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SÃO PAULO
Governador deu entrevista por cerca de 20 minutos e comentou recuperação após retirada de tumores no intestino
Covas se emociona em reaparição pública
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador de São Paulo,
Mário Covas, 70, deu ontem sua
primeira declaração pública, nove
dias após ter sido operado para a
extração de dois tumores no intestino. De pijama e robe, Covas
chegou à sala de entrevistas do Incor (Instituto do Coração) caminhando com a ajuda dos médicos
e da mulher, Lila.
Covas falou por mais de 20 minutos com a imprensa. Ele disse
que não sabe quando receberá alta, comentou ter recebido bênção
de dom Paulo Evaristo Arns (leia
texto nesta página) e alternou
momentos de bom humor e de
emoção e chegou a chorar.
Ele se queixou da cama do hospital e apelidou de "cachorrinho"
a bolsa coletora de urina que está
carregando por causa de uma
sonda. Ele revelou que tinha muito medo de se submeter à colostomia (procedimento que desvia as
fezes do intestino para uma bolsa
plástica fixada na barriga). A colostomia feita no governador foi
definitiva, porque foi retirada a
parte final do reto, onde foi localizado um dos tumores.
"Eu tinha medo disso. Mas como posso reclamar disso (colostomia) se Deus me deu a vida? E
quem ganha o principal não pode
discutir o acessório", disse .
Quando um jornalista perguntou o que lhe tem dado forças
contra o câncer, Covas disse: "O
que me move é tentar, no limite
das minhas forças, cumprir a minha tarefa (de governador)".
Covas admitiu que o fato de
continuar governando São Paulo,
mesmo estando hospitalizado, o
tem ajudado na recuperação da
segunda cirurgia em menos de
dois anos para retirar câncer.
O momento de maior emoção
aconteceu quando Covas leu uma
mensagem deixada por uma mulher que havia votado nele para
presidente em 1989. Ele disse que
conheceu a mulher no elevador,
quando estava a caminho da sala
de cirurgia, na semana passada.
Ao sair do Incor hoje, a mulher,
que acompanhava o marido no
hospital, deu a Covas texto com a
história de uma borboleta que foi
ajudada por um homem a sair do
casulo antes do tempo e, por isso,
nunca pôde voar. Segundo o texto, era justamente o esforço que a
borboleta fazia para sair do casulo
que daria força às asas dela.
O governador tirou a carta do
bolso de seu robe. Durante a leitura, ele parou várias vezes para enxugar as lágrimas e, quando ficava muito emocionado, recebia
afagos da sua mulher, Lila.
"Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em
nossa vida", diz o texto, que termina com a frase: "Eu não recebi
nada do que pedi... Mas eu recebi
tudo o que precisava".
Covas pediu desculpas pelo
choro. "Desculpem se descambei.
Eu devia ter feito isso lá no quarto.
Mas afinal, se o homem não sabe
chorar, qual é a outra forma mais
digna de demonstrar os seus sentimentos?", afirmou.
Disse que as lágrimas não foram
de dor. "De qualquer modo, tudo
tem sido tão bom para mim que o
meu grau de dívida com a sociedade é muito grande. Errei muitas
vezes, vou continuar errando,
mas não posso deixar de reconhecer que, mesmo sem ter pedido,
recebi tudo o que precisava."
Covas se queixou de a imprensa
ter noticiado que os tumores retirados do intestino indicam metástase (contaminação de outros
órgãos pela doença). A informação foi divulgada à imprensa pela
equipe médica do governador.
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