São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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Presidente discursa em ato pró-Serra e insinua que Lula não mudou e tem soluções dos anos 60 para o século 21

FHC vê risco de 'passo no escuro'

LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL A CONTAGEM

O presidente Fernando Henrique Cardoso estreou ontem, a menos de uma semana das eleições, sua participação em ato público eleitoral ao lado do seu candidato, José Serra, com discurso no qual disse que é preciso continuar mudando para melhor, "e não dando um passo no escuro".
"O país não muda só pela vontade de seus líderes. O país muda quando esses líderes são a expressão da vontade desse povo. E esse povo de Minas é um povo que quer continuar mudando, mas mudar para melhor, e não dando um passo no escuro. Quer avançar com firmeza."
Sem citar o nome do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), FHC criticou políticos brasileiros que não evoluíram e insinuou que o petista mudou apenas na aparência, mas a "cabeça" ainda estaria presa no passado, com "soluções dos anos 60 para resolver problemas do século 21".
"[O país está cheio" de pessoas que não entenderam que mudou o país, que mudou o Brasil, que mudou o mundo e que propõem como futuro o passado. Passado do qual não fazem nem sequer a crítica. E se dão ao luxo simplesmente de dizer: "Eu mudei". Mas mudou para que direção?", disse.
E completou: "Mudar é outra coisa. É ter outra concepção na cabeça. Não é ser mais sorridente. Não é trajar melhor ou pior. Não é simplesmente ter uma maneira mais agradável. Para dirigir um país tem que ver a cabeça como está. Foi capaz de entender os desafios do mundo ou não? Ou continua pensando que, se nós adotarmos as soluções dos anos 60, elas vão resolver os problemas do país no século 21? Não. O século 21 requer outro tipo de cabeça, outro tipo de liderança, outro tipo de prática, outro tipo de proposta, outro tipo de clareza, outro tipo de franqueza".
FHC falou para cerca de 500 pessoas durante meia hora em ato político em Contagem (MG) ao lado de Serra e do candidato ao governo mineiro Aécio Neves (PSDB). O presidente foi para Contagem após reunião com o governador Itamar Franco (MG). Segundo o coordenador da campanha de Serra, Pimenta da Veiga, o partido pagou a viagem de Belo Horizonte a Contagem.

Primeira vez
Até ontem, a participação de FHC na campanha havia se restringido a uma aparição no primeiro programa de Serra na TV. Depois disso, ele se limitou a dar algumas declarações de apoio ao tucano -chegou a discordar de estratégias da campanha.
As críticas de FHC a Lula são evidência dessa discordância. O presidente sempre defendeu um debate programático, insistindo na falta de experiência do petista e em inconsistências de projetos.
Já a campanha de Serra optou, na avaliação de FHC, por mesclar isso com desqualificação pessoal. Exemplo: FHC discordou da peça de TV tucana que questionou a falta de diploma universitário para ser presidente. Ontem, FHC insistiu na importância da experiência administrativa e disse que livros e universidade "não são suficientes, mas também contam".
Em seu discurso, fez ainda menção a alianças para apontar um exemplo de inconsistência da oposição. Indiretamente, estava se referindo à aliança do PT com o PL, partido que indicou o vice de Lula -o mineiro José Alencar.
"Hoje se misturam alhos com bugalhos, azeite com vinho e com água. Não se sabe que cor tem, não se sabe dessa mistura o que sai. E cada um, para se juntar com o outro, em vez de dizer o que pensa e o que vai fazer, faz de conta que vai fazer tudo sem dizer o que vai fazer: Nada!", disse.
Para apontar qualidades de Serra, FHC afirmou que não se trata de escolher entre "pessoas", mas entre "caminhos". "Está se tomando uma decisão muito séria, porque se está escolhendo, aparentemente, entre pessoas, quando na verdade está se escolhendo caminhos. Talvez não se saiba qual é o outro caminho, até porque, quando [os opositores" falam de coisas práticas, falam do nosso caminho. E se esqueceram de que levaram anos propondo outro caminho. Tomara que tenham esquecido mesmo. Porque o caminho que propunham não tem viabilidade." E finalizou: "Mas, se o caminho é o mesmo, por que não permitir que ele seja seguido por aqueles que o trilham melhor? Aí entra Serra".
O presidente reforçou a tese tucana da coerência da candidatura Serra, dizendo que ele "não enganou ninguém" na sua campanha.
Ao encerrar seu discurso, FHC fez um apelo para que não se vote "pela emoção": "Não é uma decisão simples, que possa ser levada só pela emoção", disse. "Está em jogo a possibilidade ou não de o Brasil continuar a avançar para ser um país respeitado e desenvolvido ou do Brasil ir para trás. Eu não quero que o Brasil recue e que o Brasil vire outra vez um país que não tem respeitabilidade. Eu não quero que o Brasil tenha um sonho de ser um país atrasado."


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