São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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PF SOB SUSPEITA

Em reunião em Brasília, Federação Nacional quer lançar moção de repúdio à direção da Polícia Federal

Policiais criticam "uso eleitoral" do órgão

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Indícios de motivação política da Polícia Federal na apuração de suposta denúncia contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva incomodam não apenas o PT, mas também policiais federais.
A Federação Nacional dos Policiais Federais convocou, para quarta e quinta-feira, em Brasília, uma reunião para discutir o "uso político" da PF.
A idéia é lançar uma moção de repúdio à direção do órgão, hoje conduzido pelo delegado Itanor Neves Carneiro, além de pedir a apuração de irregularidades na instituição.
"A Polícia Federal está sendo usada politicamente. E, num ano eleitoral, também está se transformando em polícia eleitoral", disse Francisco Carlos Garisto, presidente da federação.
Não falta combustível para os debates do encontro. O mais recente é a tramitação burocrática de uma suposta denúncia, encaminhada à CPI do Narcotráfico em novembro de 2000, segundo a qual Lula estaria camuflando patrimônio em nome de "laranjas".
A suposta denúncia, recebida por telefone, foi encaminhada à PF pelo delegado Alberto Lasserre Klatzl Filho e não consta dos arquivos da CPI do Narcotráfico.
Tal registro motivou a abertura de um procedimento que tramitou na instituição por um ano e meio, período em que o presidenciável petista ficou no alvo dos policiais federais, amparados em despachos burocráticos, apesar da inexistência de uma investigação formal.
Na semana passada, o denunciante, Fernando Tenório Cavalcanti, veio a público para dizer que sua "denúncia" não fazia referência a Lula, mas sim a supostas irregularidades na Prefeitura de São Bernardo, que é administrada pelo PSDB.
Outro indício de que o procedimento que tinha Lula como alvo percorreu caminhos tortuosos é um conflito de datas em um ofício datado de 4 de abril de 2000.
Assinado pelo agente Gilvan Figueiredo, o documento relata a visita do denunciante à PF, em Brasília, no dia 11 do mesmo mês -portanto, uma semana depois da elaboração do ofício.
Para os petistas, os despachos com o timbre da PF foram forjados com datas retroativas para respaldar uma investigação sobre o candidato petista.
No encontro dos policiais federais, também serão lembrados os casos de pelo menos três delegados que foram afastados recentemente de casos importantes, de grande repercussão eleitoral e sujeitos a pressões políticas.
São eles: Deuselino Valadares, que conduziu parte das investigações sobre desvios da Sudam e que culminaram com o fim da candidatura presidencial da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney; Deuler da Rocha, afastado do inquérito instaurado para apurar irregularidades na privatização das companhias telefônicas quando dizia já recolher indícios para enquadrar Ricardo Sérgio de Oliveira, caixa de campanhas de José Serra; e José Francisco de Castilho Neto, que conduzia um caso sobre remessas de dinheiro ao exterior via contas CC5 e acabou levantando suspeitas sobre o presidente do PFL, Jorge Bornhausen.
O governo nega interferência política na Polícia Federal. No dia 5 de junho, num seminário na academia da PF, em Brasília, o ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, cobrou imparcialidade dos policiais e garantiu que "o governo federal não está, de modo algum, interferindo no processo eleitoral para o favorecimento de quem quer que seja".


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