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Presidente discursa em ato pró-Serra e insinua que Lula não mudou e tem soluções dos anos 60 para o século 21
FHC vê risco de 'passo no escuro'
LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL A CONTAGEM
O presidente Fernando Henrique Cardoso estreou ontem, a
menos de uma semana das eleições, sua participação em ato público eleitoral ao lado do seu candidato, José Serra, com discurso
no qual disse que é preciso continuar mudando para melhor, "e
não dando um passo no escuro".
"O país não muda só pela vontade de seus líderes. O país muda
quando esses líderes são a expressão da vontade desse povo. E esse
povo de Minas é um povo que
quer continuar mudando, mas
mudar para melhor, e não dando
um passo no escuro. Quer avançar com firmeza."
Sem citar o nome do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), FHC criticou políticos brasileiros que não evoluíram e insinuou que o petista mudou apenas
na aparência, mas a "cabeça" ainda estaria presa no passado, com
"soluções dos anos 60 para resolver problemas do século 21".
"[O país está cheio" de pessoas
que não entenderam que mudou
o país, que mudou o Brasil, que
mudou o mundo e que propõem
como futuro o passado. Passado
do qual não fazem nem sequer a
crítica. E se dão ao luxo simplesmente de dizer: "Eu mudei". Mas
mudou para que direção?", disse.
E completou: "Mudar é outra
coisa. É ter outra concepção na
cabeça. Não é ser mais sorridente.
Não é trajar melhor ou pior. Não é
simplesmente ter uma maneira
mais agradável. Para dirigir um
país tem que ver a cabeça como
está. Foi capaz de entender os desafios do mundo ou não? Ou continua pensando que, se nós adotarmos as soluções dos anos 60,
elas vão resolver os problemas do
país no século 21? Não. O século
21 requer outro tipo de cabeça,
outro tipo de liderança, outro tipo
de prática, outro tipo de proposta,
outro tipo de clareza, outro tipo
de franqueza".
FHC falou para cerca de 500
pessoas durante meia hora em ato
político em Contagem (MG) ao
lado de Serra e do candidato ao
governo mineiro Aécio Neves
(PSDB). O presidente foi para
Contagem após reunião com o
governador Itamar Franco (MG).
Segundo o coordenador da campanha de Serra, Pimenta da Veiga, o partido pagou a viagem de
Belo Horizonte a Contagem.
Primeira vez
Até ontem, a participação de
FHC na campanha havia se restringido a uma aparição no primeiro programa de Serra na TV.
Depois disso, ele se limitou a dar
algumas declarações de apoio ao
tucano -chegou a discordar de
estratégias da campanha.
As críticas de FHC a Lula são
evidência dessa discordância. O
presidente sempre defendeu um
debate programático, insistindo
na falta de experiência do petista e
em inconsistências de projetos.
Já a campanha de Serra optou,
na avaliação de FHC, por mesclar
isso com desqualificação pessoal.
Exemplo: FHC discordou da peça
de TV tucana que questionou a
falta de diploma universitário para ser presidente. Ontem, FHC insistiu na importância da experiência administrativa e disse que
livros e universidade "não são suficientes, mas também contam".
Em seu discurso, fez ainda menção a alianças para apontar um
exemplo de inconsistência da
oposição. Indiretamente, estava
se referindo à aliança do PT com o
PL, partido que indicou o vice de
Lula -o mineiro José Alencar.
"Hoje se misturam alhos com
bugalhos, azeite com vinho e com
água. Não se sabe que cor tem,
não se sabe dessa mistura o que
sai. E cada um, para se juntar com
o outro, em vez de dizer o que
pensa e o que vai fazer, faz de conta que vai fazer tudo sem dizer o
que vai fazer: Nada!", disse.
Para apontar qualidades de Serra, FHC afirmou que não se trata
de escolher entre "pessoas", mas
entre "caminhos". "Está se tomando uma decisão muito séria,
porque se está escolhendo, aparentemente, entre pessoas, quando na verdade está se escolhendo
caminhos. Talvez não se saiba
qual é o outro caminho, até porque, quando [os opositores" falam de coisas práticas, falam do
nosso caminho. E se esqueceram
de que levaram anos propondo
outro caminho. Tomara que tenham esquecido mesmo. Porque
o caminho que propunham não
tem viabilidade." E finalizou:
"Mas, se o caminho é o mesmo,
por que não permitir que ele seja
seguido por aqueles que o trilham
melhor? Aí entra Serra".
O presidente reforçou a tese tucana da coerência da candidatura
Serra, dizendo que ele "não enganou ninguém" na sua campanha.
Ao encerrar seu discurso, FHC
fez um apelo para que não se vote
"pela emoção": "Não é uma decisão simples, que possa ser levada
só pela emoção", disse. "Está em
jogo a possibilidade ou não de o
Brasil continuar a avançar para
ser um país respeitado e desenvolvido ou do Brasil ir para trás.
Eu não quero que o Brasil recue e
que o Brasil vire outra vez um país
que não tem respeitabilidade. Eu
não quero que o Brasil tenha um
sonho de ser um país atrasado."
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