São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Em entrevista ao "Jornal Nacional", presidente diz que "acha difícil" novo aumento da meta de superávit

FHC afirma que governo "tem de ser duro" com o FMI

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que o governo "tem de ser bastante duro" na negociação com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para não aumentar a meta de superávit primário para 2003.
A meta prevista é de 3,75 % do PIB (Produto Interno Bruto), que equivale a uma economia de R$ 53 bilhões (relativos a União, Estados, municípios e estatais) para o pagamento de juros da dívida pública. Como o endividamento aumentou nos últimos meses, o FMI tende a pedir um aumento nessa meta na próxima revisão, que acontece neste mês.
"Eu acho difícil [aumentar a meta". Sinceramente eu acho difícil. Eu acho que, quando nós começamos a negociar essas metas, nós negociamos até mais baixas. Acho que o governo tem de ser bastante duro na negociação com o Fundo", disse FHC em entrevista ao vivo ao "Jornal Nacional", ontem à noite.
"Agora, é claro que o governo tem que ser consciente. Se o dólar continuar escalando, se não for possível fazer mais corte de gastos, aí não tem outro jeito a não ser aumentar o superávit primário", acrescentou.

Fome
FHC afirmou que recebeu "com muita tranquilidade" a proposta de Lula de combate à fome, porque o seu governo também a está combatendo.
Segundo ele, as pessoas confundem o número de famílias que vivem na indigência e o das que passam fome. "Há 22 milhões de brasileiros abaixo de um certo nível, portanto são indigentes, e aí se conclui que passam fome. Podem passar ou não."
Ele citou como exemplo que 97% das crianças de 7 a 14 anos têm uma ou duas refeições por dia em escolas públicas. "Isso é combate à fome."
Questionado se estava frustrado por não ter cumprido sua promessa de "varrer a fome e a miséria do país", o presidente afirmou que certamente é uma frustração, mas disse ter o consolo de que os índices sociais melhoraram.
"A questão da fome, que toca a todos nós no coração, nós temos sempre um certo risco, de não fazer demagogia", afirmou.
"O que eu manifestei foi o que Lula manifestou, uma intenção: eu quero acabar com a miséria no Brasil. Eu quero, você quer e o Lula quer. Vamos conseguir? Se nós continuarmos numa certa linha de seriedade, conseguiremos."
O presidente voltou a se queixar da oposição que sofreu do PT. "Infelizmente a oposição feita ao meu governo foi muito dura, porque ela não se limitou a fazer oposição ao governo, fez oposição a coisas boas para o Brasil."
Quanto aos seus erros, afirmou que em muitos momentos o governo poderia ter se comunicado melhor. Citou como exemplo a reforma da Previdência, dizendo que houve a impressão de estar contra os aposentados.
Ao fazer um balanço do seu governo, afirmou que não cumpriu as promessas que não estavam ao seu alcance, como as relativas ao emprego, e avançou bastante nas que estavam ao seu alcance.
"Emprego depende da economia, não é o governo quem cria."
Sobre a crítica de Lula à política cambial do governo, afirmou: "Eu não posso cobrar do Lula conhecimento de economia".
O presidente não quis comentar o fato de o candidato tucano à Presidência, José Serra, ter defendido pouco o governo durante a campanha. "Preciso de mais tempo para saber propriamente o que poderia ter sido diferente", afirmou.


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