São Paulo, sábado, 01 de agosto de 2009

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Sarney vendeu terra comprada em 2001 de morto em 1996

Em 2002, presidente do Senado negociou como sendo seus 33,88 hectares registrados em nome de ajudante de ordens

Fazenda só foi transferida de assessor para a Divitex, empresa da qual senador é sócio, em 2007, livrando Sarney de pagar impostos

FERNANDA ODILLA
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), vendeu em 2002 terras compradas um ano antes de um comerciante morto em 1996.
Afirmando ser "legítimo possuidor e proprietário", Sarney negociou o terreno registrado no nome de seu ajudante de ordem Wanderley Ferreira de Azevedo. A área, de 33,88 hectares (equivalente a 33 campos de futebol), é parte do sítio São José do Pericumã, na divisa de Goiás com o Distrito Federal.
Segundo registros em cartório de Luziânia (GO) e São Paulo, localizados pela Folha, Wanderley comprou a fazenda em junho de 2001 de Antônio Joaquim de Araújo Mello.
Tonho Mello, como era conhecido na região, foi enterrado em em Luziânia, no dia 12 de dezembro de 1996. Sua morte está registrada em certidão de óbito na cidade goiana.
O negócio pode configurar a prática de crimes como falsidade ideológica e estelionato. Se uma investigação confirmar que o objetivo era fugir de impostos ou ocultar a origem dos recursos, os envolvidos podem responder também por sonegação e lavagem de dinheiro.
Tonho Mello já havia vendido para o senador, no início da década de 1980, outros três terrenos que compõem o Pericumã, cenário de tomada de decisões no período em que Sarney era presidente da República.
Todas as áreas foram incluídas por Sarney em um "compromisso de compra e venda" pelo qual ele negociou os 540 hectares do sítio Pericumã com a Divitex, empresa da qual é sócio. O negócio foi fechado por R$ 3 milhões em 2002.
O documento divide o sítio em 19 partes, entre elas a de 33,88 hectares registrada à época em nome de Wanderley.
Ele já teve cargo no Senado, entre julho de 1995 e fevereiro 1997. Nomeado por Sarney, ocupava vaga na gráfica. Depois, foi empregado na Presidência da República, na cota de assessores de ex-presidentes.
No papel, Wanderley foi dono da área até junho de 2007, quando a repassou para a Divitex por R$ 40 mil. Ocorre que o terreno já fora negociado por Sarney cinco anos antes -compra confirmada pela empresa à reportagem da Folha.
Se Sarney de fato vendeu a área registrada em nome do assessor, sem nunca ter passado para o seu nome, isso o livrou do pagamento de pelo menos um imposto, o ITBI (Imposto Sobre Transmissão de Bens Imóveis) -em Luziânia, 2% sobre o valor da propriedade.
Como mostrou a Folha na última terça-feira, dos 540 hectares do Pericumã negociados por Sarney, 318 estão até hoje registrados em nome de terceiros ou não tiveram os registros localizados. Assim, livrou-se do pagamento do ITBI, que só é cobrado no ato do registro no cartório de imóveis.
Wanderley diz que era o dono de fato das terras, e não Sarney. Questionado por que então o senador negociou a área como se fosse dele, eximiu o chefe de responsabilidade, e levantou a possibilidade de a Divitex ter cometido um erro.


Colaborou PEDRO DIAS LEITE , da Reportagem Local


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