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EUA alertavam a ditadura sobre a cobrança externa
Kissinger avisou sobre a pressão do Congresso dos EUA por causa do desaparecimento do militante político Stuart Angel
Morte de Vladimir Herzog na sede do DOI-CODI em São Paulo, em outubro de 1975, foi recebida com dúvidas pela diplomacia americana
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora pontuados por críticas a abusos contra os direitos
humanos, os telegramas do serviço diplomático americano em
1975 revelam que os EUA também trabalhavam para alertar o
governo brasileiro sobre eventuais problemas políticos no
exterior.
"GOB [governo brasileiro]
deve ser informado rapidamente sobre o crescente interesse congressual [americano]
e a possibilidade de uma forte
reação sobre esse caso", escreveu, em telegrama enviado à
embaixada americana em Brasília, o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger.
Ele se referia ao desaparecimento, em 1971, do estudante e
militante do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) Stuart Edgar Angel Jones,
26, com cidadanias brasileira e
americana.
Stuart era filho da estilista
Zuzu Angel, que morreria num
controverso acidente de trânsito no Rio de Janeiro poucos
meses depois do telegrama de
Henry Kissinger (o documento
é de julho de 75, sua morte,
abril de 76). Além de procurar
personalidades e políticos americanos, ela havia entregue a
Kissinger uma carta na qual
narrou o drama do desaparecimento do filho.
Um dos telegramas diz que os
americanos foram a campo
atrás de resposta sobre o desaparecido. "Buscas em São Paulo, Rio e aqui [Brasília] não revelaram nenhuma significante
informação adicional sobre o
caso", diz o documento, assinado pelo embaixador em Brasília, John Hugh Crimmins.
Os americanos haviam coletado a cópia de uma carta que
revelava o suposto destino de
Stuart. O também preso político Alex Polari de Alverga testemunhou ter visto Stuart sofrer
torturas até a morte no prédio
do Cisa (Centro de Informações da Aeronáutica), em 1971.
Com base nesse depoimento,
segundo os telegramas, Crimmins cobrou uma explicação do
Ministério das Relações Exteriores brasileiro. O embaixador
não se mostrou muito confiante nos resultados: "Nós vamos,
é claro, ficar em contato com a
resposta do ministro das Relações Exteriores, [mas] não vemos nenhum motivo para esperar que será diferente da resposta oficial do passado".
Herzog
Fato marcante de 1975, a
morte do jornalista Vladimir
Herzog na sede do DOI-CODI
em São Paulo, em outubro, foi
recebida pelos americanos com
dúvidas, mas os 12 telegramas
sobre o assunto tornados públicos não tomam partido de nenhuma das versões, a oficial, de
suicídio, ou a do assassinato
sob tortura seguido de uma encenação.
Os americanos receberam
com ironia o resultado do inquérito do Exército aberto para
apurar a morte e divulgado no
final daquele ano. "Ninguém
realmente esperava que o
Exército acusasse a si próprio, e
ninguém ficou surpreso com os
resultados das investigações. A
reação ao relatório tem sido escassa e silenciosa", diz o telegrama assinado pelo embaixador Crimmins.
(RUBENS VALENTE)
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