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VISÃO DE FORA
Jornalista diz que complexo de inferioridade motiva país a burlar lei
"NYT" coloca sob suspeita programa nuclear do Brasil
DE NOVA YORK
O jornalista norte-americano
Larry Rohter, do "New York Times", soou ontem o gongo para
mais um round contra o governo
Luiz Inácio Lula da Silva. Em reportagem sobre o programa nuclear brasileiro, Rohter acusa o
país de tentar burlar a legislação
internacional motivado por um
complexo de inferioridade.
Em maio, o correspondente no
Brasil já havia provocado polêmica após a publicação de texto que
em afirmava existir uma suposta
"preocupação do país com o hábito de beber" de Lula. O governo
chegou a cancelar o visto do jornalista, mas depois desistiu.
"O Brasil sempre quis ser levado
a sério como uma potência pelos
pesos-pesados, e machuca os brasileiros que líderes mundiais possam confundir seu país com a Bolívia, como fez [o americano] Ronald Reagan, ou desprezar um
país tão grande como "um país
que não pode ser levado a sério",
como fez [o francês] Charles de
Gaulle", escreve Rohter, ao evocar
episódios ocorridos, respectivamente, há duas e seis décadas.
O texto, sob o título "Se o Brasil
quer assustar o mundo, está conseguindo", cita o país como "a terra do futebol e do samba, habitada por gente amigável", e pergunta: "Por que o país se envolveu numa disputa com a Agência Internacional de Energia Atômica,
acusada por especialistas americanos e de outros países de violar
as leis internacionais e ajudar países desonestos como o Irã e a Coréia do Norte?".
As negociações sobre a inspeção
da AIEA à fábrica brasileira de
enriquecimento de urânio em Resende (RJ) prosseguem. No último dia 19, o governo permitiu
uma vistoria parcial -o acesso às
centrífugas nucleares foi negado,
mas uma nova inspeção está sendo debatida. De um lado, o governo alega ter o direito de manter a
tecnologia nacional em sigilo e diz
que a produção visa o setor energético. De outro, a agência teme
que o urânio enriquecido pare nas
mãos de quem o use para produzir armas, o que viola o Tratado
de Não-Proliferação Nuclear, assinado pelo Brasil em 1997.
O tema entrou na pauta de discussão americana e foi debatido
pelo secretário de Estado, Colin
Powell, em recente visita ao Brasil.
Em viagem em outubro a Boston,
até o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, se viu inquirido por investidores sobre o programa nuclear.
O único brasileiro citado no texto de Rohter é o ex-ministro da
Ciência e Tecnologia José Goldemberg, que apontou exageros
tanto na posição do governo brasileiro como na reação americana.
Todos as demais fontes citadas
são analistas americanos.
"O programa nuclear brasileiro
já consumiu mais de US$ 1 bilhão,
que poderia ser usado para reduzir a pobreza, e o tom de segredo
só aumentou as suspeitas da credibilidade e das intenções [do
país]", escreve Rohter.
Outro lado
Por meio de sua assessoria de
imprensa, o ministro Eduardo
Campos (Ciência e Tecnologia)
informou ontem que só voltará a
comentar a questão das inspeções
na unidade de Resende depois de
receber uma resposta da AIEA
-o que deve ocorrer em no máximo 15 dias.
De acordo com o ministério, o
Brasil espera carta em que a agência dirá se aceita ou não a proposta brasileira de inspeção.
Parte da decisão da AIEA estará
baseada no relatório dos técnicos
da agência que visitaram o Brasil
em outubro.
(LUCIANA COELHO)
Colaborou a Sucursal de Brasília
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