São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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NOVA AGENDA

Inocêncio disse estar "à esquerda de Malan"

PFL defende rever metas com o FMI

DENISE MADUEÑO
RAQUEL ULHÔA
da Sucursal de Brasília

O PFL defendeu ontem a revisão das metas do acordo firmado entre o governo brasileiro e o FMI (Fundo Monetário Internacional). O partido disse estar "à esquerda" do ministro Pedro Malan (Fazenda).
Outros líderes da base aliada do governo, como Jader Barbalho (PMDB) e José Roberto Arruda (PSDB), também defendem a revisão das metas de ajuste fiscal negociadas com o Fundo, que prevêem uma economia de R$ 30,185 bilhões, neste ano, para o pagamento de juros da dívida pública.
As declarações dos aliados foram desencadeadas pela nova retórica do FMI, manifestada por seu diretor-gerente, Michel Camdessus, em favor do combate à pobreza.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), disse que o partido "é a favor de tudo aquilo que puder dar vantagem ao país". Ele afirmou que vai apresentar sugestões ao governo de itens do acordo que devem ser mudados, para "resolver com a maior brevidade" o problema da pobreza.
"O PFL deseja a renegociação com o FMI para combater as desigualdades sociais e fazer cumprir uma agenda social. O PFL está à esquerda de Malan", afirmou o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE).
Há cerca de um mês, ACM deu um ultimato a Malan, afirmando que a política de ajuste precisaria mostrar resultados em termos de crescimento econômico em três ou quatro meses. Do contrário, o próprio cargo de Malan poderia estar ameaçado.
O PFL se somou ontem a outros aliados do presidente Fernando Henrique Cardoso que querem rever o acordo com o Fundo. O presidente do PMDB, senador Jader Barbalho (PA), afirmou não ser possível manter a política de juros altos que agrava a situação social.
"É positivo que o FMI veja que os países ajudados por ele não são escritórios de contabilidade. E que existem pessoas com direito a educação, a saúde e a melhores condições de vida, que estão sendo sacrificadas por suas normas rígidas", afirmou Jader.
As críticas ao FMI partem também do próprio partido do presidente. O líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF), disse que o Fundo precisa "ser mais sensível" às questões sociais. "Não tenho dúvida de que as metas do FMI passarão por uma revisão", afirmou Arruda.
Segundo Inocêncio, quando o acordo com o FMI foi firmado o Brasil vivia uma crise econômica, mas agora é necessário levar em consideração novos indicadores e novos números para um outro acordo.
"O governo precisa cumprir uma agenda social. Estamos realistas com a situação do país", disse Inocêncio. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), fez um discurso no Senado cobrando política do governo de combate ao desemprego.
"No novo cenário que passaremos a viver, vamos crescer sim e o PFL deseja e quer que o crescimento brasileiro se faça acompanhado da geração de empregos", afirmou Bornhausen.
O PFL criticou também o modelo de privatização do país. O partido quer uma privatização pulverizada, como o modelo inglês. Os trabalhadores poderiam comprar ações com dinheiro do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
O líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), afirmou que o acordo com o FMI foi proposto pelo país. "Estamos trabalhando na linha de redução das taxas de juro", afirmou.


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