São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2000

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SÃO PAULO
Governador deu entrevista por cerca de 20 minutos e comentou recuperação após retirada de tumores no intestino
Covas se emociona em reaparição pública

DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas, 70, deu ontem sua primeira declaração pública, nove dias após ter sido operado para a extração de dois tumores no intestino. De pijama e robe, Covas chegou à sala de entrevistas do Incor (Instituto do Coração) caminhando com a ajuda dos médicos e da mulher, Lila.
Covas falou por mais de 20 minutos com a imprensa. Ele disse que não sabe quando receberá alta, comentou ter recebido bênção de dom Paulo Evaristo Arns (leia texto nesta página) e alternou momentos de bom humor e de emoção e chegou a chorar.
Ele se queixou da cama do hospital e apelidou de "cachorrinho" a bolsa coletora de urina que está carregando por causa de uma sonda. Ele revelou que tinha muito medo de se submeter à colostomia (procedimento que desvia as fezes do intestino para uma bolsa plástica fixada na barriga). A colostomia feita no governador foi definitiva, porque foi retirada a parte final do reto, onde foi localizado um dos tumores.
"Eu tinha medo disso. Mas como posso reclamar disso (colostomia) se Deus me deu a vida? E quem ganha o principal não pode discutir o acessório", disse .
Quando um jornalista perguntou o que lhe tem dado forças contra o câncer, Covas disse: "O que me move é tentar, no limite das minhas forças, cumprir a minha tarefa (de governador)".
Covas admitiu que o fato de continuar governando São Paulo, mesmo estando hospitalizado, o tem ajudado na recuperação da segunda cirurgia em menos de dois anos para retirar câncer.
O momento de maior emoção aconteceu quando Covas leu uma mensagem deixada por uma mulher que havia votado nele para presidente em 1989. Ele disse que conheceu a mulher no elevador, quando estava a caminho da sala de cirurgia, na semana passada.
Ao sair do Incor hoje, a mulher, que acompanhava o marido no hospital, deu a Covas texto com a história de uma borboleta que foi ajudada por um homem a sair do casulo antes do tempo e, por isso, nunca pôde voar. Segundo o texto, era justamente o esforço que a borboleta fazia para sair do casulo que daria força às asas dela.
O governador tirou a carta do bolso de seu robe. Durante a leitura, ele parou várias vezes para enxugar as lágrimas e, quando ficava muito emocionado, recebia afagos da sua mulher, Lila.
"Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida", diz o texto, que termina com a frase: "Eu não recebi nada do que pedi... Mas eu recebi tudo o que precisava".
Covas pediu desculpas pelo choro. "Desculpem se descambei. Eu devia ter feito isso lá no quarto. Mas afinal, se o homem não sabe chorar, qual é a outra forma mais digna de demonstrar os seus sentimentos?", afirmou.
Disse que as lágrimas não foram de dor. "De qualquer modo, tudo tem sido tão bom para mim que o meu grau de dívida com a sociedade é muito grande. Errei muitas vezes, vou continuar errando, mas não posso deixar de reconhecer que, mesmo sem ter pedido, recebi tudo o que precisava."
Covas se queixou de a imprensa ter noticiado que os tumores retirados do intestino indicam metástase (contaminação de outros órgãos pela doença). A informação foi divulgada à imprensa pela equipe médica do governador.


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