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São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2003

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VERBO SOLTO

"A gente não tem que ficar reclamando do que não foi feito", diz presidente durante entrega do prêmio Finep

Lula recua e diz não querer chorar o passado

FERNANDA KRAKOVICS
PATRICIA COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após chamar "muitos" de seus antecessores de "covardes", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou ontem no tom das críticas e disse que não adianta ficar reclamando do que não foi feito. O presidente também reconheceu mais uma vez que não fará tudo o que prometeu.
"A gente não tem que ficar reclamando do que não foi feito. A gente tem que começar a discutir o que fazer a partir de agora, senão daqui a algum tempo um outro entra e vai reclamar do que nós não fizemos. E ficamos sempre chorando o passado, sem definir claramente as metas e os objetivos para o futuro, que é o que conta", afirmou o presidente, de improviso, durante solenidade no Palácio do Planalto.
Ao discursar anteontem, na inauguração do aeroporto de Campina Grande (PB), o presidente criticou seus antecessores. "Cheguei à Presidência da República para fazer as coisas que precisavam ser feitas e que muitos presidentes, antes de mim, foram covardes e não tiveram coragem de fazer o que precisava ser feito", disse ele. Ontem, tucanos criticaram a declaração de Lula (leia texto ao lado).
Depois do impacto do discurso, o presidente disse ontem que "o passado serve como referência para a gente tirar lições das coisas boas que foram feitas e não repetir as coisas más, e vamos tentar aperfeiçoar para o futuro".

Mais críticas
Apesar de fazer mea-culpa no início do discurso, mais adiante ele voltou a alfinetar a classe política. "Não existe, na minha opinião, meta impossível de ser alcançada. Existem sim políticos que param no meio do caminho. Eu acho que a determinação do governante é que dá possibilidade de a gente acreditar nas coisas que a gente promete", disse ele, também saindo do discurso escrito.
Mais uma vez o presidente usou metáforas para ilustrar seu discurso. "Eu falo muito de futebol porque é uma coisa que todo mundo entende. Saúde e futebol todo mundo entende. Você não pode estar em um lugar e dizer que está com tal problema que alguém te receita um remédio. E futebol, quem não está jogando normalmente joga melhor do que quem está jogando. Acho que a gente, quando perde uma jogada, não dá certo, tem que construir outra."

Prêmio
A solenidade era de entrega do prêmio Finep Inovação Tecnológica 2003, que premiou cinco finalistas em diferentes categorias. A premiação é do Ministério da Ciência e Tecnologia.
O ganhador da categoria Instituto de Pesquisa foi o Lactec, do Paraná, e quem recebeu o prêmio foi o ex-ministro da Saúde do presidente Fernando Collor de Mello e ex-prefeito de Pato Branco (PR) Alcenir Guerra. O representante do Grupo Sabó, de São Paulo, que ganhou na categoria Processo, deu um boné da empresa para o presidente Lula, que o colocou na cabeça, provocando risos e aplausos. Outro momento de descontração foi quando um dos premiados quebrou o protocolo e gritou: "Viva a Embrapa e a minha esposa!", provocando risos do presidente.
Durante a solenidade, Lula prometeu dobrar em quatro anos a parcela do PIB (Produto Interno Bruto) aplicada em Ciência e Tecnologia, saltando de 1% para 2% do PIB. Ele também prometeu formar 10 mil doutores por ano até 2006.
O ministro da Ciência e Tecnologia discursou antes do presidente e reclamou da herança recebida do governo anterior. "Encontramos a Finep em situação nada confortável. Ainda hoje estamos pagando dívidas deixadas pelo governo passado", disse ele.
Depois do evento, Lula foi comemorar o aniversário na Granja do Torto com a presença dos ministros e outros convidados. Na verdade, Lula completou 58 anos no dia 27 de outubro. Na ocasião, ele estava em São Paulo.


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