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Sindicalista, irmão de Lula é citado em telegrama
DA REPORTAGEM LOCAL
As comunicações sigilosas do
serviço diplomático no Brasil
de 1975, recém-liberadas pelos
EUA, indicam que o governo
americano não só acompanhava de perto os sindicatos do
ABC paulista como o incentivava, por meio de cursos patrocinados nos Estados Unidos.
Naquele ano, em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
começou a firmar-se como um
líder sindical, ao ser eleito presidente do sindicato de São
Bernardo do Campo (SP), seu
irmão, José Ferreira da Silva, o
Frei Chico, é citado num telegrama dos EUA como tendo sido preso em meio a uma onda
de detenções de metalúrgicos
supostamente desencadeada
pela ditadura militar para combater "laços comunistas".
Segundo o telegrama, Frei
Chico continuava preso dois
meses após a detenção, ocorrida em outubro. O então presidente da Federação dos Metalúrgicos, Argeu Egydio dos Santos, decidiu, segundo o telegrama, que não deveria denunciar
as prisões no exterior. Frei Chico era vice-presidente do sindicato de São Caetano. O presidente, Manoel Constantino, fora preso e, depois, liberado.
Santos esteve com líderes da
UAW (United Auto Workers, o
sindicato dos trabalhadores na
indústria automobilística dos
EUA) mas se recusou a fazer
denúncias sobre as prisões. Para Santos, isso poderia agravar
a situação dos presos. Segundo
o telegrama, ele viajou a convite do Departamento do Trabalho, órgão do governo dos EUA.
"Ele [Argeu] explicou que sua
estadia oportuna nos EUA lhe
possibilitara dizer "não" aos sindicatos mais militantes filiados
da periferia industrial de São
Paulo, filiados à federação (sindicatos esses que há muito
tempo fazem oposição à sua liderança, de qualquer maneira),
que queriam que a Federação
dos Metalúrgicos assumisse
uma posição mais forte contra
as prisões. Argeu repetiu sua
alegação anterior ao "funcionário do trabalho" [do consulado
dos EUA], dizendo que os detidos, incluindo Constantino, tinham de fato algumas vinculações com o Partido Comunista
e que, portanto, não teria base
forte para protestar contra as
prisões deles", diz o telegrama.
Em outro telegrama, no qual
Frei Chico é erroneamente
identificado como "José Pereira", Santos tem opinião diferente sobre Constantino, mas
segue na linha crítica aos militantes mais "à esquerda":
"(...) Santos, que viajou no dia
31 de outubro para Washington
para comparecer a um seminário do Departamento do Trabalho, disse ao "funcionário do
trabalho" [do consulado americano] que ele não acredita que
Manoel Constantino seja comunista. Entretanto, ele alegou
que o Sindicato de São Caetano
sofre grande influência esquerdista de três importantes e (relativamente) militantes sindicatos de metalúrgicos dos bairros industriais de São Paulo e
que Constantino pode ter sido
feito de "inocente útil" atrás de
quem simpatizantes partidários estavam aptos a operar."
Procurado pela Folha por
meio de seu filho, Luciano, Frei
Chico não quis comentar os telegramas em que é citado.
(RV)
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