|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Os colados
A informação mais relevante do novo Datafolha
não é a maior subida de Ciro
Gomes ou a queda de José Serra, nem a estabilização das posições, que isso já fora captado
e confirmado por sucessivas
pesquisas semanais do Ibope.
O Datafolha veio bem a calhar,
com sua sondagem na terça-feira, para avaliar o que chamam de "colar em Fernando
Henrique e no governo". No final da semana passada, José
Serra resolveu o seu ser ou não
ser, e grudou por inteiro.
Houve, primeiro, o almoço
com Pedro Malan, de quem
Serra divergiu desde o início
do governo, com asperezas
mútuas. Estranha ocasião,
consideradas as leis marqueteiras, para os sorrisos, vídeos e
fotos da confraternização. O
encontro foi feito quando mais
uma vez a política de Pedro
Malan começava a desandar,
pelas causas e modos que faziam do crítico José Serra uma
espécie de governista de oposição. Mesmo em colunas de indisfarçável serrismo, o almoço
foi definido como ato de colagem.
No domingo foi aquele show
de uso do palácio presidencial
para propaganda eleitoral,
com Fernando Henrique, Ruth
Cardoso, José Serra e Rita Camata dirigindo-se ao eleitorado por intermédio da TV dominical e das primeiras páginas de segunda-feira. O "Globo", que já dera a manchete
em que Serra cola em FHC, pôde fazer um jogo de palavras e
dar a manchete "FH e d. Ruth
colam em Serra".
Colar ou não colar, colar em
parte ou descolar em parte, assim se debatiam as correntes
sobre o mais conveniente para
melhorar a viabilidade da candidatura Serra. Enfim abandonada a prática de grudar em
parte, posto o xis na opção colar e acionados os clarins da
mídia, veio o Datafolha. José
Serra com menos quatro pontos, em relação ao Datafolha
anterior.
Por certo os quatro pontos
não se foram por causa da colagem total a Fernando Henrique e ao governo. Mas, tanto
por eles, como pelo maior crescimento de Ciro Gomes, que
abriu dez pontos de vantagem
sobre o terceiro, ficou outra vez
demonstrada a ineficácia, até
agora, da teoria de que a salvação de José Serra está em colar no governo e em Fernando
Henrique.
Nas circunstâncias em que
foi adotada a proposta de colar
por inteiro e diante das declarações ultragovernistas de Serra sobre a crise, o que está passando para o eleitorado é uma
inversão grotesca: em vez de
apoiado, Serra é que está dando solidariedade e apoio ao governo desnorteado.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Câmara: Oposição recorre de foro privilegiado a FHC Índice
|