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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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Integrantes temem que problema de desnutrição não seja resolvido

Fome Zero é "fácil de burlar", dizem membros de programa

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUARIBAS (PI)

Integrantes do Comitê de Segurança Alimentar de Guaribas (PI) temem que o problema da desnutrição de crianças não seja resolvido com o programa Fome Zero. Eles acreditam que é muito fácil burlar a fiscalização.
"A pessoa pode comprar cigarro com o dinheiro do Fome Zero e o dono da venda marcar arroz no recibo. Muitos não vão comprar leite", disse Lauro César de Abreu, enfermeiro do Programa Saúde da Família e integrante do comitê. Cigarros, bebidas alcóolicas e refrigerantes são proibidos de ser comprados com o benefício.
O mesmo medo se repete com os outros benefícios federais. Também por meio de um cartão magnético, 319 famílias passarão a receber, em fevereiro, R$ 15 do Bolsa Alimentação, programa destinado a ajudar crianças de até seis anos e gestantes.
O Bolsa Alimentação substitui um outro programa, o ICCN (Incentivo ao Combate às Carências Nutricionais), em que, no lugar de dinheiro, o governo federal distribuía leite em pó a algumas famílias com casos de crianças desnutridas. Eram 15 pacotes de leite integral por mês, cada um com 200 gramas, para 72 crianças.
"Se com o leite não conseguimos reduzir muito a desnutrição, com o dinheiro é que isso não vai acontecer, porque as pessoas não vão comprar leite", disse Abreu.
Mesmo sem muitas informações sobre o Fome Zero, as famílias dizem que irão comprar comida com os R$ 50 do benefício. A maioria, porém, não sabe o que é permitido e o que é proibido adquirir. Também desconhece a obrigatoriedade de recibo para comprovar as compras.
"Mas como é essa história de recibo?", perguntou Gilvanda Alves da Silva, 34, que nem mesmo sabia da existência de recibos antes da reportagem de a Agência Folha contar a ela. São quatro mercearias na área central da cidade. O dono de uma delas, Wagnon Correia, afirmou que já encomendou recibos. "Tem que se acostumar a passar. Quem não tiver os recibos vai deixar de vender", disse ele.

Cadastro
Ninguém tem certeza de que está inscrito no programa nem sabe quando irá receber a primeira parcela. "Veio a agente de saúde, mediu a casa e só, não disse nada de Fome Zero", disse Gilvanda.
O critério para o cadastro das famílias foi a renda per capita, que tinha de ser de até R$ 90. Famílias em que há um aposentado, que recebe R$ 200, foram excluídas, a não ser as muito populosas.
As casas de Guaribas são muito parecidas: feitas com tijolos de barro, com poucos móveis, uma televisão. A não ser os donos dos poucos comércios, o restante da população vive da agricultura de subsistência e dos benefícios federais, como o Bolsa-Escola.
Os agentes de saúde, que mensalmente percorrem as casas do município, foram os encarregados de avaliar as necessidades de cada família e de incluí-las ou não no programa.



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