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ELEIÇÕES 2006 / CANDIDATOS NA FOLHA
Serra diz que mudará todo o secretariado
Tucano vê acertos na gestão de Saulo de Castro Abreu Filho, mas deixa claro que ele não será mantido na Segurança Pública
Candidato diz que, quando
assumiu o compromisso de
não deixar a prefeitura de
São Paulo, em 2004, havia
sido sincero no momento
Fernando Donasci/Folha Imagem
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Candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra participou ontem à tarde de sabatina promovida pela Folha no shopping Pateo Higienópolis, na capital paulista
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO
Ainda tentando driblar constrangimentos no partido, o
candidato do PSDB ao governo
de São Paulo, José Serra, disse
ontem que, "a princípio", trocará todo o secretariado deixado
pelo ex-governador e candidato
à Presidência, Geraldo Alckmin, caso seja eleito. Disposto a
evitar deslizes que comprometam sua folgada liderança na
disputa, Serra se esquivou de
polêmicas na sabatina promovida pela Folha.
Embora reconhecendo que a
estratégia do Estado "não resolveu o problema" [da segurança], Serra apontou "acertos
na gestão" do secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. Mas, ao responder se ele seria mantido no
cargo, disse que não está "fazendo secretariado". "Isso dá
azar. Primeiro tem que ganhar
a eleição. Em princípio, vou fazer alteração em toda a equipe.
Mas aí não é focalizado apenas
na segurança, aqui ou acolá".
Chamando de ranhetas os
tucanos que o acusam de falta
de apetite na defesa de Alckmin, Serra contornou, mais
uma vez, questão sobre a possibilidade de entendimento com
o governo Lula. "Isso põe água
no moinho. Não vou discutir
essa hipótese. É uma artimanha, não posso entrar nela".
Leia trechos da sabatina.
Política de segurança
Sobre a linha adotada pelo
governo do Estado, disse que
"teve uma estratégia determinada que não resolveu o problema". Segundo ele, o fato de a
população carcerária ter triplicado "piorou a qualidade" das
prisões. Para Serra, Saulo teve
acertos e pacificou as polícias.
"Corporação sempre é um problema." Ressaltou ainda um
"avanço considerável" em combate a homicídios, latrocínios e
a criação do Infocrim (sistema
eletrônico de informação que
interliga os distritos policiais
na capital). "No atacado, ele
acertou mais do que errou."
Ainda assim, Serra deixou claro
que, se eleito, Saulo não deve
permanecer no cargo.
Na saída, questionado se tem
críticas à equipe do secretário,
disse que o saldo de trabalho do
grupo é positivo e que a tendência "em princípio" é ter nova
equipe, o que pode implicar
trocas de cargos das mesmas
pessoas.
PT e PCC
O candidato do PSDB afirmou nunca ter dito que "o PT
instruía o PCC", mas, citando
gravações, disse que "havia essa
nítida preferência [do PCC pelo
PT] manifestada". "Não fiz acusação, a forma com que disse
deve ter dado margem a outra
interpretação", reconheceu.
Ele disse que não telefonou
ao governador Cláudio Lembo,
em meio à primeira crise do
PCC, para não atrapalhar. "Vou
ligar para dar qual fórmula? (...)
Do meu ângulo, não foi descaso." Serra se disse favorável ao
Regime Disciplinar Diferenciado nas prisões. "Se tem gente
que, dentro da prisão, não está
ligando para ser recondenado,
não está ligando para nada,
continua encontrando formas
de dirigir o crime, você tem que
ter o regime de isolamento
maior. Se for necessário, faremos outro presídio de RDD."
Exército
O candidato afirmou que o
próprio Exército rejeita sua
convocação para crises de segurança no Estado. "Quem não
quer entrar nessa é o próprio
Exército, que não é preparado
para esse tipo de ação. Não
aceitaria. O Lembo atuou corretamente. Minha opinião é
mais subjetiva, mas acho que
foi mais marketing."
Mensalão
"Diante de tudo o que aconteceu no Brasil, é surpreendente que Lula tenha conseguido
até agora surfar essa onda", disse sobre o descolamento da
imagem do presidente dos escândalos de corrupção. Foi incisivo ao responder que tem
convicção de que Lula sabia o
que ocorria em seu governo.
"Ah, tenho. Podia não saber em
detalhes."Para ele, o presidente
foi conivente com o mensalão.
Questionado se achava Lula
corrupto, desconversou: "Estou falando de conhecimento,
não de corrupção".
Caixa dois e sanguessugas
O tucano negou ter feito caixa dois (despesas não-contabilizadas) em campanhas eleitorais. "Caixa dois tem dinheiro e
recebe por fora. Nem seria caixa dois, seria dívida dois. Uma
coisa é despesa prevista, outra é
realizada. Não tive caixa dois."
Isentou-se de responsabilidade ao ser indagado sobre sua
atuação como ministro da Saúde na época em que operou a
máfia dos sanguessugas. "A responsabilidade é da esfera que
recebe os recursos." Segundo o
candidato, o controle da verba
deve ser feito por tribunais de
contas e pela CGU (Controladoria Geral da União).
"O ministério dava curso a
emendas aprovadas no Orçamento. Nunca pusemos recursos para emendas. O Congresso
aprovava, nós liberávamos. Era
coisa de 1.500 emendas. Liberávamos todas, sem discriminação partidária. Não havia
criação de dificuldade para
vender facilidade."
Prefeitura
Serra teve que justificar sua
renúncia à prefeitura para concorrer ao governo do Estado,
após ter assinado, em 2004, em
sabatina na Folha, termo garantindo que concluiria seu
mandato, caso eleito. "Vi bastante esse papel, nos jornais e
na TV. Fui absolutamente sincero naquele momento. Nem
era um documento, era um papel. Não levei a cartório." Segundo ele, "as circunstâncias"
o levaram a outra conclusão.
Alckmin
Serra justificou sua ausência
no evento que reuniu Alckmin
e empresários ontem. "O que
teria a acrescentar em um almoço de empresários que já estão com ele?" Mesmo assim,
admitiu que há queixas quanto
a seu empenho na candidatura
do presidenciável. "Não duvido
que algum ranheta do PSDB me
venha com isso."
Também teve de explicar por
que não há aparição de Alckmin em seu programa na TV.
"Quem toca o programa é a
mesma equipe [do Alckmin].
Não vejo, exceto a minha fala.
Às vezes, sai imprecisão e eu
que tenho que responder."
Apoios
Serra comentou a adesão do
PTB à sua candidatura: disse
que aprova o apoio do ex-governador Luiz Antônio Fleury
Filho. "Do outro [o ex-prefeito
Celso Pitta], não gosto." Segundo ele, o governador do Ceará,
Lúcio Alcântara (PSDB), ainda
não declarou seu apoio a Lula,
mas, "se declarar, é um passo
muito errado".
Serra negou negociação com
integrantes do governo, para o
caso de Lula se reeleger. "Dizer
que [o presidente] ajudaria um
e prejudicaria outro é um desmerecimento, um ataque ao
Lula. Alckmin seria melhor,
mas não acho que Lula discriminará SP." O tucano não quis
responder se apoiará a reeleição do prefeito Gilberto Kassab
(PFL) em 2008. Segundo ele,
Kassab "pode vir a ser um nome". Depois, incorreu em um
ato falho ao se referir ao partido
do prefeito pefelista.
"Uma coisa tenha certeza:
vamos continuar caminhando
juntos, PSDB e PMDB, quer dizer, PFL."
Debates
Em entrevista, Serra disse
que enquanto o "petista-mor"
[Lula] não for a debates, não
poderá ser cobrado pelos adversários. "Sempre fui a debates. Vim aqui à Folha todas as
vezes em que fui convidado.
Mas tem que ser uma coisa
produtiva. O Alckmin é candidato a presidente e tem lá sua
disputa com o Lula. Sou candidato a governador e não vou
servir de alavanca promocional
a ninguém. Faço comentários e
me manifesto sobre propostas
quando as acho construtivas."
Lembrado que chamava o
Lula de fujão, em 2002, alegou:
"No segundo turno, são outros
quinhentos. A distância do Lula em relação aos outros é muito menor que a minha. E ele
tem grandes questões nacionais para debater."
Economia
Serra disse que a indústria
automobilística não sobreviverá ao câmbio e duvidou que o
PT tenha competência para
mudar a política econômica. "O
governo Lula tem tido a melhor
conjuntura externa que um governo teve dos anos 30 para cá",
disse. Mas, segundo ele, a gestão petista "não aproveitou" o
ambiente favorável. "Em termos relativos, a economia brasileira cresceu menos no governo Lula do que no FHC. (...)
Eles não têm diagnóstico. Não
têm conhecimento de economia. Se deixaram levar por interesses. Não têm competência
para bancar outra política."
Propostas
Dizendo-se contra a legalização do aborto e à reeleição, Serra brincou quando perguntaram suas qualidades para governar São Paulo. "Você me
obriga à "imodéstia". Tem que
ver experiência, coerência, coragem para enfrentar interesses. Acho que tenho mais que
os outros", respondeu.
Na educação, defendeu não
só a adoção de dois professores
por sala de aula (um titular e
um auxiliar, estagiários de pedagogia e letras) mas também a
manutenção da mesma professora no primeiro e segundo
anos do ensino fundamental
para criar "vínculo, acompanhamento". "Mas ainda não
discuti com os educadores."
Deturpação
Serra classificou como "a forma mais infame de deturpação
que já sofri na minha vida pública" o uso feito pelo adversário Aloizio Mercadante (PT) de
uma declaração sua, sobre a
educação, para acusá-lo de preconceito contra nordestinos.
"Uma frase minha cortada ao
meio, usada da forma mais
oportunista", defendeu-se. Em
provocação a Mercadante, Serra elogiou a ex-prefeita Marta
Suplicy. Segundo ele, "ela tinha
coisas para mostrar".
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