São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006 / CANDIDATOS NA FOLHA

Serra diz que mudará todo o secretariado

Tucano vê acertos na gestão de Saulo de Castro Abreu Filho, mas deixa claro que ele não será mantido na Segurança Pública

Candidato diz que, quando assumiu o compromisso de não deixar a prefeitura de São Paulo, em 2004, havia sido sincero no momento


Fernando Donasci/Folha Imagem
Candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra participou ontem à tarde de sabatina promovida pela Folha no shopping Pateo Higienópolis, na capital paulista

DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO

Ainda tentando driblar constrangimentos no partido, o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, disse ontem que, "a princípio", trocará todo o secretariado deixado pelo ex-governador e candidato à Presidência, Geraldo Alckmin, caso seja eleito. Disposto a evitar deslizes que comprometam sua folgada liderança na disputa, Serra se esquivou de polêmicas na sabatina promovida pela Folha.
Embora reconhecendo que a estratégia do Estado "não resolveu o problema" [da segurança], Serra apontou "acertos na gestão" do secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. Mas, ao responder se ele seria mantido no cargo, disse que não está "fazendo secretariado". "Isso dá azar. Primeiro tem que ganhar a eleição. Em princípio, vou fazer alteração em toda a equipe. Mas aí não é focalizado apenas na segurança, aqui ou acolá".
Chamando de ranhetas os tucanos que o acusam de falta de apetite na defesa de Alckmin, Serra contornou, mais uma vez, questão sobre a possibilidade de entendimento com o governo Lula. "Isso põe água no moinho. Não vou discutir essa hipótese. É uma artimanha, não posso entrar nela".
Leia trechos da sabatina.

Política de segurança
Sobre a linha adotada pelo governo do Estado, disse que "teve uma estratégia determinada que não resolveu o problema". Segundo ele, o fato de a população carcerária ter triplicado "piorou a qualidade" das prisões. Para Serra, Saulo teve acertos e pacificou as polícias. "Corporação sempre é um problema." Ressaltou ainda um "avanço considerável" em combate a homicídios, latrocínios e a criação do Infocrim (sistema eletrônico de informação que interliga os distritos policiais na capital). "No atacado, ele acertou mais do que errou." Ainda assim, Serra deixou claro que, se eleito, Saulo não deve permanecer no cargo.
Na saída, questionado se tem críticas à equipe do secretário, disse que o saldo de trabalho do grupo é positivo e que a tendência "em princípio" é ter nova equipe, o que pode implicar trocas de cargos das mesmas pessoas.

PT e PCC
O candidato do PSDB afirmou nunca ter dito que "o PT instruía o PCC", mas, citando gravações, disse que "havia essa nítida preferência [do PCC pelo PT] manifestada". "Não fiz acusação, a forma com que disse deve ter dado margem a outra interpretação", reconheceu.
Ele disse que não telefonou ao governador Cláudio Lembo, em meio à primeira crise do PCC, para não atrapalhar. "Vou ligar para dar qual fórmula? (...) Do meu ângulo, não foi descaso." Serra se disse favorável ao Regime Disciplinar Diferenciado nas prisões. "Se tem gente que, dentro da prisão, não está ligando para ser recondenado, não está ligando para nada, continua encontrando formas de dirigir o crime, você tem que ter o regime de isolamento maior. Se for necessário, faremos outro presídio de RDD."

Exército
O candidato afirmou que o próprio Exército rejeita sua convocação para crises de segurança no Estado. "Quem não quer entrar nessa é o próprio Exército, que não é preparado para esse tipo de ação. Não aceitaria. O Lembo atuou corretamente. Minha opinião é mais subjetiva, mas acho que foi mais marketing."

Mensalão
"Diante de tudo o que aconteceu no Brasil, é surpreendente que Lula tenha conseguido até agora surfar essa onda", disse sobre o descolamento da imagem do presidente dos escândalos de corrupção. Foi incisivo ao responder que tem convicção de que Lula sabia o que ocorria em seu governo. "Ah, tenho. Podia não saber em detalhes."Para ele, o presidente foi conivente com o mensalão. Questionado se achava Lula corrupto, desconversou: "Estou falando de conhecimento, não de corrupção".

Caixa dois e sanguessugas
O tucano negou ter feito caixa dois (despesas não-contabilizadas) em campanhas eleitorais. "Caixa dois tem dinheiro e recebe por fora. Nem seria caixa dois, seria dívida dois. Uma coisa é despesa prevista, outra é realizada. Não tive caixa dois."
Isentou-se de responsabilidade ao ser indagado sobre sua atuação como ministro da Saúde na época em que operou a máfia dos sanguessugas. "A responsabilidade é da esfera que recebe os recursos." Segundo o candidato, o controle da verba deve ser feito por tribunais de contas e pela CGU (Controladoria Geral da União).
"O ministério dava curso a emendas aprovadas no Orçamento. Nunca pusemos recursos para emendas. O Congresso aprovava, nós liberávamos. Era coisa de 1.500 emendas. Liberávamos todas, sem discriminação partidária. Não havia criação de dificuldade para vender facilidade."

Prefeitura
Serra teve que justificar sua renúncia à prefeitura para concorrer ao governo do Estado, após ter assinado, em 2004, em sabatina na Folha, termo garantindo que concluiria seu mandato, caso eleito. "Vi bastante esse papel, nos jornais e na TV. Fui absolutamente sincero naquele momento. Nem era um documento, era um papel. Não levei a cartório." Segundo ele, "as circunstâncias" o levaram a outra conclusão.

Alckmin
Serra justificou sua ausência no evento que reuniu Alckmin e empresários ontem. "O que teria a acrescentar em um almoço de empresários que já estão com ele?" Mesmo assim, admitiu que há queixas quanto a seu empenho na candidatura do presidenciável. "Não duvido que algum ranheta do PSDB me venha com isso."
Também teve de explicar por que não há aparição de Alckmin em seu programa na TV. "Quem toca o programa é a mesma equipe [do Alckmin]. Não vejo, exceto a minha fala. Às vezes, sai imprecisão e eu que tenho que responder."

Apoios
Serra comentou a adesão do PTB à sua candidatura: disse que aprova o apoio do ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho. "Do outro [o ex-prefeito Celso Pitta], não gosto." Segundo ele, o governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), ainda não declarou seu apoio a Lula, mas, "se declarar, é um passo muito errado".
Serra negou negociação com integrantes do governo, para o caso de Lula se reeleger. "Dizer que [o presidente] ajudaria um e prejudicaria outro é um desmerecimento, um ataque ao Lula. Alckmin seria melhor, mas não acho que Lula discriminará SP." O tucano não quis responder se apoiará a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (PFL) em 2008. Segundo ele, Kassab "pode vir a ser um nome". Depois, incorreu em um ato falho ao se referir ao partido do prefeito pefelista.
"Uma coisa tenha certeza: vamos continuar caminhando juntos, PSDB e PMDB, quer dizer, PFL."

Debates
Em entrevista, Serra disse que enquanto o "petista-mor" [Lula] não for a debates, não poderá ser cobrado pelos adversários. "Sempre fui a debates. Vim aqui à Folha todas as vezes em que fui convidado. Mas tem que ser uma coisa produtiva. O Alckmin é candidato a presidente e tem lá sua disputa com o Lula. Sou candidato a governador e não vou servir de alavanca promocional a ninguém. Faço comentários e me manifesto sobre propostas quando as acho construtivas."
Lembrado que chamava o Lula de fujão, em 2002, alegou: "No segundo turno, são outros quinhentos. A distância do Lula em relação aos outros é muito menor que a minha. E ele tem grandes questões nacionais para debater."

Economia
Serra disse que a indústria automobilística não sobreviverá ao câmbio e duvidou que o PT tenha competência para mudar a política econômica. "O governo Lula tem tido a melhor conjuntura externa que um governo teve dos anos 30 para cá", disse. Mas, segundo ele, a gestão petista "não aproveitou" o ambiente favorável. "Em termos relativos, a economia brasileira cresceu menos no governo Lula do que no FHC. (...) Eles não têm diagnóstico. Não têm conhecimento de economia. Se deixaram levar por interesses. Não têm competência para bancar outra política."

Propostas
Dizendo-se contra a legalização do aborto e à reeleição, Serra brincou quando perguntaram suas qualidades para governar São Paulo. "Você me obriga à "imodéstia". Tem que ver experiência, coerência, coragem para enfrentar interesses. Acho que tenho mais que os outros", respondeu.
Na educação, defendeu não só a adoção de dois professores por sala de aula (um titular e um auxiliar, estagiários de pedagogia e letras) mas também a manutenção da mesma professora no primeiro e segundo anos do ensino fundamental para criar "vínculo, acompanhamento". "Mas ainda não discuti com os educadores."

Deturpação
Serra classificou como "a forma mais infame de deturpação que já sofri na minha vida pública" o uso feito pelo adversário Aloizio Mercadante (PT) de uma declaração sua, sobre a educação, para acusá-lo de preconceito contra nordestinos. "Uma frase minha cortada ao meio, usada da forma mais oportunista", defendeu-se. Em provocação a Mercadante, Serra elogiou a ex-prefeita Marta Suplicy. Segundo ele, "ela tinha coisas para mostrar".


Texto Anterior: Lula quer que Alckmin perca tempo na TV
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.