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JANIO DE FREITAS
O passo adiante
Unidos em uma dobradinha
a ponto de trabalharem pela reeleição de um e de outro,
violando no quesito mais importante o princípio da não-ingerência, Fernando Henrique
Cardoso e Carlos Menem adotaram a mesma recusa a investigar denúncias de corrupção,
adotam ambos a transferência
das responsabilidades, mas o
ex-presidente argentino está
agora um passo à frente. E com
esse avanço torna mais compreensível que o presidente brasileiro esteja considerando o
lançamento já, faltando mais
da metade do seu mandato, de
um candidato dos partidos governistas à Presidência.
Liberado na Argentina, o primeiro relatório da Agência Anticorrupção, criada pelo presidente Fernando de la Rúa, demonstra que a corrupção no governo Menem apropriou-se de
pelo menos US$ 3,2 bilhões, em
15 dos casos cujas investigações
o então presidente conseguiu
impedir. Mesmo a obra que o
próprio Menem chamou de
"monumento à corrupção" (orçada em US$ 2,5 bi, custou US$
10 bi) não pôde ser investigada
durante seu governo, como registrou Janaína Figueiredo, jornalista brasileira na Argentina.
As comissões, os desvios de
verbas, o tráfico de influência, o
uso abusivo de cargo no governo, ou saíam de gabinetes palacianos, ou tinham amigos de
Menem como principais artífices e beneficiários. Às investigações e processos contra estes, segue-se uma perspectiva interessante: a possibilidade de processos criminais contra Carlos Menem a partir das constatações
da Agência e de parlamentares.
Crime de responsabilidade.
Intrometer na mídia, como o
pessoal do Planalto começa a fazer, a antecipação do candidato
dos governistas, serve, é claro,
aos esforços da Presidência para
desviar a atenção sobre o que
era feito no gabinete contíguo
ao presidencial. Mas a Presidência já conseguiu esse desvio na
quase totalidade da chamada
"grande imprensa" pelo país
afora, embora por modo muito
menos legítimo do que uma
candidatura.
Se as privatizações já tornavam inquietante a possibilidade
de um eleito alheio ao governo,
mesmo que não de partido oposicionista, a amplitude das valas
abertas pelo caso Eduardo Jorge
favorece um candidato alheio e,
no futuro, os desejosos de passar
em revista os escândalos sufocados pelo governo. Tudo muito
parecido com a Argentina de
antes e de depois da eleição presidencial.
Por aí explicam-se os lamentos dos governistas por ter Fernando Henrique respondido,
pelo porta-voz palaciano, à acusação que lhe fez Ciro Gomes, de
complacência com a corrupção
no governo. Candidato, Ciro
não poderia abdicar da tréplica.
Entrevero logo com ele, que é o
mais temido dos candidatos potenciais conhecidos, pelo temperamento e pelas possibilidades.
Logo ele, a quem os "coordenadores políticos" de Fernando
Henrique -uma espécie de réplica arrogante dos Trapalhões- mais imaginam conquistar.
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