São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Sindicalista, irmão de Lula é citado em telegrama

DA REPORTAGEM LOCAL

As comunicações sigilosas do serviço diplomático no Brasil de 1975, recém-liberadas pelos EUA, indicam que o governo americano não só acompanhava de perto os sindicatos do ABC paulista como o incentivava, por meio de cursos patrocinados nos Estados Unidos.
Naquele ano, em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a firmar-se como um líder sindical, ao ser eleito presidente do sindicato de São Bernardo do Campo (SP), seu irmão, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, é citado num telegrama dos EUA como tendo sido preso em meio a uma onda de detenções de metalúrgicos supostamente desencadeada pela ditadura militar para combater "laços comunistas".
Segundo o telegrama, Frei Chico continuava preso dois meses após a detenção, ocorrida em outubro. O então presidente da Federação dos Metalúrgicos, Argeu Egydio dos Santos, decidiu, segundo o telegrama, que não deveria denunciar as prisões no exterior. Frei Chico era vice-presidente do sindicato de São Caetano. O presidente, Manoel Constantino, fora preso e, depois, liberado.
Santos esteve com líderes da UAW (United Auto Workers, o sindicato dos trabalhadores na indústria automobilística dos EUA) mas se recusou a fazer denúncias sobre as prisões. Para Santos, isso poderia agravar a situação dos presos. Segundo o telegrama, ele viajou a convite do Departamento do Trabalho, órgão do governo dos EUA.
"Ele [Argeu] explicou que sua estadia oportuna nos EUA lhe possibilitara dizer "não" aos sindicatos mais militantes filiados da periferia industrial de São Paulo, filiados à federação (sindicatos esses que há muito tempo fazem oposição à sua liderança, de qualquer maneira), que queriam que a Federação dos Metalúrgicos assumisse uma posição mais forte contra as prisões. Argeu repetiu sua alegação anterior ao "funcionário do trabalho" [do consulado dos EUA], dizendo que os detidos, incluindo Constantino, tinham de fato algumas vinculações com o Partido Comunista e que, portanto, não teria base forte para protestar contra as prisões deles", diz o telegrama.
Em outro telegrama, no qual Frei Chico é erroneamente identificado como "José Pereira", Santos tem opinião diferente sobre Constantino, mas segue na linha crítica aos militantes mais "à esquerda":
"(...) Santos, que viajou no dia 31 de outubro para Washington para comparecer a um seminário do Departamento do Trabalho, disse ao "funcionário do trabalho" [do consulado americano] que ele não acredita que Manoel Constantino seja comunista. Entretanto, ele alegou que o Sindicato de São Caetano sofre grande influência esquerdista de três importantes e (relativamente) militantes sindicatos de metalúrgicos dos bairros industriais de São Paulo e que Constantino pode ter sido feito de "inocente útil" atrás de quem simpatizantes partidários estavam aptos a operar."
Procurado pela Folha por meio de seu filho, Luciano, Frei Chico não quis comentar os telegramas em que é citado. (RV)


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