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TRANSIÇÃO
Em entrevista ao "Jornal Nacional", presidente diz que "acha difícil" novo aumento da meta de superávit
FHC afirma que governo "tem de ser duro" com o FMI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que
o governo "tem de ser bastante
duro" na negociação com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
para não aumentar a meta de superávit primário para 2003.
A meta prevista é de 3,75 % do
PIB (Produto Interno Bruto), que
equivale a uma economia de R$
53 bilhões (relativos a União, Estados, municípios e estatais) para
o pagamento de juros da dívida
pública. Como o endividamento
aumentou nos últimos meses, o
FMI tende a pedir um aumento
nessa meta na próxima revisão,
que acontece neste mês.
"Eu acho difícil [aumentar a
meta". Sinceramente eu acho difícil. Eu acho que, quando nós começamos a negociar essas metas,
nós negociamos até mais baixas.
Acho que o governo tem de ser
bastante duro na negociação com
o Fundo", disse FHC em entrevista ao vivo ao "Jornal Nacional",
ontem à noite.
"Agora, é claro que o governo
tem que ser consciente. Se o dólar
continuar escalando, se não for
possível fazer mais corte de gastos, aí não tem outro jeito a não
ser aumentar o superávit primário", acrescentou.
Fome
FHC afirmou que recebeu "com
muita tranquilidade" a proposta
de Lula de combate à fome, porque o seu governo também a está
combatendo.
Segundo ele, as pessoas confundem o número de famílias que vivem na indigência e o das que
passam fome. "Há 22 milhões de
brasileiros abaixo de um certo nível, portanto são indigentes, e aí
se conclui que passam fome. Podem passar ou não."
Ele citou como exemplo que
97% das crianças de 7 a 14 anos
têm uma ou duas refeições por dia
em escolas públicas. "Isso é combate à fome."
Questionado se estava frustrado
por não ter cumprido sua promessa de "varrer a fome e a miséria do país", o presidente afirmou
que certamente é uma frustração,
mas disse ter o consolo de que os
índices sociais melhoraram.
"A questão da fome, que toca a
todos nós no coração, nós temos
sempre um certo risco, de não fazer demagogia", afirmou.
"O que eu manifestei foi o que
Lula manifestou, uma intenção:
eu quero acabar com a miséria no
Brasil. Eu quero, você quer e o Lula quer. Vamos conseguir? Se nós
continuarmos numa certa linha
de seriedade, conseguiremos."
O presidente voltou a se queixar
da oposição que sofreu do PT.
"Infelizmente a oposição feita ao
meu governo foi muito dura, porque ela não se limitou a fazer oposição ao governo, fez oposição a
coisas boas para o Brasil."
Quanto aos seus erros, afirmou
que em muitos momentos o governo poderia ter se comunicado
melhor. Citou como exemplo a
reforma da Previdência, dizendo
que houve a impressão de estar
contra os aposentados.
Ao fazer um balanço do seu governo, afirmou que não cumpriu
as promessas que não estavam ao
seu alcance, como as relativas ao
emprego, e avançou bastante nas
que estavam ao seu alcance.
"Emprego depende da economia, não é o governo quem cria."
Sobre a crítica de Lula à política
cambial do governo, afirmou: "Eu
não posso cobrar do Lula conhecimento de economia".
O presidente não quis comentar
o fato de o candidato tucano à
Presidência, José Serra, ter defendido pouco o governo durante a
campanha. "Preciso de mais tempo para saber propriamente o que
poderia ter sido diferente", afirmou.
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