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VERBO SOLTO
"A gente não tem que ficar reclamando do que não foi feito", diz presidente durante entrega do prêmio Finep
Lula recua e diz não querer chorar o passado
FERNANDA KRAKOVICS
PATRICIA COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia após chamar "muitos"
de seus antecessores de "covardes", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou ontem no tom
das críticas e disse que não adianta ficar reclamando do que não foi
feito. O presidente também reconheceu mais uma vez que não fará
tudo o que prometeu.
"A gente não tem que ficar reclamando do que não foi feito. A
gente tem que começar a discutir
o que fazer a partir de agora, senão daqui a algum tempo um outro entra e vai reclamar do que
nós não fizemos. E ficamos sempre chorando o passado, sem definir claramente as metas e os objetivos para o futuro, que é o que
conta", afirmou o presidente, de
improviso, durante solenidade no
Palácio do Planalto.
Ao discursar anteontem, na
inauguração do aeroporto de
Campina Grande (PB), o presidente criticou seus antecessores.
"Cheguei à Presidência da República para fazer as coisas que precisavam ser feitas e que muitos
presidentes, antes de mim, foram
covardes e não tiveram coragem
de fazer o que precisava ser feito",
disse ele. Ontem, tucanos criticaram a declaração de Lula (leia texto ao lado).
Depois do impacto do discurso,
o presidente disse ontem que "o
passado serve como referência
para a gente tirar lições das coisas
boas que foram feitas e não repetir as coisas más, e vamos tentar
aperfeiçoar para o futuro".
Mais críticas
Apesar de fazer mea-culpa no
início do discurso, mais adiante
ele voltou a alfinetar a classe política. "Não existe, na minha opinião, meta impossível de ser alcançada. Existem sim políticos
que param no meio do caminho.
Eu acho que a determinação do
governante é que dá possibilidade
de a gente acreditar nas coisas que
a gente promete", disse ele, também saindo do discurso escrito.
Mais uma vez o presidente usou
metáforas para ilustrar seu discurso. "Eu falo muito de futebol
porque é uma coisa que todo
mundo entende. Saúde e futebol
todo mundo entende. Você não
pode estar em um lugar e dizer
que está com tal problema que alguém te receita um remédio. E futebol, quem não está jogando
normalmente joga melhor do que
quem está jogando. Acho que a
gente, quando perde uma jogada,
não dá certo, tem que construir
outra."
Prêmio
A solenidade era de entrega do
prêmio Finep Inovação Tecnológica 2003, que premiou cinco finalistas em diferentes categorias.
A premiação é do Ministério da
Ciência e Tecnologia.
O ganhador da categoria Instituto de Pesquisa foi o Lactec, do
Paraná, e quem recebeu o prêmio
foi o ex-ministro da Saúde do presidente Fernando Collor de Mello
e ex-prefeito de Pato Branco (PR)
Alcenir Guerra. O representante
do Grupo Sabó, de São Paulo, que
ganhou na categoria Processo,
deu um boné da empresa para o
presidente Lula, que o colocou na
cabeça, provocando risos e aplausos. Outro momento de descontração foi quando um dos premiados quebrou o protocolo e
gritou: "Viva a Embrapa e a minha esposa!", provocando risos
do presidente.
Durante a solenidade, Lula prometeu dobrar em quatro anos a
parcela do PIB (Produto Interno
Bruto) aplicada em Ciência e Tecnologia, saltando de 1% para 2%
do PIB. Ele também prometeu
formar 10 mil doutores por ano
até 2006.
O ministro da Ciência e Tecnologia discursou antes do presidente e reclamou da herança recebida do governo anterior. "Encontramos a Finep em situação
nada confortável. Ainda hoje estamos pagando dívidas deixadas
pelo governo passado", disse ele.
Depois do evento, Lula foi comemorar o aniversário na Granja
do Torto com a presença dos ministros e outros convidados. Na
verdade, Lula completou 58 anos
no dia 27 de outubro. Na ocasião,
ele estava em São Paulo.
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