São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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Delegados rompem silêncio sobre mensalão

DA REPORTAGEM LOCAL
EM SÃO PAULO

O esforço da direção do PT de manter completamente escondido o debate a respeito dos escândalos enfrentados pelo partido naufragou ontem à noite, com vários discursos tocando na ferida do "mensalão".
O discurso mais contundente foi do ex-deputado federal Gilney Viana, um delegado do Mato Grosso, que não conteve o desencanto com o partido.
"O partido foi buscar em Minas Gerais um caloteiro e safado que tinha feito esquema com o PSDB", disse Viana, em referência ao publicitário Marcos Valério de Souza. "Eu estou muito puto com tudo o que aconteceu e quem não estiver puto não tem consciência petista", disse, sob aplausos.
Sobrou também para o ex-tesoureiro Delúbio Soares: "Nós precisamos construir uma nova relação na qual o tesoureiro não possa fazer o que foi feito".
Viana, que pertence a uma pequena tendência de oposição à direção partidária, foi sucedido na tribuna pelo ex-ministro Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário), alinhado ao grupo do ministro Tarso Genro (Justiça): "Não é justo dizer que a responsabilidade e os erros foram de todos nós", disse.
José Genoino (PT-SP), deputado federal e ex-presidente do partido, questionou a denúncia e acusação dos ministros do STF contra ele no caso do mensalão: "Estou de cabeça erguida. Meu patrimônio é o mesmo há 24 anos". João Paulo Cunha (PT-SP), deputado e ex-presidente da Câmara, também falou: "Eu deixaria todos os meus mandatos (...) para não ter tido um minuto dessa tormenta".
Apesar da polêmica, é improvável que as resoluções finais contenham linguagem forte de alguns discursos, pois a direção do partido quer evitar o tema.
O PT também aprovou resolução reafirmando sua opção pelo "socialismo", mesmo já tendo aceito a economia de mercado, o respeito aos contratos e até as privatizações. Coube ao chefe da assessoria especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, defender a versão petista do socialismo: "No momento atual, a cultura socialista atravessa um longo período de crise. [...] Nossa opção é pelo socialismo democrático", disse, sob aplausos.
O socialismo defendido pelo PT não tem mais relação direta com o marxismo e menos ainda com o dos regimes comunistas que ruíram no Leste da Europa. Mas continua sendo um importante laço a unir as várias tendências, tanto que foi o tema que levantou menos polêmica: "Já houve quem tentasse, no passado, retirar o caráter socialista do PT, então essa reafirmação é necessária", disse Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais. (FZ, CS e JAB)


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