São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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Amorim indica secretário avesso à Alca

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Afastado do Itamaraty em abril de 2001 por suas opiniões negativas sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães foi nomeado secretário-geral do ministério, o segundo cargo na hierarquia diplomática.
Guimarães foi exonerado da direção do Ipri (Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais) por Celso Lafer, que transmitiu ontem o cargo para o embaixador Celso Amorim. Lafer saiu do Itamaraty antes dos cumprimentos.
O novo secretário-geral havia publicado textos nos quais alertava o Brasil para os perigos da Alca. Na época, Guimarães afirmava que a Alca inviabilizaria um projeto nacional de desenvolvimento -uma opinião que ia de encontro ao discurso oficial do governo.
O anuncio do nome de Guimarães por Amorim durante a cerimônia de transmissão de cargo causou surpresa para alguns diplomatas. Guimarães é conhecido pela suas posições contrárias à integração das américas. O novo governo, porém, deu sinais que pretende seguir com as negociações comerciais no âmbito da Alca.
Para nomear oficialmente Guimarães como secretário-geral será preciso publicar uma medida provisória alterando os pré-requisitos exigidos para o exercício do cargo. Segundo uma lei de 1990, para ser secretário-geral, o embaixador precisa ter sido chefe de posto no exterior por pelo menos dois anos.
Segundo Amorim, a MP já está pronta para ser publicada. Amorim disse que foi ele quem escolheu o nome, embora tenha consultado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes da decisão final. Guimarães e Amorim já trabalharam juntos em outras ocasiões. Questionado sobre o impacto das opiniões polêmicas de Guimarães nos rumos das negociações brasileiras, Amorim afirmou que a política externa será decidida por Lula e por ele.
Guimarães não quis fazer nenhum comentário sobre sua nomeação. Limitou-se a afirmar que questões sobre a Alca devem ser dirigidas ao próprio ministro.
O discurso de posse de Amorim, ao contrário da nomeação de Guimarães, não indicou nenhuma ruptura abrupta nas linhas mestras da política externa do governo FHC. A América Latina e o Mercosul seguem sendo prioridade. O Brasil também continuará a pressionar pela inclusão de países em desenvolvimento no Conselho Permanente de Segurança da ONU, posto que cobiça.
Amorim enfatizou que o seu ministério terá papel essencial no combate à pobreza. Segundo o ministro, nas negociações comerciais que o Brasil participará será preciso evitar "restrições excessivas à nossa capacidade de fomentar políticas sociais, ambientais, industriais e tecnológicas".
Amorim e Lafer traçaram nos discursos um cenário internacional negativo. Para Lafer, a situação sul-americana está mais frágil agora que em 1993. Amorim disse que "o cenário em que teremos de realizar essa tarefa é complexo e nem sempre amistoso".



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