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Pluralismo marca enterro de Octavio Frias de Oliveira
Morto aos 94 anos, publisher da Folha é sepultado em São Paulo
Homenagens expressam a trajetória de independência do jornal
Tuca Vieira/Folha Imagem
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Sepultamento de Octavio Frias de Oliveira ontem no cemitério Gethsêmani, em São Paulo; estiveram no local cerca de 600 pessoas
DA REPORTAGEM LOCAL
O velório e o enterro do corpo do empresário Octavio Frias
de Oliveira, realizados ontem
no cemitério Gethsêmani (Morumbi, zona oeste de São Paulo) foram expressão do amplo
pluralismo e da independência
em relação a governos e grupos
econômicos, que pautaram a
atuação do publisher da Folha,
nos 45 anos que passou à frente
do jornal.
Em uma sala no cemitério,
onde o corpo foi colocado em
câmara ardente a partir das
9h30 de ontem, encontraram-se adversários políticos irmanados na última homenagem
ao "seu Frias", que é como o comandante da Folha era mais
conhecido.
Estiveram lado a lado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente José
Alencar (PRB), o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), o governador de São
Paulo, José Serra (PSDB), os
ex-governadores Paulo Maluf
(PP), Orestes Quércia (PMDB)
e Claudio Lembo (DEM), além
do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), de ministros de Estado, deputados estaduais e federais, representantes do Judiciário, empresários
de todos os setores da economia, intelectuais, artistas, líderes das áreas de educação, saúde e cultura, e dirigentes dos
principais órgãos de comunicação do país.
Cerca de 600 pessoas, entre
elas representantes de várias
gerações de profissionais do
conglomerado que abrange a
Folha, o UOL, o jornal "Agora",
o Instituto Datafolha, a editora
Publifolha, a gráfica Plural e o
diário econômico "Valor" (este
em parceria com as Organizações Globo) também foram ao
cemitério levar sua solidariedade aos familiares de Frias
-ele deixa a viúva Dagmar
Frias de Oliveira, e os filhos
Maria Helena, Otavio, Luís e
Maria Cristina.
Frias morreu na tarde de domingo, 29 de abril, em São Paulo. Contava 94 anos. Entusiasta
da modernização da mídia brasileira, levada a cabo a partir da
segunda metade do século 20,
Frias pertenceu a uma geração
de empreendedores pioneiros,
dos quais era um dos últimos
remanescentes e o único a se
manter em atividade profissional até o ano passado.
Sob seu comando, a Folha
abriu suas páginas ao debate
democrático e ao movimento
que acabaria impondo a realização de eleições livres e diretas no Brasil e o fim do regime
militar (1964-1985). Durante
esse processo, o jornal se tornou um dos mais influentes do
país e conquistou a liderança
em circulação, situação que
permanece inalterada.
Em novembro último, em
conseqüência de uma queda
doméstica, Frias foi submetido
a cirurgia para remoção de hematoma craniano. Teve alta
hospitalar na passagem do ano
e desde então vinha se recuperando na casa da filha Maria
Cristina. Suas condições clínicas pioraram nas últimas semanas, levando à instalação de
um quadro de falência dos rins,
a causa mortis.
Segundo o presidente Lula,
"todos nós ganhamos quando
aprendemos as lições de democracia que foram deixadas pelo
doutor Frias."
De seu lado, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso
lembrou quando, atingido pelo
Ato Institucional nš 5, durante
o regime militar, Frias lhe disse: "Você continua escrevendo"
[na Folha, onde FHC era colaborador]. "E eu continuei, apesar de que isso não era bem visto naquela ocasião."
Foi um enterro tão discreto
quanto o publisher da Folha
em vida. A garoa que caiu logo
cedo deu o tom das homenagens -pronunciadas a meia
voz, em rodinhas pequenas de
pessoas que com ele conviveram em algum momento.
Não se ouviram discursos.
Não houve aplausos. O caixão
desceu silenciosamente à sepultura às 12h20. Nessa hora, o
sol aparecia.
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