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AS DUAS POSSES
Presidente mantém otimismo de quatro anos atrás, mas admite problemas em balanço das realizações
Discurso empolga menos que o de 95
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Fernando Henrique Cardoso não
é orador de arrebatar platéias.
Mas o discurso da reposse foi
menos empolgante do que o de
quatro anos antes e a média de
seus pronunciamentos públicos.
Em 1995, FHC foi interrompido
por aplausos duas vezes por causa
do conteúdo do que dizia.
A primeira, quando prometeu ficar ao lado da maioria contra os
privilégios da minoria; depois, ao
concitar todos a realizar um mutirão nacional "para varrer do mapa
do Brasil a fome e a miséria".
Ontem, nenhuma frase de efeito
conseguiu tirar a platéia, no plenário da Câmara, do torpor.
A única ovação, curta, ocorreu
quando FHC reverenciou a memória de Luís Eduardo Magalhães.
O discurso de 1995 foi mais bem
estruturado do que o de ontem,
talvez por ser mais fácil falar apenas do que se pretende fazer no futuro, sem ter de prestar contas do
que foi feito e do que se deixou de
fazer.
O encadeamento lógico de 1995
era claro: FHC apresentava-se como "cidadão da esperança", fazia
breve análise dos sonhos de sua geração (justiça, liberdade e desenvolvimento), apresentava seus
projetos para as grandes áreas do
governo e terminava incitando o
povo à solidariedade nacional.
No de ontem, as idéias foram
apresentadas de maneira menos linear. FHC começou com uma retrospectiva genérica das realizações de seu primeiro mandato.
Deu ênfase, sem citá-los como
tais, aos cinco pontos de sua plataforma eleitoral de 1994 (educação,
saúde, alimentação, segurança e
emprego). Mas os dois últimos
itens foram mencionados muito
depois dos três primeiros.
FHC não retornou, a não ser no
final e quase de raspão, às suas ambições geracionais, embora tenha
mencionado o clima de liberdade
existente, dito que pretende "recolocar o país na trajetória do crescimento" e voltado a condenar a desigualdade social.
˛
Citações
Uma só personalidade histórica
apareceu nos dois discursos: o jornalista, político e diplomata pernambucano Joaquim Nabuco
(1849-1910), um dos líderes do movimento abolicionista.
O também jornalista, político e
diplomata Gilberto Amado (1887-1969), de Sergipe, ganhou uma citação de FHC ontem.
Em 1995, o presidente se referiu a
seu pai, Leônidas Cardoso, e a seus
antecessores Juscelino Kubitschek
e Itamar Franco.
Ontem, os personagens da vida
de FHC homenageados por ele foram os amigos mortos em 1998,
Luís Eduardo Magalhães e Sérgio
Motta, este com a distinção de ter
uma frase citada como "fecho de
ouro" do discurso.
O presidente se arriscou menos a
profecias ontem do que há quatro
anos, quando disse: "Hoje não há
especialista sério que preveja para
o Brasil outra coisa que não um
longo período de crescimento".
Mesmo assim, arriscou: "Tenho
a convicção de que o Brasil sairá
fortalecido da crise...O país terá
credibilidade ainda maior. E será
um mercado mais atraente para os
investimentos". O tom é menos
peremptório do que em 1995. Mas,
de qualquer modo, ainda otimista.
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Balanço
Nas suas previsões da primeira
posse, FHC dizia que "o Brasil tem
um lugar reservado entre os países
bem-sucedidos do planeta no próximo século" e "os únicos obstáculos importantes que enfrentaremos para ocupar o lugar vêm dos
nossos desequilíbrios internos".
Na avaliação do primeiro mandato que fez ontem, o presidente
atribuiu a maior parcela de responsabilidade pelos problemas da
economia brasileira ao "quadro
internacional adverso".
É verdade que, logo depois, diria
que "também é forçoso reconhecer
que temos as nossas vulnerabilidades, entre elas, o déficit público".
Mas as "crises internacionais de
graves proporções" foram as culpadas pelo que não se fez.
Mais do que em 1995, o FHC do
segundo mandato parece disposto
a dialogar com a oposição, que ganhou menções simpáticas ontem.
"Sei que temos divergências, em
vários campos. Mas sei também
que há temas e ações que estão acima das diferenças partidárias."
A gravidade da crise, não reconhecida explicitamente no discurso de ontem, obriga o presidente a
deixar aberto o caminho para um
governo de união nacional.
˛
Acertos e erros
A posse de 1995, de alguma forma, já marcava uma espécie de reeleição. O ministro da Fazenda de
Itamar Franco tinha recebido uma
promoção à Presidência.
Mas, de qualquer modo, FHC
podia falar do seu governo como
algo inteiramente novo, sem contas a prestar pelo passado.
Ontem, como reconheceu de início, havia acertos e erros do primeiro mandato a serem avaliados.
Como seria de se supor, FHC se
concentrou mais nos sucessos do
que nos fracassos dos quatro anos
passados ao projetar os próximos.
Mas não havia como disfarçar
um clima de frustração. "Não fui
eleito para ser o gerente da crise",
disse ele, num quase lamento.
O "objetivo número um" explicitado com ênfase há quatro anos
(justiça social) não será alcançado.
O que resta é impedir que as
grandes expectativas de FHC não
terminem como "os anos dourados de JK", concluídos com inflação e tensão, conforme a avaliação
do próprio FHC em 1995.
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