São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO

Procuradora defende candidatos de favela

Silvana Batini, do Ministério Público Eleitoral do Rio, afirma ser legítimo que comunidade apóie um nome; "ilegítima é a coação'

Para ela, há aproveitamento político das denúncias de que existem restrições à circulação de candidatos em áreas pobres da capital


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A procuradora da República Silvana Batini, que integra o Ministério Público Eleitoral do Rio, afirmou à Folha considerar legítimo e democrático que uma comunidade carente apóie um candidato nas eleições municipais deste ano.
Por causa da suspeita de que o tráfico de drogas e as milícias venham impondo candidatos ao eleitorado das favelas que controlam, o governo federal estuda reforçar a segurança da campanha no Rio com tropas do Exército e da Força Nacional de Segurança Pública.
"Não é nada ilegítimo que a comunidade tenha um candidato preferido. O que é ilegítimo é a coação, impedir a campanha de outro, impedir a liberdade. Mas, se a comunidade fechar a questão, "vamos apoiar fulano de tal", é do jogo democrático. Garantida a liberdade do eleitor, tudo bem", disse.
Procuradora encarregada, pelo Ministério Público Federal, de ações importantes ligadas ao sistema financeiro, como grampos no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e a acusação de gestão fraudulenta do extinto Banco Nacional, Batini é procuradora regional eleitoral substituta do TRE-RJ.
Para ela, existe aproveitamento político das denúncias de que, no Rio, há restrições à circulação de candidatos em áreas pobres. "Na questão eleitoral, tem que tomar um cuidado redobrado para que aquilo não se torne parte do jogo da disputa política. Claro que tem gente que está faturando em cima disso."
Em relação ao uso das tropas federais na campanha e na eleição, Batini também vê um cenário de motivação política. "Acho que é uma precipitação. A gente sabe que a situação da segurança pública no Rio é muito grave, mas acho que as instituições fluminenses têm condição de dar conta do recado", disse. "O problema do curral eleitoral no Rio de Janeiro existe? Existe. Hoje você tem um curral diferenciado de milícia e do narcotráfico. Curral do narcotráfico é uma novidade. Isso tem que ser apurado. Agora, justifica uma intervenção nesse momento? Acho que não. (...) A estrutura do Estado tem que dar conta."

Preocupação
O presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), Roberto Wider, disse ontem que o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Carlos Ayres Britto, "está preocupado" com a campanha no Rio e quer que o eleitor tenha "garantias de regularidade" no processo eleitoral.
"Segurança não é problema da Justiça Eleitoral. O Estado tem que garantir que os cidadãos possam ir e vir, entrar nos lugares, onde for", disse Wider.
Candidato a vereador, Luiz Cláudio de Oliveira (PSDC), o Claudinho da Academia, entregou ontem ao TRE-RJ certidões da Justiça e da Secretaria de Segurança mostrando que ele foi confundido com homônimos, ao ser acusado de ter 22 anotações criminais.
Claudinho seria o candidato preferido de seu reduto, a favela da Rocinha (zona sul), segundo suspeita da polícia. Chorando, disse ser honesto e que foi condenado sem julgamento. Agora, quer desistir da candidatura, para preservar a família. "Fui chamado de bandido, estuprador. Não agüento mais", afirmou. Ontem, o TRE anunciou o veto a quatro candidatos que apresentam registros criminais em suas fichas.


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