São Paulo, terça-feira, 01 de maio de 2007

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Pluralismo marca enterro de Octavio Frias de Oliveira

Morto aos 94 anos, publisher da Folha é sepultado em São Paulo

Homenagens expressam a trajetória de independência do jornal

Tuca Vieira/Folha Imagem
Sepultamento de Octavio Frias de Oliveira ontem no cemitério Gethsêmani, em São Paulo; estiveram no local cerca de 600 pessoas

DA REPORTAGEM LOCAL

O velório e o enterro do corpo do empresário Octavio Frias de Oliveira, realizados ontem no cemitério Gethsêmani (Morumbi, zona oeste de São Paulo) foram expressão do amplo pluralismo e da independência em relação a governos e grupos econômicos, que pautaram a atuação do publisher da Folha, nos 45 anos que passou à frente do jornal.
Em uma sala no cemitério, onde o corpo foi colocado em câmara ardente a partir das 9h30 de ontem, encontraram-se adversários políticos irmanados na última homenagem ao "seu Frias", que é como o comandante da Folha era mais conhecido.
Estiveram lado a lado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente José Alencar (PRB), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), os ex-governadores Paulo Maluf (PP), Orestes Quércia (PMDB) e Claudio Lembo (DEM), além do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), de ministros de Estado, deputados estaduais e federais, representantes do Judiciário, empresários de todos os setores da economia, intelectuais, artistas, líderes das áreas de educação, saúde e cultura, e dirigentes dos principais órgãos de comunicação do país.
Cerca de 600 pessoas, entre elas representantes de várias gerações de profissionais do conglomerado que abrange a Folha, o UOL, o jornal "Agora", o Instituto Datafolha, a editora Publifolha, a gráfica Plural e o diário econômico "Valor" (este em parceria com as Organizações Globo) também foram ao cemitério levar sua solidariedade aos familiares de Frias -ele deixa a viúva Dagmar Frias de Oliveira, e os filhos Maria Helena, Otavio, Luís e Maria Cristina.
Frias morreu na tarde de domingo, 29 de abril, em São Paulo. Contava 94 anos. Entusiasta da modernização da mídia brasileira, levada a cabo a partir da segunda metade do século 20, Frias pertenceu a uma geração de empreendedores pioneiros, dos quais era um dos últimos remanescentes e o único a se manter em atividade profissional até o ano passado.
Sob seu comando, a Folha abriu suas páginas ao debate democrático e ao movimento que acabaria impondo a realização de eleições livres e diretas no Brasil e o fim do regime militar (1964-1985). Durante esse processo, o jornal se tornou um dos mais influentes do país e conquistou a liderança em circulação, situação que permanece inalterada.
Em novembro último, em conseqüência de uma queda doméstica, Frias foi submetido a cirurgia para remoção de hematoma craniano. Teve alta hospitalar na passagem do ano e desde então vinha se recuperando na casa da filha Maria Cristina. Suas condições clínicas pioraram nas últimas semanas, levando à instalação de um quadro de falência dos rins, a causa mortis.
Segundo o presidente Lula, "todos nós ganhamos quando aprendemos as lições de democracia que foram deixadas pelo doutor Frias."
De seu lado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lembrou quando, atingido pelo Ato Institucional nš 5, durante o regime militar, Frias lhe disse: "Você continua escrevendo" [na Folha, onde FHC era colaborador]. "E eu continuei, apesar de que isso não era bem visto naquela ocasião."
Foi um enterro tão discreto quanto o publisher da Folha em vida. A garoa que caiu logo cedo deu o tom das homenagens -pronunciadas a meia voz, em rodinhas pequenas de pessoas que com ele conviveram em algum momento.
Não se ouviram discursos. Não houve aplausos. O caixão desceu silenciosamente à sepultura às 12h20. Nessa hora, o sol aparecia.


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