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PF SOB SUSPEITA
Em reunião em Brasília, Federação Nacional quer lançar moção de repúdio à direção da Polícia Federal
Policiais criticam "uso eleitoral" do órgão
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Indícios de motivação política
da Polícia Federal na apuração de
suposta denúncia contra o petista
Luiz Inácio Lula da Silva incomodam não apenas o PT, mas também policiais federais.
A Federação Nacional dos Policiais Federais convocou, para
quarta e quinta-feira, em Brasília,
uma reunião para discutir o "uso
político" da PF.
A idéia é lançar uma moção de
repúdio à direção do órgão, hoje
conduzido pelo delegado Itanor
Neves Carneiro, além de pedir a
apuração de irregularidades na
instituição.
"A Polícia Federal está sendo
usada politicamente. E, num ano
eleitoral, também está se transformando em polícia eleitoral", disse
Francisco Carlos Garisto, presidente da federação.
Não falta combustível para os
debates do encontro. O mais recente é a tramitação burocrática
de uma suposta denúncia, encaminhada à CPI do Narcotráfico
em novembro de 2000, segundo a
qual Lula estaria camuflando patrimônio em nome de "laranjas".
A suposta denúncia, recebida
por telefone, foi encaminhada à
PF pelo delegado Alberto Lasserre
Klatzl Filho e não consta dos arquivos da CPI do Narcotráfico.
Tal registro motivou a abertura
de um procedimento que tramitou na instituição por um ano e
meio, período em que o presidenciável petista ficou no alvo dos policiais federais, amparados em
despachos burocráticos, apesar
da inexistência de uma investigação formal.
Na semana passada, o denunciante, Fernando Tenório Cavalcanti, veio a público para dizer
que sua "denúncia" não fazia referência a Lula, mas sim a supostas irregularidades na Prefeitura
de São Bernardo, que é administrada pelo PSDB.
Outro indício de que o procedimento que tinha Lula como alvo
percorreu caminhos tortuosos é
um conflito de datas em um ofício
datado de 4 de abril de 2000.
Assinado pelo agente Gilvan Figueiredo, o documento relata a
visita do denunciante à PF, em
Brasília, no dia 11 do mesmo mês
-portanto, uma semana depois
da elaboração do ofício.
Para os petistas, os despachos
com o timbre da PF foram forjados com datas retroativas para
respaldar uma investigação sobre
o candidato petista.
No encontro dos policiais federais, também serão lembrados os
casos de pelo menos três delegados que foram afastados recentemente de casos importantes, de
grande repercussão eleitoral e sujeitos a pressões políticas.
São eles: Deuselino Valadares,
que conduziu parte das investigações sobre desvios da Sudam e
que culminaram com o fim da
candidatura presidencial da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney; Deuler da Rocha,
afastado do inquérito instaurado
para apurar irregularidades na
privatização das companhias telefônicas quando dizia já recolher
indícios para enquadrar Ricardo
Sérgio de Oliveira, caixa de campanhas de José Serra; e José Francisco de Castilho Neto, que conduzia um caso sobre remessas de
dinheiro ao exterior via contas
CC5 e acabou levantando suspeitas sobre o presidente do PFL, Jorge Bornhausen.
O governo nega interferência
política na Polícia Federal. No dia
5 de junho, num seminário na
academia da PF, em Brasília, o
ministro da Justiça, Miguel Reale
Júnior, cobrou imparcialidade
dos policiais e garantiu que "o governo federal não está, de modo
algum, interferindo no processo
eleitoral para o favorecimento de
quem quer que seja".
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