|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Corrupção deixa em crise cidade em SP
Município de Rosana contabiliza desvio de quase R$ 60 mi e dívida de R$ 42 mi; cidadãos sofrem com hospitais deficientes
Associação criada há seis
anos fez parceria com
Ministério Público em
apurações que resultaram
em operação da polícia
CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM ROSANA
Com um orçamento anual de
R$ 52 milhões, Rosana (762 km
de São Paulo) é exemplo de como a corrupção influencia no
dia-a-dia da população.
No município, que teve seis
dos nove vereadores presos e
está endividado em R$ 42 milhões, há postos de saúde sem
remédios, hospital com parte
do atendimento suspenso por
falta de verba, entidades assistenciais fechadas por atraso no
repasse de recursos e prédios
públicos abandonados.
Crises financeira e política se
misturam na cidade. No dia 6
de dezembro, 41 pessoas foram
presas sob suspeita de desviar,
em três anos, quase R$ 60 milhões da prefeitura. Entre elas
estão seis vereadores, servidores públicos, empresários e o
prefeito cassado Jurandir Pinheiro (sem partido), que governou a cidade até agosto.
Corrupção no município leva
o nome de "parceria comercial". Pelo menos foi esse o termo usado pelo suposto chefe do
esquema, o empresário Rogério Phelipe, ao propor pagamento de R$ 400 mil de propina para a atual prefeita, Aparecida de Oliveira (PMN), no cargo desde setembro. O diálogo
foi registrado em vídeo.
A prefeita recusou a oferta e
denunciou o suposto esquema
de desvio de verbas repassadas
ao município pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo) como compensação por danos ambientais causados pela
obra da usina hidrelétrica Sérgio Motta, nos anos 90.
A prefeita disse não saber
quando "colocará a casa em ordem". "A realidade é um verdadeiro caos. Não há previsão para pagar o 13º salário."
Uma amostra da crise na cidade foi a criação, há seis anos,
da Associação pela Ética e Moralidade Administrativa. A entidade foi parceira do Ministério Público nas apurações que
resultaram na operação policial
do mês passado. "A corrupção
estava corroendo as perspectivas e o desenvolvimento da cidade", disse Miguel dos Passos,
presidente da associação.
Nas ruas, moradores descrevem a situação com palavras
como "indignação" e "decepção". "A cidade sem emprego,
com saúde precária, as crianças
sem merenda nas escolas, e esse pessoal roubando", disse a
dona-de-casa Maria Souza, 45.
Souza disse que um de seus
filhos foi para Maringá (PR) em
busca de emprego e por estar
"desiludido com a cidade". Dados do IBGE mostram que Rosana perdeu 4.281 moradores
de 2001 a 2007. A população
atual é de 19.919 pessoas.
"Rosana, pela arrecadação
que tem, era para ser uma cidade com nível de vida europeu.
Isso se todo esse dinheiro desviado tivesse sido destinado para benefício da população", disse o promotor Marcelo Creste.
Outro lado
A Folha conseguiu localizar
familiares de seis dos 41 presos
da operação Mexilhão Dourado, mas os suspeitos de participação no desvio de quase R$ 60
milhões nos cofres da prefeitura não quiseram falar com a reportagem. Parentes, por telefone, diziam que, depois da prisão temporária, alguns viajaram ou não estavam em casa.
O prefeito cassado Jurandir
Pinheiro se manifestou pela
primeira vez aos jornalistas
quando deixou a delegacia.
"Não tenho nada a dizer agora",
disse. Outros liberados que deixaram a delegacia não quiseram se manifestar. A reportagem não conseguiu contato com advogados dos suspeitos.
Texto Anterior: Elio Gaspari: De Chatô@com para AdibJatene@org Próximo Texto: Pontal: Prisões na área são resultado de parceria entre polícia e Promotoria Índice
|