar que a gente nota cada vez
mais esse assunto sair do Brasil e
ir para o exterior, com ONGs brasileiras, tendo como suporte
ONGs estrangeiras. Essas ONGs
estrangeiras têm levado essa pressão a clientes do setor de celulose
de fora do Brasil.
Folha - Quais são essas ONGs?
Aguiar - São várias. O setor de
florestas plantadas no Brasil ocupa uma proporção muito pequena dentro do universo da agricultura brasileira, com apenas 5 milhões de hectares. Não somos nós
que vamos obstaculizar a agricultura familiar. O setor florestal tem
sido alvo porque é organizado,
não faz nada ilegalmente.
Essa alta competitividade tem
gerado problemas muito sérios.
Movimentos [ONGs] do hemisfério norte podem estar fomentando tudo isso.
Folha - O MST pode estar sendo
usado?
Aguiar - Não sei. Mas eles têm
uma ideologia de fazer a reforma
agrária, o que é justo. Só que estão
enfrentando um setor que pouca
participação proporcional tem
nas terras brasileiras. Nosso setor
até tem procurado o MST. Pode
ser até aliado. Seria uma oportunidade de fonte de renda com empregos e terras para assentados.
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