|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS
Comissão diz pretender votar quebra de sigilos de amigo de Lula após audiência com Jobim
STF impõe nova derrota a CPI, que suspende votação
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal, concedeu ontem nova liminar contrária
à CPI dos Bingos, o que levou a
comissão a recuar e não votar o
requerimento para quebrar novamente os sigilos bancário, fiscal e
telefônico do presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas),
Paulo Okamotto, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente do STF já havia
suspendido, na sexta-feira passada, a quebra dos sigilos de Okamotto, medida que havia sido
aprovada pela CPI dos Bingos no
último dia 18.
Ontem pela manhã, Jobim comunicou à CPI que na terça-feira
também impediu -pela segunda
vez no espaço de 12 dias- a quebra dos sigilos do empresário Roberto Carlos da Silva Kurzweil,
dono do Omega blindado onde
teriam sido transportados dólares
vindos de Cuba para caixa dois da
campanha presidencial petista.
"Foi o último ato de Jobim [no
recesso judiciário, que acabou anteontem]. Não tinha pressa, ele
poderia deixar sortear o processo
[entre os ministros do STF]", afirmou o presidente da CPI, senador
Efraim Morais (PFL-PB). Jobim
ontem fez discurso refutando a
acusação de atuação política.
Okamotto -tesoureiro da
campanha de Lula em 1989- diz
ter pago do próprio bolso uma dívida de R$ 29,4 mil que o presidente tinha com o PT relativa a
gastos pessoais anteriores a 2003.
Quitada entre dezembro de
2003 e março de 2004, a fatura era
referente a gastos, bancados por
recursos públicos do Fundo Partidário, com viagens internacionais
de Lula antes de ele ser eleito presidente da República.
A CPI investiga se a dívida foi
paga por Okamotto com o caixa
dois abastecido pelo publicitário
Marcos Valério de Souza.
Depois de receber a decisão do
STF sobre Kurzweil, o presidente
da CPI decidiu pedir uma audiência com Jobim, marcada para as
9h da próxima terça-feira, deixando de votar a quebra dos sigilos de
Okamotto.
"Não votamos porque não havia clima. É preferível conversar
antes com o ministro [Jobim]",
afirmou Efraim. Nos bastidores, o
senador diz que a comissão não
quis "afrontar" o STF.
A base governista tem outra
versão. "Eu acho que foi uma
questão aritmética. Se eles tivessem a maioria, teriam feito a votação", afirmou a senadora Ideli
Salvatti (PT-SC).
Se tivesse havido votação ontem, a oposição poderia perder de
7 a 6, devido a uma articulação entre o PMDB e PT.
Falha da CPI
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do pedido de quebra
de sigilos de Roberto Kurzweil,
argumentou que o advogado Rogério Buratti -ex-assessor do
ministro Antonio Palocci (Fazenda) em Ribeirão Preto (SP)-
afirmou à CPI que empresários
angolanos do ramo de bingos deram R$ 1 milhão para caixa dois
da campanha eleitoral de Lula à
Presidência.
O negócio teria sido intermediado por Kurzweil, com participação de Palocci. O ministro nega. O empresário afirma que não
tem ligação com bingos.
Em 19 de janeiro, Nelson Jobim
suspendeu o primeiro requerimento de Álvaro Dias com a quebra dos sigilos, pois não tinha recebido informações pedidas à CPI
sobre o caso.
Efraim admitiu ontem que foi
uma falha. "Um contínuo deixou
o ofício [do STF] na mesa [da secretária da CPI] e não nos comunicaram para respondermos",
afirmou o senador. Foram dois
pedidos de informações sem resposta, no dia 29 de dezembro e no
dia 6 de janeiro.
Na semana passada, Álvaro
Dias apresentou novo requerimento, também aprovado na CPI,
para quebra dos sigilos de Kurzweil. Anteontem, Jobim suspendeu a medida "por [ela] ter os
mesmos subsídios da fundamentação (...) anterior".
Texto Anterior: Janio de Freitas: Telhados de vidro Próximo Texto: ONG ligada ao PT não deve ter verba do Sebrae, diz TCU Índice
|