São Paulo, terça-feira, 01 de agosto de 2000


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ELEIÇÕES
Lideranças do movimento dizem que prioridade é promover a reforma agrária e não a disputa nos municípios
Sem-terra candidatos desafiam o MST

ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TEODORO SAMPAIO

Candidatos ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) vão disputar as eleições municipais deste ano contrariando as orientações da direção nacional do movimento.
Gilmar Mauro, líder nacional, afirma que o MST não estimula o lançamento de candidaturas de militantes ou dirigentes, mas vai ajudar a eleger prefeitos e vereadores compromissados com as lutas populares. "Nossa tarefa é continuar organizando os trabalhadores para fazer a reforma agrária", disse.
Mauro diz que alguns militantes lançaram suas candidaturas a vereador e prefeito, mas sem o apoio oficial do MST. Não há uma estimativa de quantos candidatos no país são ligados ao movimento dos sem-terra. Também não há compromisso fechado com nenhum partido, nem mesmo com o PT, segundo Gilmar Mauro.
"Nossa orientação aos companheiros é para que votem em candidatos de partidos progressistas, ou seja, não votem no PSDB ou no PFL". Segundo Mauro, o veto aos partidos é para evitar reforçar as bases do governo FHC, que não teria "compromisso com o povo".
Apesar de as lideranças do movimento tentarem desvincular a política dos objetivos dos sem-terra, candidatos ligados ao MST no Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Pará acreditam que as eleições podem ajudar a projetar o movimento.
No Rio Grande do Sul, três candidatos são originários do movimento, inclusive um deles tentando a reeleição. No Paraná, são 38 candidatos a vereador e dois a vice-prefeito, todos do MST. Já o Mato Grosso do Sul terá dezoito integrantes inscritos nas eleições (leia textos nesta página).
Em Goiás, onde há 5 mil famílias assentadas e mais 6 mil acampadas, ainda não há definição sobre apoios, segundo Valdir Misnerovic, dirigente nacional que atua no Estado. "Não estamos preocupados com isso. Nossa tarefa é fazer a reforma agrária."
No Pontal do Paranapanema, área de maior conflito agrário no Estado de São Paulo, as eleições municipais estão fora da pauta, segundo o líder José Rainha Júnior. Apesar disso, três coordenadores do MST se licenciaram para disputar um cargo de vereador.
Na região, os apoios serão individuais, ou seja, cada dirigente escolhe o seu candidato, independentemente do partido, e está livre até para fazer campanha, mas sem usar a estrutura do MST.
"Estamos acima da política. O MST é um movimento social maior que todas as siglas partidárias", diz Rainha. O Pontal tem 4.800 famílias assentadas e 1.500 morando em acampamentos.

Candidatos
Em Teodoro Sampaio, sede da cooperativa dos assentados do Pontal e onde moram os principais líderes dos sem-terra, há três candidatos a prefeito: Paulo Alves Pires (PSDB), José Carlos Oliveira (PTB) e José Augusto (PT).
Nenhum dos três vai ter o apoio explícito dos sem-terra. Pires, que já disputou e perdeu cinco eleições para o cargo, trocou o PFL pelo PSDB e espera contar novamente com o apoio do "amigo" Rainha. Augusto sonha com os votos e o trabalho em sua campanha dos petistas filiados Diolinda Alves e Cledson Mendes, dirigentes estaduais do MST.
"Não acredito que as eleições municipais melhorem algo", diz Mendes, justificando que os prefeitos da região sempre apóiam a reforma agrária, mas não contribuem em nada para o seu avanço.
"Meu voto para prefeito é secreto", diz Diolinda. Segundo ela, há dezenas de candidatos a vereador entre os assentados do Pontal, mas seu apoio vai para a ex-coordenadora do MST e amiga Miriam Farias de Oliveira, do PT.
Miriam foi ferida a tiros durante a tentativa de invasão da fazenda São Domingos, em fevereiro de 1997, no confronto mais violento já registrado no Pontal. Na época, seis sem-terra foram baleados.
Na eleição de 96, de cinco candidatos majoritários apoiados publicamente pelo MST no Pontal, três se elegeram: Roseval Aparecido Rodrigues (PSDB), de Sandovalina, Mauro Braghato (PSDB), de Presidente Prudente, e Tadeu Saab (PFL), de Mirante do Paranapanema. Os dois primeiros não são candidatos à reeleição e o terceiro foi cassado pela Câmara no ano passado por improbidade administrativa.


Colaboraram José Maschio, em Rio Bonito do Iguaçu, Celso Bejarano Jr., em Campo Grande, Léo Gerchmann, em Porto Alegre, e Luís Indriunas, em Belém


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