São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2006

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CAMPO MINADO

Para presidente da empresa, movimento com ramificações internacionais pretende desestabilizar setor de celulose

Aracruz vê ação estrangeira em invasões

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O presidente da Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, 60, vê a ação de um movimento organizado, até com ramificações internacionais, nas invasões das fazendas da empresa pela Via Campesina e, em especial, pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) -que a integra.
Para o executivo, por trás desse movimento podem existir ONGs (organizações não-governamentais) do exterior.
Desde março, a Aracruz foi alvo de duas invasões. Uma, no dia 8 de março, quando cerca de 2.000 militantes da Via Campesina invadiram o horto florestal da empresa, em Barra do Ribeiro (56 km de Porto Alegre). E a outra, no Espírito Santo, na madrugada o último dia 26, quando 200 famílias ligadas ao MST invadiram a fazenda Agril.
 

Agência Folha - O sr. acha que as invasões comprometem o futuro das indústrias de celulose no país?
Carlos Aguiar -
Estamos vendo isso como um movimento organizado primeiramente contra o agronegócio e, dentro da agronegócio, contra o setor florestal, de celulose. Além de ser competitivo, nosso setor tem visibilidade no exterior.
É fácil atingir a reputação desse setor brasileiro junto a americanos e europeus. A Aracruz tem sido mais emblemática porque é a maior empresa do Brasil. Exporta 99% da produção e é uma empresa muito premiada. Tem ações no índice Dow Jones [principal índice da Bolsa de Nova York].
Escolhe-se um setor líder e uma empresa líder dentro desse setor. Esse setor, por ser muito competitivo, pode até mesmo provocar interesse externo para atrapalhá-lo, o que resulta nas invasões do MST, Via Campesina e índios.
Se você me pergunta se os acionistas estão preocupados, digo que sim. E nosso setor pode investir US$ 15 bilhões até 2015. Só no Rio Grande do Sul, falamos em investimentos de mais de US$ 5 bilhões até 2012, entre Aracruz, Votorantim e Stora Enso.

Folha - Que tipo de investimento é esse? Pode haver reversão?
Aguiar -
São plantações de florestas, infra-estrutura, implantação de fábricas de celulose e papel. É claro que, continuando essa situação [de invasões], os investidores podem reverter tudo isso. Qualquer investidor que não sinta segurança, é natural que não queira correr riscos. O investidor quer sempre um retorno.

Folha - O sr. vê saída para isso?
Aguiar -
Acreditamos que é só uma fase crítica. Mas, havendo diálogo com a sociedade, será superada. O Brasil é competitivo e tem tudo para transformar o negócio de celulose e papel em estratégico para o país.
É importante também mencionar que a gente nota cada vez mais esse assunto sair do Brasil e ir para o exterior, com ONGs brasileiras, tendo como suporte ONGs estrangeiras. Essas ONGs estrangeiras têm levado essa pressão a clientes do setor de celulose de fora do Brasil.

Folha - Quais são essas ONGs?
Aguiar -
São várias. O setor de florestas plantadas no Brasil ocupa uma proporção muito pequena dentro do universo da agricultura brasileira, com apenas 5 milhões de hectares. Não somos nós que vamos obstaculizar a agricultura familiar. O setor florestal tem sido alvo porque é organizado, não faz nada ilegalmente.
Essa alta competitividade tem gerado problemas muito sérios. Movimentos [ONGs] do hemisfério norte podem estar fomentando tudo isso.

Folha - O MST pode estar sendo usado?
Aguiar -
Não sei. Mas eles têm uma ideologia de fazer a reforma agrária, o que é justo. Só que estão enfrentando um setor que pouca participação proporcional tem nas terras brasileiras. Nosso setor até tem procurado o MST. Pode ser até aliado. Seria uma oportunidade de fonte de renda com empregos e terras para assentados.


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