São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2001

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GOVERNO

Contrato feito sem licitação com a Unisys custa 323% a mais do que o valor de mercado, revela auditoria interna
Dataprev tem contrato superfaturado

MALU GASPAR
WLADIMIR GRAMACHO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Dataprev, empresa de processamento de dados do Ministério da Previdência Social, mantém há um ano contrato superfaturado com a Unisys, mesmo depois que uma auditoria interna apurou o desequilíbrio dos preços.
Pelo aluguel de dois computadores de grande porte, um instalado em São Paulo e outro no Rio, mais a locação de programas e a manutenção dos equipamentos, a Dataprev está pagando R$ 182 milhões parcelados. Só pelos computadores de grande porte, auditoria interna constatou que a Dataprev vem desembolsando 323% a mais do que o valor de mercado.
O relatório, feito a pedido de Ramon Eduardo Barreto, presidente da Dataprev, não teve suas sugestões acatadas. Ele considerou o documento falho e pediu nova auditoria em setembro.
A diretoria da Dataprev está subordinada ao ministro da Previdência, Waldeck Ornélas. A empresa processa os pagamentos aos cerca de 18 milhões de aposentados e as contribuições mensais recolhidas pelas empresas.
Seu diretor de Administração, Juvêncio Barbosa, é homem de confiança de Ornélas e foi trazido por ele de Salvador para Brasília. Barbosa já foi presidente da Prodeb, empresa de processamento de dados da Bahia, na gestão Paulo Souto. No Congresso, quem dá sustentação política a Ornélas e Barbosa é o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que nas últimas semanas tem defendido a demissão de funcionários do governo envolvidos em denúncias de corrupção na Sudam e no DNER, comandados pelo PMDB.
"O senador Antonio Carlos, que tanto tem combatido a corrupção no governo, deveria dar uma olhadinha para o que está acontecendo no Ministério da Previdência, chefiado por um ministro dele", diz o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), que recebeu dossiê sobre os problemas na Dataprev.
Um dos principais problemas está na diferença entre o preço cobrado pelos serviços da Unisys e o equivalente no mercado, apurado por um grupo de trabalho criado há um ano na Dataprev. Cinco funcionários da empresa investigaram vários contratos e concluíram que há problemas no contrato com a Unisys, que há 25 anos presta serviços à Dataprev.
Em memorando interno, um dos membros dessa equipe escreveu: "O preço mensal de locação e manutenção dos discos, por gigabyte, apresentado nesta proposta da Unisys, de R$ 211,82, quando comparado com o levantado no mercado pelo grupo de trabalho, do qual participamos, da ordem de R$ 50, apresenta-se superior em 323%".
Esses computadores da Unisys vêm sendo alugados sem licitação. "Seria muito caro mudar todo o nosso parque de informática se uma outra empresa ganhasse a licitação", diz o presidente da Dataprev. Ele diz que é mais barato manter os contratos com a Unisys do que fazer uma concorrência.
Já o diretor de Administração da Dataprev, Juvêncio Barbosa, diz o contrário: "Eu reconheço que isso pode ser melhorado e estamos tentando mudar (o contrato)", admite. "A plataforma está correta? Não. Já deveria ter sido mudada há muito tempo. Não mudei porque a locomotiva já estava andando", afirma Barbosa.
Além de caros, os computadores estão sendo subutilizados, segundo o relatório: o consumo médio por mês do computador paulista foi de apenas 43% durante a avaliação feita, entre os meses de julho e outubro de 1999. "Nós não podemos utilizar mais do que 60% do equipamento sob risco de perda de desempenho", diz Ubiramar Mendonça, assessor da Diretoria de Negócios da Dataprev.
Mendonça apresentou um relatório de utilização dos grandes computadores da empresa que mostra utilização de até 87% em horário de pico, mas diz que a taxa média em nenhum dos três casos ultrapassa os 60% aceitáveis.
Esse argumento, porém, é questionado: "Os grandes computadores não têm sua performance comprometida quando se usa, por exemplo, 90% de sua capacidade. Não há relação entre as duas coisas", rebate Luiz Roberto Vieira, diretor do Sindicato dos Profissionais de Processamento de Dados do Distrito Federal.



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