São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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LIGAÇÕES PERIGOSAS

Expectativa na campanha é que Martinez anuncie saída hoje para evitar prejuízo ao candidato no debate de domingo

Coordenador de Ciro deve deixar cargo

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Coordenador-geral da campanha do presidenciável Ciro Gomes (PPS), José Carlos Martinez (PTB), deverá anunciar sua saída do cargo entre hoje e amanhã.
A expectativa no comando de campanha do ex-governador é a de que o afastamento aconteça ainda hoje, três dias antes do primeiro debate na TV entre os principais candidatos que disputam o Palácio do Planalto.
Com isso, os aliados de Ciro esperam evitar que o empréstimo contraído por Martinez com Paulo César Farias, o PC, ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello, contamine totalmente o debate, garantindo munição aos adversários do ex-governador.
A saída do petebista da coordenação-geral acontece depois de a Folha ter divulgado que Martinez ainda hoje paga parcelas de uma dívida a parentes de PC.
Ontem à noite, o deputado deveria se encontrar com Ciro em São José do Rio Preto (SP), onde o presidenciável passou o dia em campanha, para discutir detalhes sobre o caso. Os dois já haviam se falado por telefone.
O afastamento, entretanto, já era dado como certo por integrantes dos três partidos que compõem a Frente Trabalhista que dá sustentação à candidatura do ex-governador do Ceará -PPS, PTB e PDT.

Pesquisas
Segundo interlocutores de Ciro, pesquisas encomendadas pela frente revelaram que o episódio já influenciava a opinião do eleitorado sobre o candidato, levantando suspeitas a respeito do presidenciável do PPS.
Nos levantamentos, eleitores demonstraram que a presença de um político ligado a PC na campanha diminuía a confiabilidade na candidatura de Ciro.
Martinez, que resistia a deixar o cargo, teria sido informado sobre o conteúdo das pesquisas, dizem. A partir daí, ciente de que tem prejudicado o candidato e, consequentemente, o projeto presidencial de seu próprio partido, decidiu se render às pressões que vinha sofrendo nos últimos dias.

Prejuízo moral
As explicações do coordenador-geral sobre o empréstimo na segunda-feira foram consideradas insuficientes e tardias por boa parte da coligação.
Além das declarações públicas do presidente do PPS, Roberto Freire, também o presidente do PDT, Leonel Brizola, interlocutores de Ciro e pefelistas que apóiam a candidatura do ex-governador afirmavam, em caráter reservado, que a permanência do deputado era insustentável.
Até mesmo no PTB, partido presidido por Martinez, já havia ontem defensores do afastamento imediato do coordenador.
Além do prejuízo eleitoral da manutenção do petebista, mencionavam o ""impacto moral" de ter, entre os encarregados da arrecadação de fundos e do manuseio da contabilidade da campanha, um político cuja imagem está ligada à de PC Farias.

Conselho
No início da campanha, segundo a Folha apurou, Brizola afirmou que o próprio Ciro deveria assumir a coordenação-geral. Mas o presidenciável preferia indicar para o cargo o deputado federal de Minas Gerais Walfrido Mares Guia (PTB).
Acabou oferecendo o posto a Martinez como gratidão pelo esforço do deputado na consolidação de sua candidatura. Como presidente do PTB, Martinez não só manteve a sigla ao lado do presidenciável, como também participou da articulação da aliança com o PDT de Brizola e da aproximação de Ciro com o PFL.
Atuou ainda como bombeiro nas ocasiões em que Roberto Freire deu declarações públicas contra a Frente Trabalhista e quando Brizola ameaçou deixar a coligação depois da indicação de Antônio Britto (PPS), seu desafeto, para a disputa do governo gaúcho.
Daí a resistência do candidato à idéia de um afastamento compulsório. Mas, mesmo tendo afirmado na segunda-feira que o petebista seria mantido no posto, Ciro já torcia para que ele abandonasse a função por iniciativa própria.
Ainda não foi decidido se Martinez será substituído no cargo. Embora Mares Guia seja cotado, a Folha apurou que Brizola novamente aconselhou o presidenciável a assumir a coordenação, agora até como forma de não desprestigiar o petebista.
O deputado deverá se dedicar à sua reeleição, mas poderá participar da campanha de Ciro, ainda que, pelo menos por enquanto, de maneira discreta.


Colaborou a Sucursal de Brasília



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