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Incra financiou invasão da Câmara, diz TCU
Procurador descarta em parecer que ato, promovido pelo MLST, tenha tido outras fontes de recursos além de convênios com órgão
Tribunal de Contas analisará se haverá multa de até
R$ 32.885,68 a dirigentes do Incra pelas irregularidades detectadas nos convênios
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Concluído mais de dois anos
depois da invasão da Câmara
por um grupo de sem-terra, parecer do Ministério Público
junto ao Tribunal de Contas da
União afirma que ato promovido pelo MLST (Movimento de
Libertação dos Sem Terra) teria sido financiado por dinheiro
público repassado pelo Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
O procurador Marinus
Eduardo Marsico consultou cadastros oficiais para descartar
outras possíveis fontes de recursos, além dos convênios assinados com o Incra, e considerados irregulares por auditores
do tribunal.
E concluiu "ser bastante provável que o financiamento das
invasões das instalações do Ministério da Fazenda e da Câmara dos Deputados se deu, em todo ou em parte, com recursos
públicos".
No parecer a que a Folha teve acesso, o procurador considera difícil que seja recuperado
para os cofres públicos R$
5.842.206,74, o valor corrigido
das verbas repassadas pelo Incra por meio de três convênios
para a Anara (Associação Nacional de Apoio à Reforma
Agrária), entidade presidida
pelo líder do MLST Bruno Maranhão.
O parecer do procurador,
anexado ao processo que será
votado no plenário do TCU, defende a imediata decretação da
indisponibilidade de bens de
Bruno Maranhão e da Anara.
"Com o passar do tempo, se
torna mais difícil um satisfatório retorno ao erário do débito
apontado nesse processo", alega Marsico.
Convênios
Os três convênios analisados
pelo TCU foram celebrados no
período de um ano, entre abril
de 2004 e abril de 2005, mês da
primeira invasão promovida
pelo MLST em Brasília, no prédio do Ministério da Fazenda.
No ano seguinte, em 6 de junho, integrantes do MLST chegaram de ônibus a uma das entradas laterais do prédio da Câmara dos Deputados.
No confronto com policiais,
os manifestantes empurraram
porta adentro um Fiat Uno que
estava estacionado nas proximidades. Depois da invasão, os
manifestantes destruíram o
que encontraram no caminho:
luminárias, computadores,
portas de vidro e um busto de
bronze do ex-governador de
São Paulo Mario Covas (morto
em 2001).
A invasão deixou um saldo de
41 pessoas feridas, mais de 500
pessoas presas e um prejuízo
estimado na época em R$ 102
mil na Câmara.
Ao longo do parecer, o procurador do Ministério Público endossa conclusão de auditoria
do tribunal de que não foi possível comprovar que o dinheiro
público repassado pelo Incra
foi destinado aos objetos dos
convênios. Exemplo: o TCU
não obteve nenhum exemplar
da cartilha que teria sido confeccionada para famílias de assentados, apesar de o Incra
afirmar que 11 mil exemplares
foram impressos.
Outra irregularidade apontada na celebração dos convênios
foi o endereço oferecido pela
Anara nos documentos: um estacionamento público no Parque da Cidade, em Brasília.
"Portanto, o Incra atuou de maneira temerária ao destinar expressiva quantidade de recursos públicos a uma associação
cujo patrimônio não lhe permitia sequer constituir sede em
condições normais."
Com base no trabalho feito
pelos auditores do TCU, o procurador destaca a falta de propostas e planos de trabalho nos
convênios assinados com a
Anara, "com objetos e ações de
tal forma genéricos que colocam em dúvida como realmente seriam utilizados os recursos
públicos".
O TCU vai analisar proposta
de multa de até R$ 32.885,68 a
vários dirigentes do Incra pelas
irregularidades detectadas nos
convênios.
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