São Paulo, quarta-feira, 01 de agosto de 2007

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Pobre é que deveria se zangar; rico já ganhou muito, diz Lula

Presidente afirma que "alguns querem brincar com a democracia" e desafia seus críticos

Reação ocorre depois de protestos isolados e início do "Cansei'; petista garante que ninguém no país coloca mais gente nas ruas que ele


PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Em resposta às vaias e críticas que vem sofrendo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em discurso ontem, que as manifestações ocorrem de pessoas que ganharam muito dinheiro no atual governo e que há muita gente "incomodada com a democracia". Para Lula, se "alguns quiserem brincar com a democracia", ninguém neste país "sabe colocar mais gente nas ruas" do que ele.
O discurso foi feito ontem, em mais um evento fechado de lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), em Cuiabá. Foi a mais dura resposta de Lula desde a vaia histórica no Maracanã na abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, no dia 13 de julho. Lula ouviu vaias isoladas em outros eventos do PAC.
O forte ataque à oposição vem também na semana seguinte ao lançamento do movimento "Cansei", organizado por empresários de São Paulo e pela OAB, pedindo mudanças nos rumos do país.
"Se alguns quiserem brincar com a democracia, eles sabem que neste país ninguém sabe colocar mais gente na rua do que eu. Eles sabem", desafiou.
Lula afirmou que há, no país, um grupo de pessoas que apoiou o golpe militar e "está incomodado com a democracia, porque a democracia pressupõe o pobre ter direitos".
Apesar de acusar a oposição de não aceitar a derrota na eleição, Lula fez um discurso todo em tom de campanha. Chegou inclusive a mencionar o debate na TV com seu adversário na eleição passada, o tucano Geraldo Alckmin. "Eu fui quase que um gentleman na disputa com meu adversário. Ele, que era um gentleman, virou quase que uma coisa louca", disse.
O discurso de ontem foi pontuado por frases de efeito sobre sua infância pobre e a diferença de prioridades entre ricos e pobres. "Os que estão vaiando são os que mais deveriam estar aplaudindo, posso garantir que foram os que ganharam muito dinheiro neste país, no meu governo. Aliás, a parte mais pobre é que deveria estar mais zangada, porque ela teve menos do que eles tiveram. É só ver quanto ganham os banqueiros, os empresários, e vamos continuar fazendo política sem discriminação", afirmou.
O raciocínio é idêntico ao que fez às vésperas do primeiro turno em 2006: "A única frustração que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque eles ganharam dinheiro como ninguém no meu governo", disse, então.
O desabafo de ontem tem tom distinto da reação de Lula na primeira vez que falou das vaias no Pan, quando disse que tinha ficado "triste" porque estava preparado para uma festa.

"Notinha"
O presidente prometeu manter intensa agenda de viagens e foi irônico em relação à imprensa. "Esse presidente tem tanto medo de notinha em jornal dizendo que vai ter manifestação que, em 1975, quando diziam que a porta da Volkswagen tava (sic) cheia de militar para não fazer assembléia, levantava às 4h para ir fazer assembléia."
Em Campo Grande, Lula respondeu a um protesto de grupo de aproximadamente 20 universitários que ele chamou de "meia dúzia de meninos gritando [Fora Lula]. "Alguém de vocês que tenha mais idade, pelo amor de Deus, diga para que eles que as eleições acabaram em outubro", afirmou.
Antes de o presidente sair da base aérea de Campo Grande, um grupo de 20 homens da Polícia Militar arrancou quatro faixas das mãos de ao menos dez agentes penitenciários. Do lado de fora da base aérea, os agentes estenderam as quatro faixas pedindo a criação da polícia penitenciária. Os manifestantes disseram que a ordem de arrancar as faixas foi do comando da PM. O governo do Estado negou. A Secretaria de Imprensa da Presidência informou que não deu a ordem.
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