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Sarney vendeu terra comprada em 2001 de morto em 1996
Em 2002, presidente do Senado negociou como sendo seus 33,88 hectares registrados em nome de ajudante de ordens
Fazenda só foi transferida de assessor para a Divitex, empresa da qual senador é sócio, em 2007, livrando Sarney de pagar impostos
FERNANDA ODILLA
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), vendeu
em 2002 terras compradas um
ano antes de um comerciante
morto em 1996.
Afirmando ser "legítimo possuidor e proprietário", Sarney
negociou o terreno registrado
no nome de seu ajudante de ordem Wanderley Ferreira de
Azevedo. A área, de 33,88 hectares (equivalente a 33 campos
de futebol), é parte do sítio São
José do Pericumã, na divisa de
Goiás com o Distrito Federal.
Segundo registros em cartório de Luziânia (GO) e São Paulo, localizados pela Folha,
Wanderley comprou a fazenda
em junho de 2001 de Antônio
Joaquim de Araújo Mello.
Tonho Mello, como era conhecido na região, foi enterrado em em Luziânia, no dia 12
de dezembro de 1996. Sua morte está registrada em certidão
de óbito na cidade goiana.
O negócio pode configurar a
prática de crimes como falsidade ideológica e estelionato. Se
uma investigação confirmar
que o objetivo era fugir de impostos ou ocultar a origem dos
recursos, os envolvidos podem
responder também por sonegação e lavagem de dinheiro.
Tonho Mello já havia vendido para o senador, no início da
década de 1980, outros três terrenos que compõem o Pericumã, cenário de tomada de decisões no período em que Sarney
era presidente da República.
Todas as áreas foram incluídas por Sarney em um "compromisso de compra e venda"
pelo qual ele negociou os 540
hectares do sítio Pericumã com
a Divitex, empresa da qual é sócio. O negócio foi fechado por
R$ 3 milhões em 2002.
O documento divide o sítio
em 19 partes, entre elas a de
33,88 hectares registrada à
época em nome de Wanderley.
Ele já teve cargo no Senado,
entre julho de 1995 e fevereiro
1997. Nomeado por Sarney,
ocupava vaga na gráfica. Depois, foi empregado na Presidência da República, na cota de
assessores de ex-presidentes.
No papel, Wanderley foi dono da área até junho de 2007,
quando a repassou para a Divitex por R$ 40 mil. Ocorre que o
terreno já fora negociado por
Sarney cinco anos antes -compra confirmada pela empresa à
reportagem da Folha.
Se Sarney de fato vendeu a
área registrada em nome do assessor, sem nunca ter passado
para o seu nome, isso o livrou
do pagamento de pelo menos
um imposto, o ITBI (Imposto
Sobre Transmissão de Bens
Imóveis) -em Luziânia, 2% sobre o valor da propriedade.
Como mostrou a Folha na
última terça-feira, dos 540 hectares do Pericumã negociados
por Sarney, 318 estão até hoje
registrados em nome de terceiros ou não tiveram os registros
localizados. Assim, livrou-se do
pagamento do ITBI, que só é
cobrado no ato do registro no
cartório de imóveis.
Wanderley diz que era o dono de fato das terras, e não Sarney. Questionado por que então o senador negociou a área
como se fosse dele, eximiu o
chefe de responsabilidade, e levantou a possibilidade de a Divitex ter cometido um erro.
Colaborou PEDRO DIAS LEITE ,
da Reportagem Local
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