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Amorim indica secretário avesso à Alca
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Afastado do Itamaraty em abril
de 2001 por suas opiniões negativas sobre a Alca (Área de Livre
Comércio das Américas), o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães foi nomeado secretário-geral do ministério, o segundo
cargo na hierarquia diplomática.
Guimarães foi exonerado da direção do Ipri (Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais)
por Celso Lafer, que transmitiu
ontem o cargo para o embaixador
Celso Amorim. Lafer saiu do Itamaraty antes dos cumprimentos.
O novo secretário-geral havia
publicado textos nos quais alertava o Brasil para os perigos da Alca.
Na época, Guimarães afirmava
que a Alca inviabilizaria um projeto nacional de desenvolvimento
-uma opinião que ia de encontro ao discurso oficial do governo.
O anuncio do nome de Guimarães por Amorim durante a cerimônia de transmissão de cargo
causou surpresa para alguns diplomatas. Guimarães é conhecido
pela suas posições contrárias à integração das américas. O novo governo, porém, deu sinais que pretende seguir com as negociações
comerciais no âmbito da Alca.
Para nomear oficialmente Guimarães como secretário-geral será preciso publicar uma medida
provisória alterando os pré-requisitos exigidos para o exercício
do cargo. Segundo uma lei de
1990, para ser secretário-geral, o
embaixador precisa ter sido chefe
de posto no exterior por pelo menos dois anos.
Segundo Amorim, a MP já está
pronta para ser publicada. Amorim disse que foi ele quem escolheu o nome, embora tenha consultado o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva antes da decisão final. Guimarães e Amorim já trabalharam juntos em outras ocasiões. Questionado sobre o impacto das opiniões polêmicas de
Guimarães nos rumos das negociações brasileiras, Amorim afirmou que a política externa será
decidida por Lula e por ele.
Guimarães não quis fazer nenhum comentário sobre sua nomeação. Limitou-se a afirmar que
questões sobre a Alca devem ser
dirigidas ao próprio ministro.
O discurso de posse de Amorim, ao contrário da nomeação de
Guimarães, não indicou nenhuma ruptura abrupta nas linhas
mestras da política externa do governo FHC. A América Latina e o
Mercosul seguem sendo prioridade. O Brasil também continuará a
pressionar pela inclusão de países
em desenvolvimento no Conselho Permanente de Segurança da
ONU, posto que cobiça.
Amorim enfatizou que o seu
ministério terá papel essencial no
combate à pobreza. Segundo o
ministro, nas negociações comerciais que o Brasil participará será
preciso evitar "restrições excessivas à nossa capacidade de fomentar políticas sociais, ambientais,
industriais e tecnológicas".
Amorim e Lafer traçaram nos
discursos um cenário internacional negativo. Para Lafer, a situação sul-americana está mais frágil
agora que em 1993. Amorim disse
que "o cenário em que teremos de
realizar essa tarefa é complexo e
nem sempre amistoso".
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