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TRANSIÇÃO NO ESCURO
Presidente desconsidera ter seu final de mandato inviabilizado e diz que democracia brasileira resiste a crises
FHC rejeita hipótese de "alfonsinização"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso rejeita qualquer possibilidade de "alfonsinização" -a
antecipação da transmissão de
posse ao sucessor que será eleito
em outubro.
Perante interlocutores, FHC
reagiu com contrariedade à reportagem da Folha de ontem na
qual o vice-presidente nacional
do PPS, o deputado federal João
Herrmann (SP), afirmou ter dito
ao presidente em encontro na segunda-feira que, devido à gravidade da crise econômica, havia
risco de repetição do que aconteceu na Argentina em 1989.
Naquele ano, o então presidente
Raúl Alfonsín, eleito em 1983, foi
obrigado a antecipar a entrega da
faixa presidencial a Carlos Menem porque o país tornara-se ingovernável por causa da crise econômica.
Segundo a Folha apurou, o presidente FHC julgou Herrmann
deselegante por ter tornado pública uma conversa que ele, presidente, considerou de menor importância, por considerar absurda a hipótese de "alfonsinização".
"Há claramente essa hipótese
no Brasil", disse Herrmann ontem à Folha, ao comentar sua
conversa com FHC, à margem do
almoço oferecido ao presidente
de Timor Leste, Xanana Gusmão,
no Palácio da Alvorada.
Na ocasião, Herrmann transmitiu uma espécie de recado da candidatura Ciro Gomes: o presidente tem de conduzir democraticamente a transição, sob pena de
perder o respeito da oposição.
O presidente está ciente da gravidade da atual crise econômica.
Gripado, tem demonstrado abatimento com a disparada do dólar e
a dificuldade de fechar logo novo
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Democracia
No entanto, FHC diz em conversas reservadas que a democracia brasileira já deu provas de que
resiste a crises econômicas. Como
exemplo, cita que nem José Sarney, presidente de 1985 a 1990, foi
obrigado a antecipar a transmissão do cargo ao sucessor, apesar
de o país ter sofrido à época uma
processo de hiperinflação.
Para o presidente, aventar a
possibilidade de "alfonsinização"
é uma forma de alimentar especulações sobre um passado de quebra institucional que ele acredita
superado. Além do controle da
inflação, FHC costuma dizer que
a normalidade institucional de
seus oito anos de poder será um
dos seus principais legados.
Os próprios adversários reconhecem em FHC um mérito: nunca alimentou crises institucionais,
ainda que pagando o preço de ter
sido tachado de tolerante demais
em relação às críticas de adversários e até de alguns aliados.
Para o presidente, ao fechar o
acordo com o FMI, o que deverá
acontecer logo, a turbulência econômica atual se acalmará e o dólar voltará a um patamar inferior
a R$ 3.
FHC não pretende tomar nenhuma atitude nova em relação à
transição para o novo governo. Já
deu orientação ao ministro da Casa Civil, Pedro Parente, para que
crie 51 cargos de confiança na administração federal destinados a
pessoas indicadas pelo sucessor.
Os ocupantes desses cargos poderão ser indicados após a eleição
do novo presidente, em outubro.
Assim, receberão informações de
todos os ministérios e poderão,
antes da transmissão de posse de
1º de janeiro de 2003, preparar as
primeiras medidas do novo governo.
(KENNEDY ALENCAR)
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