São Paulo, sexta, 1 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo cede para acelerar a reforma

DENISE MADUEÑO
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília

O governo decidiu ceder à pressão de deputados por liberação de verbas do Orçamento da União de 97, antes da votação dos pontos polêmicos da reforma da Previdência, prevista para quarta. O ministro Eliseu Padilha (Transportes) está coordenando as negociações entre as duas partes.
Líderes governistas se reuniram com Padilha, com o ministro Waldeck Ornélas (Previdência) e com o secretário-geral da Presidência, Eduardo Graeff, para analisar a sessão de anteontem, quando o governo não conseguiu votar os pontos polêmicos da reforma.
Os governistas traçaram a estratégia para votar os principais dispositivos, como idade mínima e redutor de até 30% no valor das aposentadorias do setor público.
Segundo os governistas, as resistências acabam se forem liberados recursos orçamentários, principalmente pela Caixa Econômica Federal, para obras de infra-estrutura e saneamento. "Agilizar esse processo seria bom", disse o líder do PSDB, Aécio Neves (MG).
Na votação de anteontem, os governistas constataram que têm garantidos os votos de 301 deputados. Entre 20 e 30 parlamentares não estavam, mas votariam com o governo. O voto favorável de outro grupo de 20 a 30 deputados depende da liberação de verba.
Na reunião, Padilha falou por telefone com o presidente da CEF, Sérgio Cutolo, e pediu um relatório da situação de cada município que tem convênio com a CEF.
Os deputados argumentam que perdem votos nas suas bases porque anunciaram a liberação dos recursos, mas o governo não atendeu as emendas orçamentárias aprovadas pelo Congresso.
"Político admite até perder dinheiro, mas não votos", afirmou o líder do PTB, Paulo Heslander (MG), o porta-voz dos pleitos dos deputados. Heslander disse que perdeu votos devido a recursos prometidos e não liberados.
"Há oito meses o prefeito de Monte Sião (Mário Márcio Zucatto) assinou um convênio com a Caixa para saneamento. Até hoje os recursos não foram liberados. O prefeito me prometeu 3.000 votos, mas agora só garante 1.000."
O líder faz questão de afirmar que não vai votar contra a reforma da Previdência. "A reforma é necessária para o país", disse.
Segundo o petebista Murilo Domingos (MT), nenhuma das suas 15 emendas orçamentárias foram liberadas. "Pelo que eu sei, ninguém liberou nada", disse.
Para ele, isso não deverá interferir diretamente na votação da reforma. "Seria melhor que o Orçamento aprovado pelo Congresso fosse cumprido. Vamos tentar adiantar a votação na semana que vem e esperamos o cumprimento do dever do governo", disse.
Ontem, um novo foco dissidente surgiu no partido do presidente. O deputado Jovair Arantes (PSDB-GO) ameaça fazer oposição se o governo não mudar o tratamento com os tucanos goianos.
"Estamos no Congresso votando coisas importantes, mas precisamos de obras para o Estado. Toda moeda tem dois lados."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.