JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ganhou em 24 das 27 unidades da Federação e em 4.777 (87%) dos 5.513 municípios do país, entre os quais estão 17 capitais. Foram 53,1% dos votos válidos -ou 2,075 milhões de votos além do que precisava para ser reeleito ainda no primeiro turno.
"O Brasil mais dinâmico do ponto de vista econômico votou maciçamente (em mim). Não é verdade que ganhei só nos grotões, como dizem. Aliás, o Centro-Oeste não é grotão, é a região que mais cresceu no país", diz o presidente reeleito.
A vitória de FHC, porém, não foi do Oiapoque ao Chuí. Além da derrota na cidade mais ao sul do país, ele perdeu em outros 735 municípios.
Entre as cidades que disseram não à reeleição de FHC estão municípios importantes, dez dos quais são capitais: Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Fortaleza, São Luís, João Pessoa, Aracaju, Teresina, Macapá e Rio Branco.
"Ganhei onde o eleitor consegue obter mais informação e onde a população participa das lutas sociais", afirma o candidato derrotado do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, mas que foi o mais votado em 668 cidades.
O petista credita o fato de a eleição não ter ido para o segundo turno a uma estratégia geopolítica equivocada. "Foi um erro, meu e do partido, não termos priorizado São Paulo", acredita.
O mapa com o resultado da eleição presidencial por município foi elaborado pela CI Consultoria em Informática, empresa que presta serviços para o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro.
Ele mostra uma concentração dos votos oposicionistas em regiões com perfis semelhantes: escolaridade mais alta do que a média, classe média assalariada expressiva, movimento sindical ou de sem-terra atuante e, em alguns casos, tradição oposicionista.

Mancha vermelha
A maior mancha vermelha -cor que representa cidades onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou- está no Rio Grande do Sul. É o 4º Estado com menos analfabetos funcionais no país.
O petista foi o mais votado em 248 dos 467 municípios gaúchos, o que lhe valeu 49,1% dos votos válidos no Estado contra 40,6% de Fernando Henrique.
Não foi a primeira vez que Lula teve um bom desempenho no extremo sul do país. Ele venceu no Estado em 1994 e no segundo turno da eleição de 1989.
A tradição oposicionista rendeu até um apelido à região: Gália brasileira (referência à aldeia de Asterix, o personagem da história em quadrinhos francesa que resiste à invasão do Império Romano).
Ela é tão forte que a mancha vermelha se espalha pelo oeste catarinense e pelo sudoeste do Paraná -áreas colonizadas por gaúchos.
As origens desse voto de oposição vêm da história revolucionária do Rio Grande do Sul, passa pelo brizolismo e pelos problemas fundiários que levaram ao aparecimento do movimento dos sem-terra.
Apesar da influência gaúcha, FHC venceu em Santa Catarina e no Paraná. No conjunto da região Sul ele teve uma votação maior em 1998: 49,2% dos votos válidos contra 41,3% em 1994. Um dos motivos, entretanto, foi que naquele pleito havia um presidenciável catarinense, Esperidião Amin (PPB).
No Sudeste, as poucas vitórias da oposição estão concentradas em cidades com movimento sindical forte -como São Bernardo do Campo e Cubatão em São Paulo, e como Volta Redonda e Campos no Rio de Janeiro- ou com perfil universitário -como Juiz de Fora e Ouro Preto em Minas Gerais.
O Rio foi o único outro Estado, além do Rio Grande do Sul, no qual Lula venceu. Mesmo assim, a margem foi de apenas 3.000 votos. Além de cidades com forte presença operária, o petista foi também o mais votado na capital e na Baixada Fluminense.
Mesmo assim, a região Sudeste foi onde FHC conseguiu a maior vantagem em número de votos sobre Lula: 7,7 milhões (5 milhões só em São Paulo).

"Roubando" votos
No Nordeste, a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PPS) tirou votos de Fernando Henrique. O presidente teve 47,7% dos votos válidos -menos do que obtivera em 1994 (57,6%).
O ex-governador do Ceará ganhou em 68 cidades, todas nordestinas. Foi o mais votado no seu Estado (venceu em 58 cidades) e abocanhou 16% dos votos válidos do Nordeste. Lula ficou com 31,6%.
O desempenho do petista foi melhor nas maiores cidades da região. Ele ganhou em 6 das 9 capitais nordestinas, além de pólos regionais, como Juazeiro e Xique-Xique (ambos na Bahia), Petrolina (PE) e Campina Grande (PB). Alguns desses municípios ficam em áreas atingidas pela seca.
A maior vitória proporcional de FHC ocorreu no Centro-Oeste, onde ganhou em praticamente todos os municípios e obteve 61,2% dos votos válidos. No Mato Grosso, o presidente ficou com 73,1% da votação, seu melhor resultado.
No Norte, FHC também teve mais da metade dos votos válidos: 57,6%. As vitórias de Lula se limitaram a duas capitais, Rio Branco (AC) e Macapá (AP), mais um município do Amapá, duas cidades no Amazonas e outras duas no Pará.



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