São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2008

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Corrupção deixa em crise cidade em SP

Município de Rosana contabiliza desvio de quase R$ 60 mi e dívida de R$ 42 mi; cidadãos sofrem com hospitais deficientes

Associação criada há seis anos fez parceria com Ministério Público em apurações que resultaram em operação da polícia

CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM ROSANA

Com um orçamento anual de R$ 52 milhões, Rosana (762 km de São Paulo) é exemplo de como a corrupção influencia no dia-a-dia da população.
No município, que teve seis dos nove vereadores presos e está endividado em R$ 42 milhões, há postos de saúde sem remédios, hospital com parte do atendimento suspenso por falta de verba, entidades assistenciais fechadas por atraso no repasse de recursos e prédios públicos abandonados.
Crises financeira e política se misturam na cidade. No dia 6 de dezembro, 41 pessoas foram presas sob suspeita de desviar, em três anos, quase R$ 60 milhões da prefeitura. Entre elas estão seis vereadores, servidores públicos, empresários e o prefeito cassado Jurandir Pinheiro (sem partido), que governou a cidade até agosto.
Corrupção no município leva o nome de "parceria comercial". Pelo menos foi esse o termo usado pelo suposto chefe do esquema, o empresário Rogério Phelipe, ao propor pagamento de R$ 400 mil de propina para a atual prefeita, Aparecida de Oliveira (PMN), no cargo desde setembro. O diálogo foi registrado em vídeo.
A prefeita recusou a oferta e denunciou o suposto esquema de desvio de verbas repassadas ao município pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo) como compensação por danos ambientais causados pela obra da usina hidrelétrica Sérgio Motta, nos anos 90.
A prefeita disse não saber quando "colocará a casa em ordem". "A realidade é um verdadeiro caos. Não há previsão para pagar o 13º salário."
Uma amostra da crise na cidade foi a criação, há seis anos, da Associação pela Ética e Moralidade Administrativa. A entidade foi parceira do Ministério Público nas apurações que resultaram na operação policial do mês passado. "A corrupção estava corroendo as perspectivas e o desenvolvimento da cidade", disse Miguel dos Passos, presidente da associação.
Nas ruas, moradores descrevem a situação com palavras como "indignação" e "decepção". "A cidade sem emprego, com saúde precária, as crianças sem merenda nas escolas, e esse pessoal roubando", disse a dona-de-casa Maria Souza, 45.
Souza disse que um de seus filhos foi para Maringá (PR) em busca de emprego e por estar "desiludido com a cidade". Dados do IBGE mostram que Rosana perdeu 4.281 moradores de 2001 a 2007. A população atual é de 19.919 pessoas.
"Rosana, pela arrecadação que tem, era para ser uma cidade com nível de vida europeu. Isso se todo esse dinheiro desviado tivesse sido destinado para benefício da população", disse o promotor Marcelo Creste.

Outro lado
A Folha conseguiu localizar familiares de seis dos 41 presos da operação Mexilhão Dourado, mas os suspeitos de participação no desvio de quase R$ 60 milhões nos cofres da prefeitura não quiseram falar com a reportagem. Parentes, por telefone, diziam que, depois da prisão temporária, alguns viajaram ou não estavam em casa.
O prefeito cassado Jurandir Pinheiro se manifestou pela primeira vez aos jornalistas quando deixou a delegacia. "Não tenho nada a dizer agora", disse. Outros liberados que deixaram a delegacia não quiseram se manifestar. A reportagem não conseguiu contato com advogados dos suspeitos.


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