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Integrantes temem que problema de desnutrição não seja resolvido
Fome Zero é "fácil de burlar",
dizem membros de programa
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUARIBAS (PI)
Integrantes do Comitê de Segurança Alimentar de Guaribas (PI)
temem que o problema da desnutrição de crianças não seja resolvido com o programa Fome Zero.
Eles acreditam que é muito fácil
burlar a fiscalização.
"A pessoa pode comprar cigarro com o dinheiro do Fome Zero e
o dono da venda marcar arroz no
recibo. Muitos não vão comprar
leite", disse Lauro César de Abreu,
enfermeiro do Programa Saúde
da Família e integrante do comitê.
Cigarros, bebidas alcóolicas e refrigerantes são proibidos de ser
comprados com o benefício.
O mesmo medo se repete com
os outros benefícios federais.
Também por meio de um cartão
magnético, 319 famílias passarão
a receber, em fevereiro, R$ 15 do
Bolsa Alimentação, programa
destinado a ajudar crianças de até
seis anos e gestantes.
O Bolsa Alimentação substitui
um outro programa, o ICCN (Incentivo ao Combate às Carências
Nutricionais), em que, no lugar de
dinheiro, o governo federal distribuía leite em pó a algumas famílias com casos de crianças desnutridas. Eram 15 pacotes de leite integral por mês, cada um com 200
gramas, para 72 crianças.
"Se com o leite não conseguimos reduzir muito a desnutrição,
com o dinheiro é que isso não vai
acontecer, porque as pessoas não
vão comprar leite", disse Abreu.
Mesmo sem muitas informações sobre o Fome Zero, as famílias dizem que irão comprar comida com os R$ 50 do benefício.
A maioria, porém, não sabe o que
é permitido e o que é proibido adquirir. Também desconhece a
obrigatoriedade de recibo para
comprovar as compras.
"Mas como é essa história de recibo?", perguntou Gilvanda Alves
da Silva, 34, que nem mesmo sabia da existência de recibos antes
da reportagem de a Agência Folha
contar a ela. São quatro mercearias na área central da cidade. O
dono de uma delas, Wagnon Correia, afirmou que já encomendou
recibos. "Tem que se acostumar a
passar. Quem não tiver os recibos
vai deixar de vender", disse ele.
Cadastro
Ninguém tem certeza de que está inscrito no programa nem sabe
quando irá receber a primeira
parcela. "Veio a agente de saúde,
mediu a casa e só, não disse nada
de Fome Zero", disse Gilvanda.
O critério para o cadastro das famílias foi a renda per capita, que
tinha de ser de até R$ 90. Famílias
em que há um aposentado, que
recebe R$ 200, foram excluídas, a
não ser as muito populosas.
As casas de Guaribas são muito
parecidas: feitas com tijolos de
barro, com poucos móveis, uma
televisão. A não ser os donos dos
poucos comércios, o restante da
população vive da agricultura de
subsistência e dos benefícios federais, como o Bolsa-Escola.
Os agentes de saúde, que mensalmente percorrem as casas do
município, foram os encarregados de avaliar as necessidades de
cada família e de incluí-las ou não
no programa.
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