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CONGRESSO
Aliados de FHC cobram posições do partido, que conta com divisões internas em questões como o aumento do mínimo
Mínimo e IR já criam divergências no PT
LUIZA DAMÉ
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente eleito Luiz Inácio
Lula da Silva nem tomou posse,
mas seu governo já tem oposição
organizada no Congresso. Não
bastassem os partidos aliados de
Fernando Henrique Cardoso, o
PT tem de administrar divergências internas quando entram em
pauta salário mínimo, aumento
de impostos e taxa de juros.
O PSDB e o PFL, partidos que
deram sustentação ao governo
FHC, cobram coerência dos petistas: aumento do salário mínimo
para pelo menos R$ 240 e não-prorrogação da alíquota de 27,5%
do IRPF (Imposto de Renda da
Pessoa Física), em vigor até 31 de
dezembro. Eles se preparam até
para adotar práticas usadas pelos
petistas para fiscalizar o governo
tucano: o levantamento de gastos
no Siafi (sistema que registra os
gastos do governo).
Enquanto a cúpula do PT evita
falar de valor do salário mínimo
para 2003, deputados do partido
defendem abertamente os R$ 240
(20% de aumento) proposto na
discussão da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) em junho.
A mesma posição foi defendida
ontem pelo PFL. Já o líder do
PSDB na Câmara, Jutahy Júnior,
disse que os tucanos não votarão
um valor menor que os R$ 240.
"Nossa proposta é R$ 240 e vamos trabalhar para isso", disse o
deputado Gilmar Machado (PT-MG), integrante da Comissão
Mista de Orçamento.
O deputado Doutor Rosinha
(PT-PR) não abre mão do mínimo de R$ 240, a partir de junho de
2003. "O PT não abandonou essa
bandeira. O que mudou foi a falta
de recursos. Estamos buscando
recursos para suprir as perdas [de
receita" e viabilizar nossos programas", afirmou.
O deputado Paulo Paim (PT-RS), eleito senador, foi ontem à
tribuna da Câmara defender um
mínimo de R$ 250. "O PT tem de
parar com essa bobagem de que
não vamos aumentar o mínimo.
Isso é dar bola para o PFL e o
PSDB baterem", afirmou. Para
ele, no entanto, a discussão é
"equivocada" porque os aliados
de FHC estão se comportando como se já estivessem na oposição.
Segundo o deputado Babá (PT-PA), discussões que envolvem a
manutenção da alíquota de 27,5%
para o Imposto de Renda e os valores conservadores para o mínimo são decorrentes do esforço
para manter o superávit primário
(receita menos despesa sem juros) fixado pelo FMI.
"O que decidimos em Olinda
[encontro do PT, em dezembro]
no ano passado foi romper com o
modelo neoliberal. E isso não é seguir a linha do superávit tendo como fonte os interesses sociais",
disse Babá. Só que, na campanha
da eleição presidencial, a cúpula
do PT substituiu o documento de
Olinda pela "Carta ao Povo Brasileiro", em que afirma que cumprirá contratos e manterá a responsabilidade fiscal.
Integrante da ala mais à esquerda do PT, na linha trotskista, o deputado Babá defende, como
Paim, um salário mínimo de R$
250, fazendo questão de reafirmar
o compromisso partidário de alcançar US$ 100 no futuro.
Para resolver o impasse na regulamentação do sistema financeiro, o líder do PT na Câmara, João
Paulo Cunha (SP), chegou a pensar em retirar da Constituição a
taxa de juros de 12% ao ano, mas
desistiu de tratar desse assunto
agora devido à oposição de setores da bancada. A regulamentação do sistema financeiro permitirá a discussão da autonomia do
Banco Central.
Gilmar Machado defendeu o tabelamento de juros no texto constitucional, argumentando ser
contra a "usura" por causa de sua
formação evangélica. "Os juros
não podem ser ilimitados, assim
como o Banco Central não será o
quarto poder", disse, em referência à autonomia do BC.
João Paulo demonstra tranquilidade ao analisar os conflitos da
bancada petista. Para ele, as divergências são comuns porque cada
parlamentar tem convicções próprias, mas, depois que o grupo toma uma decisão, todos cumprem.
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