São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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BANCO DE EVENTOS

Casseb procura definir mecanismos que evitem repetição do episódio da compra de ingressos para o PT

Presidente do BB estuda limitar apoio a shows

CATIA SEABRA
REPORTAGEM LOCAL

Sob uma enxurrada de ataques, o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, deverá anunciar, amanhã, uma série de medidas para impedir a repetição de um indigesto jantar: o de adesão para a compra de uma sede do PT, realizado no mês passado.
Alegando ignorar o objetivo do evento -arrecadar fundos para a compra da sede- a diretoria de marketing do banco comprou 70 mesas, a R$ 1.000, para o show de Zezé di Camargo e Luciano numa churrascaria de Brasília.
Agora, busca um desfecho positivo para o caso, com a adoção de medidas que impeçam sua reedição. Uma delas será determinar que despesas como essas -incluindo patrocínios- só sejam autorizadas depois de submetidas ao controle interno do banco (nas áreas de auditoria e jurídica).
Ainda na semana passada, a diretoria do banco buscava instrumentos legais para permitir esse controle maior. A idéia é que os técnicos sejam ouvidos sem que tenham, por exemplo, voto no conselho que traça a política de marketing do banco.
Outra medida em estudo seria possibilitar que uma compra como essa seja reversível, caso a diretoria do banco perceba sua motivação política. Dentro do Banco do Brasil, um dos argumentos é de que -como não estava expressa nos ingressos- a finalidade do show só foi descoberta após a compra, quando não havia brecha para voltar atrás.
Esse conjunto de medidas será apresentado na terça ao Comitê de Ética do governo. No relatório, o Banco do Brasil não só narrará todo o processo de compra dos ingressos, como apresentará medidas que adotou depois disso.

Respostas
Na semana passada, ainda em meio ao temporal, Casseb pediu para que o diretor de marketing e comunicação da instituição, Henrique Pizzolato, estudasse medidas que servissem de resposta à opinião pública. Pizzolato apresentou cinco sugestões. Agora, o departamento jurídico do banco estatal analisa sua aplicabilidade.
O anúncio se dá num momento delicado em que Casseb tem de responder ao governo se omitiu ou não à Receita Federal a movimentação de recursos no exterior, entre os anos de 1999 e 2002. Segundo reportagem da revista "IstoÉ", Casseb não registrou em sua declaração de renda nove operações que totalizam US$ 593,855 mil. Segundo dados obtidos pelo Ministério da Justiça, o Ministério Público e a CPI do Banestado, Casseb tem um conta no Northern International, em Nova York. Mas, segundo a revista, não informou à receita.
Dar uma resposta ao governo não será tarefa fácil uma semana depois de a Folha tornar público que dois encontros seus com diretores da Telecom Italia foram monitorados pela Kroll, especialmente sem apoio político no governo e no banco.
A nomeação de Casseb foi uma vitória da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, depois de dura queda-de-braço. O deputado Paulo Bernardo (PT-PR) e o ex-deputado Geraldo Magela chegaram a concorrer ao cargo. Mas o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tinha um preferido para a vaga, Nélson Rocha Augusto.
Ligado ao PT sindical e amigo do ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, Pizzolato também foi cogitado para a presidência do BB. Mas, além da dedicação de Marta, o próprio governo quis um homem de mercado para lá. Agora, Casseb estremece sem o suporte da própria diretoria.


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