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BRASIL PROFUNDO
Assassinatos semelhantes serão apurados e pistoleiros, rastreados
PF amplia investigação de morte de fiscais para o Pará
IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A UNAÍ (MG)
As investigações sobre a morte
de três fiscais do Trabalho em
Unaí (MG) serão ampliadas para
o Pará, onde muitos fazendeiros
da cidade mineira também possuem terras. De início, a Polícia
Federal vai analisar assassinatos
ocorridos de maneira semelhante
e rastrear pistoleiros paraenses.
Devido à comprovação de trabalho escravo em algumas fazendas do Pará e a ocorrência de chacinas na região, o governo criou
um grupo móvel de fiscalização
em que auditores do Ministério
do Trabalho atuam sob proteção
de agentes da PF. Em Unaí, a fiscalização era de rotina.
O prefeito de Unaí, José Braz da
Silva (PTB), é dono de terras no
Pará e possui uma condenação
por uso de trabalhadores em condição análoga à escravidão. Não
há nenhuma acusação contra ele
no caso da morte dos fiscais. Em
Unaí, a única propriedade em nome do prefeito é uma chácara de
51,2 hectares, onde ele mora.
Seguindo outra vertente, a força-tarefa criada pelo governo para
elucidar o caso começa a tomar o
depoimento de fazendeiros de
Unaí cujas propriedades receberam a visita dos auditores assassinados nos últimos meses. Membros da força-tarefa já estão infiltrados em fazendas da região.
Na quarta, os fiscais do trabalho
Nelson José da Silva, João Batista
Soares Lage e Erastótenes de Almeida Gonçalves foram assassinados com tiros na cabeça com
seu motorista Ailton Pereira de
Oliveira, quando iniciavam a rota
de visitas a fazendas.
Entre os futuros depoentes estão Nelson Schneider e os irmãos
Mânica, Norberto, Antério, Celso
e Luis Antonio, os maiores proprietários rurais de Unaí. Segundo relatório escrito em março do
ano passado por Nelson José da
Silva, Norberto Mânica teria
ameaçado "fiscais do trabalho
que conversasse fiado em sua fazenda" com um "tiro na testa".
Segundo o delegado federal Alfredo José de Souza Junqueira,
que preside o inquérito, o fato de
os fazendeiros serem averiguados
não significa que eles sejam suspeitos. "Ouviremos todas as pessoas que têm alguma relação com
as vítimas, familiares, fazendeiros. Não descartamos nenhuma
linha de investigação."
Ontem, o primeiro relatório de
atividades da PF foi encaminhado
para o diretor-geral, Paulo Lacerda. Apesar da prioridade dada ao
caso pelo governo, os policiais
ainda têm dificuldades para receber as diárias e o dinheiro para o
combustível -óleo diesel.
Os investigadores passaram o
fim de semana cruzando dados
dos relatórios dos fiscais encontrados no veículo em que foram
mortos com as auditorias das
subdelegacias de Unaí e Paracatu.
Todos os documentos estão sob
sigilo, em posse de uma equipe da
PF. No sábado, a subdelegada do
Trabalho Dália Ulhôa, que recebe
proteção da Polícia Militar mineira, prestou depoimento.
A Folha procurou o assessor de
imprensa do prefeito Braz da Silva, mas ele não atendeu as ligações feitas para seu telefone celular desde a última quinta-feira.
A reportagem também deixou
recados para Norberto Mânica na
fazenda Palmeira, mas não houve
resposta. O fazendeiro Nelson
Schneider não foi localizado.
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