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SISTEMA FINANCEIRO
CPI descobre dados de transações na BMF com cotações abaixo das praticadas no mercado à vista
Lista mostra negócios com dólar barato
GUSTAVO PATÚ
em São Paulo
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
A CPI dos
Bancos descobriu dados, da
lista de operações de janeiro
na Bolsa de Mercadorias & Futuros, segundo
os quais os bancos Marka e FonteCindam, socorridos pelo governo,
não foram os únicos a comprar dólar barato durante a desvalorização do real.
Entre os dias 13 e 15, quando
houve pouquíssimos negócios no
mercado futuro de dólar, alguns
bancos e fundos fizeram negócios
com cotações muito distantes das
do mercado à vista.
Ao que tudo indica, não se trata
de socorro oficial, uma diferença
importante diante dos casos Marka e FonteCindam. Ainda assim, as
operações levantam dúvidas.
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), uma espécie de xerife
do mercado de capitais, chegou a
investigar essas operações em janeiro e fevereiro, segundo a Folha
apurou.
No dia 13, por exemplo, seis fundos ligados ao Banco Boavista venderam US$ 37,1 milhões à cotação
de R$ 1,237.
Naquela data, o Banco Central
havia permitido que o dólar subisse de R$ 1,21 para R$ 1,32. É difícil
entender por que um fundo venderia barato uma moeda que prometia subir ainda mais.
A resposta pode estar nas operações de outros dois fundos administrados pelo mesmo Boavista,
que, juntos, compraram US$ 33,8
milhões a R$ 1,237 no dia 13.
Não é possível, com os dados da
BM&F em poder da CPI dos Bancos, afirmar que o primeiro grupo
de fundos do Boavista vendeu para
o segundo.
Mas se pode dizer que, considerando apenas essas operações, os
primeiros fizeram um mau negócio, e os segundos, um bom. Procurado pela Folha, o Boavista informou que só pretende se manifestar quando ouvido pela CPI.
A cotação de R$ 1,237 não é por
acaso. Naquele período, os limites
máximos para a variação diária
das cotações que servem de base
para os negócios na BM&F faziam
com que os preços na Bolsa ficassem abaixo do preço à vista. As cotações foram corrigidas gradualmente, só voltando a acompanhar
o preço à vista por volta do dia 20.
Com cotações muito baixas, quase ninguém operou no mercado
futuro naquele período.
Outra exceção foi o Banco Pactual, que vendeu US$ 80 milhões.
No mesmo dia, o Banco Sistema,
ligado ao Pactual, comprou exatamente a mesma quantia.
Há vários outros casos, mas nem
sempre é possível identificar as
possíveis duas pontas da operação
-vendedor e comprador.
No dia 15, o BC desistiu da política de câmbio que era a base do Plano Real e permitiu que as cotações
do dólar flutuassem livremente.
Àquela altura dos acontecimentos, deixar o dólar flutuar equivalia
a deixar o dólar subir. Foi o que
aconteceu: a moeda norte-americana fechou o dia em R$ 1,465.
Isso não impediu que alguns investidores fizessem negócios no
mercado futuro a R$ 1,275 -a
mesma cotação à qual o BC havia
socorrido o Marka no dia anterior.
Foi o caso dos vendedores Credibanco (US$ 10 milhões), Patrimônio (US$ 16 milhões) e Fator (US$
10 milhões). Entre os compradores, o Garantia (US$ 18 milhões) e
dois fundos ligados ao BankBoston (US$ 50 milhões).
Há pelo menos um caso de operação que, aparentemente, começa
no dia 13 e termina no dia 15.
Trata-se do Banco Matrix, que
vende US$ 80 milhões a R$ 1,237. O
mesmo volume é comprado por
três fundos administrados pelo
banco: Matrix Beta Capital Estrangeiro (US$ 16,5 milhões), Matrix T
Capital Estrangeiro (US$ 3,5 milhões) e Geo Summit (US$ 60 milhões).
No dia 15, a operação se inverte,
agora a R$ 1,275: o Matrix compra,
e os fundos vendem, nos mesmos
volumes de dois dias antes.
Uma explicação
No mercado é possível encontrar
uma explicação para os negócios
com cotações muito diferentes das
do mercado à vista.
Segundo essa versão, alguns investidores contornaram os limites
impostos pela BM&F combinando
operações no mercado futuro com
outras de uma segunda modalidade, a de opções.
O mercado de opções tem uma
semelhança com o mercado futuro: são feitas compras e vendas de
dólares com base em uma cotação
futura.
A diferença é que o comprador
da opção tem o direito de decidir
se quer ou não exercê-la.
Por exemplo, se um investidor
comprou um opção de compra de
dólar a R$ 1,80 para uma determinada data, e nessa data o dólar está
em R$ 1,70, a opção não será exercida -porque não interessa comprar por mais o que vale menos.
Em janeiro, havia uma diferença
ainda mais importante: as operações de opções não são sujeitas a limites de preço como os contratos
futuros.
Por isso, bancos e fundos teriam
vendido dólares a cotações mais
baixas no mercado futuro, mas
compensado a diferença por fora,
em negócios com opções.
Estranheza
Segundo a Folha apurou, essa
combinação de operações chamou
a atenção da CVM e da própria
BM&F, que estranharam a estratégia adotada e pediram esclarecimentos aos bancos.
Ao ver negócios feitos abaixo do
preço à vista, a BM&F percebeu
que o complemento estaria sendo
pago de outra forma. Como os negócios com opções foram expressivos, não foi difícil ligar uma coisa a
outra.
Para a BM&F, no entanto, era
positivo que essas operações acontecessem. Quanto mais investidores conseguissem fechar seus negócios naquele momento de alta
instabilidade, menor o risco em
seu mercado.
A CVM chegou a bater na porta
de alguns bancos pedindo explicações. Aparentemente, ficou satisfeita com o que ouviu, pois as investigações não tiveram continuidade. Os departamentos de fiscalização interna dos próprios bancos
também estranharam as transações e fizeram averiguações na
época.
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