São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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SÃO PAULO

Derrota não prejudica reeleição de Lula, diz Dirceu


Nos bastidores, cúpula do PT vê antecipação da disputa de 2006

Para petistas, tucano Alckmin é o nome que sai mais fortalecido



JULIA DUAILIBI
EM SÃO PAULO

O ministro José Dirceu (Casa Civil) disse que a vitória dos tucanos em São Paulo não prejudica uma eventual tentativa de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva daqui a dois anos.
"Eleição municipal não pesa na eleição nacional. Fernando Henrique Cardoso disputou duas eleições [1994 e 1998] sem ter São Paulo, sem ter as principais cidades do país, e venceu. Isso é fato", declarou o ministro Dirceu após votar na zona sul de São Paulo.
A declaração foi feita antes mesmo de começar a apuração das urnas. Um exemplo citado pelo PT é o do próprio tucano José Serra, que disputou a Prefeitura de São Paulo em 96, com o apoio do então presidente Fernando Henrique, mas ficou em terceiro lugar.
À noite, Dirceu afirmou que o governo vai "receber com humildade o resultado das urnas" e que o novo cenário não afeta a base de Lula no Congresso.
Já o presidente nacional do PT, José Genoino, considerou "derrotas significativas" as ocorridas em São Paulo e Porto Alegre, mas disse que o partido está "calejado".

Internamente, o fim
A avaliação ontem entre interlocutores próximos do presidente Lula era que vitória de Serra deve inviabilizar qualquer diálogo ou tentativa de acordo político entre o PSDB e o governo federal. Até a renegociação da dívida, ponto caro para a administração que começa em 2005, entrou no debate político entre as duas siglas.
Antes do resultado da eleição ser divulgado, integrantes do governo federal já diziam que "não há diálogo nem acordo político-programático" com os tucanos.
Para a cúpula do PT e do governo, a vitória de Serra antecipa desde já a disputa eleitoral de 2006, quando haverá uma "guerra", segundo um interlocutor do presidente, na eleição que irá escolher o presidente e os governadores.
"Vamos ver como ele estará até maio", disse ontem um ministro de Lula ao comentar relação de Serra com o governo federal, no café da manhã no comitê eleitoral da prefeita Marta Suplicy.
A afirmação é uma referência ao mês em que a relação dívida/receita corrente líquida da prefeitura paulistana deverá estar em 178% para que seja cumprida a legislação vigente. Esta relação esta hoje em cerca de 230%, e especialistas não vêem como atingir a meta sem uma mudança nos termos do contrato da dívida da prefeitura com a União. Marta Suplicy disse que, se vencesse, sentaria com o governo para conversar.
"O Brasil não aceita mais um prefeito que entra e faz oposição ao governo federal. Ele [Serra] está achando que é fácil administrar São Paulo?", questionou ontem um integrante do governo federal.
O flagrante feito pela Polícia Federal do publicitário do PT Duda Mendonça em uma rinha de galo nas vésperas da eleição e as denúncias que surgiram neste ano contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foram os exemplos usados pelos petistas para ilustrar o clima belicoso entre as duas legendas.
Oficialmente, o discurso é moderado. "A oposição pode esperar uma relação respeitosa. O governo dará [a ela] o mesmo tratamento que dá a sua base", afirmou Aldo Rebelo, ministro da Coordenação Política. "A eleição municipal tem pouco a ver com a eleição seguinte", completou Márcio Thomaz Bastos (Justiça).

Fortalecidos
Para integrantes da cúpula do governo, Geraldo Alckmin, governador paulista, é o nome do PSDB que sai mais fortalecido para a disputa presidencial em 2006 em razão da eleição de Serra. Em contrapartida, o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador mineiro, Aécio Neves, teriam se enfraquecido por não terem conseguido eleger seus candidatos.
Ao ser questionado ontem sobre o fato de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso estar em viagem e não ter votado, Dirceu respondeu: "Quem tem de responder isso é o Serra".


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