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Pobre é que deveria se zangar; rico já ganhou muito, diz Lula
Presidente afirma que "alguns querem brincar com a democracia" e desafia seus críticos
Reação ocorre depois de protestos isolados e início do "Cansei'; petista garante que ninguém no país coloca mais gente nas ruas que ele
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Em resposta às vaias e críticas que vem sofrendo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
afirmou, em discurso ontem,
que as manifestações ocorrem
de pessoas que ganharam muito dinheiro no atual governo e
que há muita gente "incomodada com a democracia". Para Lula, se "alguns quiserem brincar
com a democracia", ninguém
neste país "sabe colocar mais
gente nas ruas" do que ele.
O discurso foi feito ontem,
em mais um evento fechado de
lançamento do PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento), em Cuiabá. Foi a mais dura
resposta de Lula desde a vaia
histórica no Maracanã na abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, no dia 13
de julho. Lula ouviu vaias isoladas em outros eventos do PAC.
O forte ataque à oposição
vem também na semana seguinte ao lançamento do movimento "Cansei", organizado
por empresários de São Paulo e
pela OAB, pedindo mudanças
nos rumos do país.
"Se alguns quiserem brincar
com a democracia, eles sabem
que neste país ninguém sabe
colocar mais gente na rua do
que eu. Eles sabem", desafiou.
Lula afirmou que há, no país,
um grupo de pessoas que
apoiou o golpe militar e "está
incomodado com a democracia, porque a democracia pressupõe o pobre ter direitos".
Apesar de acusar a oposição
de não aceitar a derrota na eleição, Lula fez um discurso todo
em tom de campanha. Chegou
inclusive a mencionar o debate
na TV com seu adversário na
eleição passada, o tucano Geraldo Alckmin. "Eu fui quase
que um gentleman na disputa
com meu adversário. Ele, que
era um gentleman, virou quase
que uma coisa louca", disse.
O discurso de ontem foi pontuado por frases de efeito sobre
sua infância pobre e a diferença
de prioridades entre ricos e pobres. "Os que estão vaiando são
os que mais deveriam estar
aplaudindo, posso garantir que
foram os que ganharam muito
dinheiro neste país, no meu governo. Aliás, a parte mais pobre
é que deveria estar mais zangada, porque ela teve menos do
que eles tiveram. É só ver quanto ganham os banqueiros, os
empresários, e vamos continuar fazendo política sem discriminação", afirmou.
O raciocínio é idêntico ao que
fez às vésperas do primeiro turno em 2006: "A única frustração que eu tenho é que os ricos
não estejam votando em mim.
Porque eles ganharam dinheiro
como ninguém no meu governo", disse, então.
O desabafo de ontem tem
tom distinto da reação de Lula
na primeira vez que falou das
vaias no Pan, quando disse que
tinha ficado "triste" porque estava preparado para uma festa.
"Notinha"
O presidente prometeu manter intensa agenda de viagens e
foi irônico em relação à imprensa. "Esse presidente tem
tanto medo de notinha em jornal dizendo que vai ter manifestação que, em 1975, quando
diziam que a porta da Volkswagen tava (sic) cheia de militar
para não fazer assembléia, levantava às 4h para ir fazer assembléia."
Em Campo Grande, Lula respondeu a um protesto de grupo
de aproximadamente 20 universitários que ele chamou de
"meia dúzia de meninos gritando [Fora Lula]. "Alguém de vocês que tenha mais idade, pelo
amor de Deus, diga para que
eles que as eleições acabaram
em outubro", afirmou.
Antes de o presidente sair da
base aérea de Campo Grande,
um grupo de 20 homens da Polícia Militar arrancou quatro
faixas das mãos de ao menos
dez agentes penitenciários. Do
lado de fora da base aérea, os
agentes estenderam as quatro
faixas pedindo a criação da polícia penitenciária. Os manifestantes disseram que a ordem de
arrancar as faixas foi do comando da PM. O governo do Estado
negou. A Secretaria de Imprensa da Presidência informou que
não deu a ordem. '
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